Anuncia-se mais uma Congresso do PS-Madeira. No passado, os congressos têm servido apenas para conquistar o poder interno, sem uma visão estratégica que implique a refundação da Democracia e da Autonomia, como pontos fulcrais para as transformações sociais e económicas de que a Região necessita.
Essa cegueira estratégica que se esgota na luta pelos poucos lugares que o partido tem disponíveis nas assembleias legislativas, nacional e regional, eventualmente europeia, nas vereações e assembleias municipais, nas freguesias, tem depauperado o Partido Socialista, esgotado as suas energias, que deviam estar ao serviço das populações e dos seus anseios e problemas. O resultado desta disputa, em que são frustradas legítimas expectativas dos que ainda se movem por ideais, tem tido duas consequências entre si complementares: a multiplicação do voto de protesto e o abaixamento dos resultados eleitorais do PS. As eleições autárquicas de domingo aí estão para o demonstrar.
Dessas eleições resultam duas leituras: uma conjuntural, que mostra um Partido Socialista cada vez mais exangue, em consequência das lutas fratricidas, dos golpes baixos nas estruturas de poder interno, cujas consequências, a médio prazo, são visíveis em novas realidades políticas que disputam externamente ao PS o eleitorado, depois de os seus protagonistas agora outros terem sido removidos por processos internos pouco transparentes; uma outra, muito mais importante, e que deve superar a primeira, resolvendo-a politicamente é estrutural e deve ser a base de uma projecto estratégico que tenha e seja em si o cerne da refundação da Democracia na Região.
Essa leitura estrutural mostra que, na fortaleza do Partido do Poder, há fissuras, que devem ser analisadas atentamente. O partido dos cinquenta e muitos, dos sessenta e tais, e até dos setentas, em alguns concelhos decisivos, cai abruptamente abaixo dos cinquenta por cento dos sufrágios, caso de Câmara de Lobos, e até fica em minoria no executivo, caso de Santa Cruz. Com resultados de 55% e de 59%, que fará com isto a Oposição e, sobretudo, o PS? Enredar-se-á na lógica dos grupos ou reflectirá profundamente, a partir da realidade social e política madeirense?
Podem o PND, o PCP, o BE e até o MPT, ou o grupo de independentes ficarem legitimamente jubilosos com o seu crescimento, mas é bom que todos eles, e com eles o PS, reflictam que o seu reforço se fez essencialmente à custa de transferência do eleitorado que normalmente constitui a base do PS. Não se lhes pede que sintam o que só o PS deve sentir, isto é, a descida deste partido - o que se lhes pede é que contribuam, juntos com o PS, para uma reflexão que conduza a uma alteração da situação regional tal como ela se nos apresenta. A descida do PS é um problema exclusivo dele, mas a manutenção do poder pelo PSD é um problema que diz respeito a todos. Para isso, são necessárias duas coisas:
1. Que todos assumam que o PSD é, por força das circunstâncias, o obstáculo a uma afirmação de uma alternativa democrática. Ou assumam que não é!
2. Que o PS assuma o papel que lhe cabe e esse papel quem determina são os eleitores em função do que os socialistas tiverem para lhes propor como projecto e como alternativa. O PS não pode partir do princípio de que é o protagonista por direito indeclinável, se se assumir como mero espectador dos acontecimentos e figurante nesta peça de teatro de mau gosto em que se tem transformado a política regional.
Estas são as questões essenciais que quero ver no debate para o Congresso e não outro tipo de questões que não me interessam, que não interessam à política e que, como se tem visto nas eleições deste ano, cada vez menos interessam aos eleitores madeirenses.
Tenho, portanto, já claramente definido a minha posição para o Congresso. Integrarei uma candidatura que tem por base estes princípios.
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