domingo, 15 de novembro de 2009

Prostitutos



Francisco Moita Flores, Professor Universitário

Talvez nunca se tenha vivido, desde o 25 de Abril, uma atitude de tanto sarcasmo, ironia e desconfiança.


Instalou-se, informalmente, na comunicação social portuguesa um programa de justicialismo cujos resultados estão à vista.

Talvez nunca se tenha vivido, desde o 25 de Abril de 1974, uma atitude de tanto sarcasmo, ironia e desconfiança como aquele que os senhores do poder conseguiram montar contra o sistema judiciário.

Por mais esforços que centenas de polícias, de procuradores e de juízes possam fazer para entregar dignidade à sua profissão, a traficância de informação entre gente que vive no meio judiciário, na comunicação social e na política tornou-se num verdadeiro prostíbulo.

Uma realidade sórdida onde os diferentes actores políticos procuram contaminar a Justiça.

Um mundo sinistro de personagens sinistras do sistema judiciário que libertam informações, ou meias informações, verdades, ou meias verdades, condicionando a vida pública e política.

Por outro lado, a comunicação social mistura, tempera, agita, coloca em lume brando, notícias apocalípticas que, em lume brando, desfazem vidas, destroem a honra e o carácter dos visados.

O segredo de justiça já não passa de um arroto.

A falta de decisão judicial em vários processos arrasta-se e arrasta Portugal para a lama.

A pretensa moralidade de comentadores comprometidos ou avençados tempera o resto.

Quando o País se torna governável à luz do boato ou da notícia do dia, deixou de haver Governo, deixou de haver Oposição, deixou de haver política na sua maior nobreza para emergirem graves personalidades, botando discurso beato sobre a intriga, desleixados das suas obrigações.

Governe quem deve governar. Faça Oposição quem a deve fazer. Investigue quem tem competência para investigar.

Mas, sobretudo, é preciso que ganhem vergonha na cara e cumpram as suas obrigações para com o País.

É para isso que lhes pagamos. E, já agora, que a justiça seja séria e julgue, em vez de mandar julgar na praça pública.

A mediocridade já foi longe demais, cheira a podre e a indignidade.

Não é com esta prostituição moral que o País sairá da crise.

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