domingo, 22 de junho de 2008

A RDP LAVA MAIS BRANCO



A entrevista da titular do Turismo e Transportes na RDP sobre a questão das viagens é uma peça de antologia que deve ser dada nas aulas de jornalismo como paradigma do que não deve ser o jornalismo. E daqui se parte para uma questão mais grave e mais geral - não há democracia numa sociedade aberta sem uma comunicação social independente e crítica, objectivamente crítica, quer para o poder quer para as oposições. E a verdade é que tanto uns como outros, poder e oposição, dão-se ao luxo de cometer os maiores erros políticos, sem que, com honrosas excepões, haja uma crítica isenta, baseada em princípios de análise, e não na subjectivação das questões, do tipo "o que é que tem a dizer àquelas pessoas que pedem a sua demissão", como se a demissão de um membro de um governo fosse uma questão pessoal e não uma questão política. Discute-se muito o socialismo em termos de propriedade dos meios de produção, em termos de vínculo jurídico dos bens - eu entendo, sem descurar a questão da posse, que se pode revelar decisiva em determinados momentos, que o socialismo se deve determinar em função do princípio democrático da função social - presta ou não um serviço à sociedade? Esta entrevista à Senhora Secretária é um exemplo do que é um incumprimento total de um serviço a uma sociedade aberta e democrática que é a sociedade europeia na qual nos integramos. E, contudo, a RDP é pública. Eis um exemplo de que o vínculo jurídico não basta para cumprir a função social que lhe está subjacente. E lanço uma questão aos teóricos ocmo exemplo do que venho expendendo. A Auto-Europa cumpre a sua função social perante o mercado: produz o que é necessário; satisfaz os direitos dos seus trabalhadores; vai ao encontro das necessidades dos consumidores. Não será ela, a Auto-Europa, um bom exemplo de uma empresa que serve os princípios democráticos de uma sociedade aberta, sem que o Estado tenha de intervir. Ou seja, no caso da RDP (Madeira) o exemplo é o inverso: o vínculo jurídico, porque apropriado indevidamente por quem não devia, impede que ela cumpra o seu papel na sociedade aberta e colocou-a ao serviço de uma facção e não da sociedade no seu todo. É por isso que já há quem defende que a RTP e a RDP deviam ser privatizadas. De facto, com jornalismo deste jaez... No fundo, no fundo, está certo: se o Governo do PSD-M não governa, também não tem responsabilidade política de nada.

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