O projecto sindical não é a-ideológico. Há sindicatos que têm uma concepção reformista e sindicatos que têm, geneticamente, uma cultura revolucionária. Os sindicatos da Fenprof têm uma cultura revolucionária, isto é, são herdeiras de uma ideologia que não acreditava na transformação da sociedade através da via reformista, como é próprio do socialismo utópico e da social democracia, mas na revolução como forma de mudar a sociedade. Quando os sindicatos pedem a demissão dos governos sucessivamente eleitos, estão a gritar palavras de ordem herdeira dessa cultur revolucinária. Acontece que os portugueses, incluindo a classe trabalhadora, na sua esmagadora maioria, vota em partidos ideoligicamente reformistas, mas não confia nos sindicatos com a mesma ideologia, e confia em sindicatos filiados numa cultura revolucionária. Por isso o PCP tem uma influência social que vai muito para além da sua representatividade política. Isto não significa que as pessoas se deixem manipular: significa que os sindicatos conotados com o PCP merecem a confiança dos trabalhadores e que o descontentamento existe. Ou seja, sem a liderança sindical e sem o descontentamento laboral não era possível a a marcha da indignação de hoje em Lisboa dos professores.
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