domingo, 22 de novembro de 2009
A agonia de um partido
Por Vasco Pulido Valente
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Enquanto o país brama contra a justiça e a corrupção (os jornais de ontem só quase falavam disso), no centro do regime, o PSD apodrece. A derrota eleitoral e a permanência de Ferreira Leite não contribuíram, como era de prever, para uma transição regular e ordeira. Pelo contrário. A intriga ferve por toda a parte: nas distritais, no Parlamento, na direcção. Personagens completamente desconhecidas vieram à superfície na sopa turva de uma guerra civil interminável, enquanto diariamente se fazem e desfazem alianças sem programa, nem propósito e no Instituto Sá Carneiro (pobre Sá Carneiro) algumas criaturas de outro mundo se preparam para descobrir o qual é afinal a verdadeira "identidade" do partido. Não se consegue imaginar uma situação mais catastrófica.
Pior ainda, além das grandes divisões do passado (entre a "social-democracia" da elite e o populismo das "bases", por exemplo), apareceram agora novas divisões. Primeiro, a divisão entre a tendência para a "estabilidade" e um temporário compromisso com o PS, isto é, para o "bloco central" e a tendência para uma oposição de princípio, que paralise rapidamente o Governo e o torne inviável. Segundo, a divisão entre os que preferem dar prioridade à política económica de Sócrates (se, de facto, ela existe) e os que preferem um ataque sistemático à corrupção, supondo talvez que o PSD não será afectado. E, terceiro, a divisão entre os que se propõem ressuscitar as "regiões" (com PS, claro) e os que sensatamente têm medo de consumar o caos. No meio desta miséria, há também quem recomende, sem se rir, o misterioso exercício de "federar ideias".
O único candidato declarado a encabeçar a loucura vigente é Pedro Passos Coelho, um homem bem intencionado e hábil, mas manifestamente imaturo. Marcelo continua a pairar, esperando o que por aí se chama uma "vaga de fundo" ou simplesmente sem estômago para o que se exigiria dele. E Aguiar-Branco, apesar da ambição que lhe suspeitam, não passa, em teoria, de um putativo candidato. No fundo, o PSD anda à procura de um chefe e não encontra nenhum. E, não encontrando nenhum, acabará fatalmente com um chefe de acaso e de recurso, que presidirá, inerme, à sua desintegração final. A República, como incessantemente se repete, depende dos partidos. Com o PSD, já não pode contar.
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