quarta-feira, 27 de outubro de 2010
A «desgovernação socialista»: 2010, em plena crise, Sócrates, 8,3%; Em 1993, Cavaco, sem crise, 8,1%
Não acredita? Veja aqui.
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défices europeus
Cinco défices da Zona Euro em 2009
Irlanda-14,3(em 2010 será de 32% pelo resgate do Anglo Iris Bank,Portugal será 7,3 %)
Grécia - 13,6
Reino Unido - 11,5
Espanha - 11,2
Portugal - 9,2
Nota: os défices da Irlanda, da Grécia, do Reino Unido e da Espanha são culpa do Sócrates, alem do de Portugal, claro!
Grécia - 13,6
Reino Unido - 11,5
Espanha - 11,2
Portugal - 9,2
Nota: os défices da Irlanda, da Grécia, do Reino Unido e da Espanha são culpa do Sócrates, alem do de Portugal, claro!
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défices europeus
Ao Contrário do PSD-M, que quer cortar os salários dos funcionários públicos, o PSD-Açores, segue o PS-M, e não quer medidas de austeridade nos Açores
"a maioria socialista na Assembleia Legislativa dos Açores rejeitou duas propostas, apresentadas pelo PCP e PSD, que defendiam que as medidas de austeridade anunciadas pelo Governo da República não fossem aplicadas no arquipélago"..
Não acredita nessa Posição do PSD em não querer aplicar as medidas de austeridade nos Açores? Leia quem é insuspeito na matéria.
Não acredita nessa Posição do PSD em não querer aplicar as medidas de austeridade nos Açores? Leia quem é insuspeito na matéria.
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PSD não quer medidas de austeridade nos Açores
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Afinal, já não é só o PS-M que usar a Autonomia para defender o Estado Social: PCP-Açores quer que a Autonomia sirva para defender os açorianos!
O PCP/Açores vai propor no parlamento regional que "as medidas de austeridade recentemente anunciadas pelo primeiro-ministro sejam rejeitadas" na região, alegando que terão "um impacto mais agravado" nas ilhas, devido às "fragilidades e características específicas".
(...)
Por isso, os comunistas sustentam ser "um dever imperativo dos órgãos de governo próprio da Região a tomada de posição em defesa do quadro autonómico e do direito dos açorianos ao desenvolvimento", propondo a todas as forças representadas no parlamento regional que "assumam com firmeza uma posição de rejeição das medidas".
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A autonomia ao serviço do povo
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
O CDS, o Representante da República e o Eu Olívia Patroa e o Eu Olívia Costureira
O CDS na Madeira, dando uma de autonomista, quer a extinção do Representante; mas o CDS de lá, numa de Centralista, não direi colonialista, quer até subir o Representante até ao Conselho de Estado, passando a Representante do Presidente da República. Caso assim já não se via desde a Olívia Patroa e a Olívira Patroa de Ivone Silva.
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CDS Olívia Patroa
domingo, 24 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
PS:M sobre a revisão constitucional: "Urgência democrática" mantém Representante
Serrão justifica propostas de revisão constitucional.
. O contexto de "urgência democrática" em que vive a Região Autónoma da Madeira, é a razão apontada por Jacinto Serrão para defender a manutenção, na Constituição, do cargo de Representante da República. Esta foi uma das posições manifestadas pelo líder do PS-Madeira na reunião da comissão política nacional do partido que abordou vários aspecto da revisão constitucional.
Serrão, como já afirmara ao DIÁRIO, defende que, por agora, se mantenha o cargo de Representante e até prefere que seja Monteiro Diniz a continuar no Palácio de São Lourenço.
Na comissão política do Partido Socialista denunciou a existência, na Madeira, daquilo que classifica como um "regime de 'apartheid' e de segregação política, de sonegação dos direitos de cidadania, incluindo os direitos sociais, dos cidadãos e organizações, incluindo os partidos políticos da oposição".
Face à "urgência democrática" em contribuir para a alteração do regime político, o líder do PS-M propõe que se mantenha o cargo de Representante da República.
"Não fora o comportamento anti-democrático do PSD, em sede dos órgãos de governo próprio e o PS defenderia, já, a extinção do cargo de Representante", afirmou.
Embora mantenha o cargo de Representante, Jacinto Serrão pretende que, na revisão constitucional, deverá ser alterada a forma de promulgação das leis regionais. O líder do PS-M defende que deverá passar a ser o Presidente da República a assinar a legislação regional e a suscitar a fiscalização do Tribunal Constitucional.
Esta alteração permitiria, no futuro, extinguir o cargo de Representante da República.
Revisão do Estatuto
Na reunião da comissão política nacional do PS, Serrão também abordou a questão da necessidade de revisão do Estatuto Político-Administrativo da Madeira, do Regimento da Assembleia Legislativa e regulamentação dos referendos regionais.
O líder do PS-M terminou apelando ao partido para estar atento à situação da Madeira.
"As condições do exercício da democracia na Madeira devem ser ponderadas, quando for negociada a revisão constitucional com o PSD em sede de parlamentar nacional", afirmou.
. O contexto de "urgência democrática" em que vive a Região Autónoma da Madeira, é a razão apontada por Jacinto Serrão para defender a manutenção, na Constituição, do cargo de Representante da República. Esta foi uma das posições manifestadas pelo líder do PS-Madeira na reunião da comissão política nacional do partido que abordou vários aspecto da revisão constitucional.
Serrão, como já afirmara ao DIÁRIO, defende que, por agora, se mantenha o cargo de Representante e até prefere que seja Monteiro Diniz a continuar no Palácio de São Lourenço.
Na comissão política do Partido Socialista denunciou a existência, na Madeira, daquilo que classifica como um "regime de 'apartheid' e de segregação política, de sonegação dos direitos de cidadania, incluindo os direitos sociais, dos cidadãos e organizações, incluindo os partidos políticos da oposição".
Face à "urgência democrática" em contribuir para a alteração do regime político, o líder do PS-M propõe que se mantenha o cargo de Representante da República.
"Não fora o comportamento anti-democrático do PSD, em sede dos órgãos de governo próprio e o PS defenderia, já, a extinção do cargo de Representante", afirmou.
Embora mantenha o cargo de Representante, Jacinto Serrão pretende que, na revisão constitucional, deverá ser alterada a forma de promulgação das leis regionais. O líder do PS-M defende que deverá passar a ser o Presidente da República a assinar a legislação regional e a suscitar a fiscalização do Tribunal Constitucional.
Esta alteração permitiria, no futuro, extinguir o cargo de Representante da República.
Revisão do Estatuto
Na reunião da comissão política nacional do PS, Serrão também abordou a questão da necessidade de revisão do Estatuto Político-Administrativo da Madeira, do Regimento da Assembleia Legislativa e regulamentação dos referendos regionais.
O líder do PS-M terminou apelando ao partido para estar atento à situação da Madeira.
"As condições do exercício da democracia na Madeira devem ser ponderadas, quando for negociada a revisão constitucional com o PSD em sede de parlamentar nacional", afirmou.
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Revisão da Constituição e do Estatuto
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Como resolver a crise: circulação da moeda
Numa cidade, os habitantes, endividados, estão vivendo às custas de crédito.
Por sorte chega um gringo e entra no único hotel.
O gringo saca uma nota de €100,00, põe no balcão e pede para ver um quarto.
Enquanto o gringo vê o quarto, o gerente do hotel sai correndo com a nota de €100,00 e vai até o açougue pagar suas dívidas com o açougueiro.
O açougueiro, pega a nota e vai até um criador de suínos a quem deve e paga tudo.
O criador, por sua vez, pega também a nota e corre ao veterinário para liquidar sua dívida.
O veterinário, com a nota de €100,00 em mãos, vai até à zona pagar o que devia a uma prostituta (em tempos de crise essa classe também trabalha a crédito).
A prostituta sai com o dinheiro em direção ao hotel, lugar onde levava seus clientes; e como ultimamente não havia pago pelas acomodações, paga a conta de €100,00.
Nesse momento, o gringo chega novamente ao balcão, pede sua nota de €100,00 de volta, agradece e diz não ser o que esperava e sai do hotel e da cidade.
Ninguém ganhou um vintém, porém agora todos saldaram suas dívidas e começam a ver o futuro com confiança !
Moral da história:
Quando o dinheiro circula, não há crise !!!
Por sorte chega um gringo e entra no único hotel.
O gringo saca uma nota de €100,00, põe no balcão e pede para ver um quarto.
Enquanto o gringo vê o quarto, o gerente do hotel sai correndo com a nota de €100,00 e vai até o açougue pagar suas dívidas com o açougueiro.
O açougueiro, pega a nota e vai até um criador de suínos a quem deve e paga tudo.
O criador, por sua vez, pega também a nota e corre ao veterinário para liquidar sua dívida.
O veterinário, com a nota de €100,00 em mãos, vai até à zona pagar o que devia a uma prostituta (em tempos de crise essa classe também trabalha a crédito).
A prostituta sai com o dinheiro em direção ao hotel, lugar onde levava seus clientes; e como ultimamente não havia pago pelas acomodações, paga a conta de €100,00.
Nesse momento, o gringo chega novamente ao balcão, pede sua nota de €100,00 de volta, agradece e diz não ser o que esperava e sai do hotel e da cidade.
Ninguém ganhou um vintém, porém agora todos saldaram suas dívidas e começam a ver o futuro com confiança !
Moral da história:
Quando o dinheiro circula, não há crise !!!
Para que serve o Banco Central Europeu?
O Banco Central Europeu devia intervir no mercado da dívida soberana, mas, pelo contrário, empresta aos bancos comerciais a 1% para estes emprestarem aos Bancos a 5, 6, e 7%. A coisa é tão escandalosa, que levanta suspeitas.
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Abaixo a europa capitalista
domingo, 17 de outubro de 2010
Bola de Neve
Abdicamos da soberania a favor da Europa, abdicamos da emissão da moeda a favor da Europa, abdicamos de produzir a favor da Europa, porque teríamos mais soberania partilhada, uma moeda forte, uma divisão internacional do trabalho justa. Ficamos sem soberania, sem moeda e sem produção. A Europa não existe, a soberania europeia é uma miragem, a Comissão Europeia é uma fantasmagoria, o Presidente do Conselho Europeu não sei quem é, não sei mesmo, o "Ministro dos Negócios Estrangeiros" europeu idem, idem, só conheço as agências de rating e só elas é que eu tenho de conhecer, porque elas me vão ao bolso, porque elas estão feitas com os bancos, porque elas aumentam os juros porque dizem que os estados podem não pagar. Os estados fazem-lhes a vontade e quanto mais fizerem mais elas pedem. Os cortes não chegam, nunca chegam! Até que os países, as nações e os povos digam basta!
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abaixo o capitalismo
"metro, boulot, caveau", metro, trabalho, sepultura: é este o admirável mundo novo capitalista. Depois, a utopia socialista é que estava errada!
"metro, boulot, caveau" [metro, trabalho, sepultura], afinal, para serviram as máquinas, a informatização, a robotização, não era para uma sociedade de lazer, em que o trabalho seria reduzido, e o tempo para a cultura, o lazer, a natureza seria imenso? Pois, só que tudo foi posto ao serviço de uma sociedade de gestores que deram cabo no casino da capitalismo especulativo alavancado em produtos falsos, e as máquinas foram, afinal, os homens. Isto não pode acabar assim, mas tudo isto vai sim acabar, porque a História não chegou ao fim.
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abaixo o capitalismo
Olha para que serve o dinheiro tirado aos salários de professores, médicos, enfermeiros, polícias e todos os Funcionários Públicos
É este o regabofe por toda a Europa: roubam nos salários dos trabalhadores em nome da iniciativa privada, mas a «iniciativa privada» vive da teta do Estado. E aí já não há estado a mais. Depois berra-se que o Estado Social não é sustentável, claro, para encher a pança destes parasitas!
1,351 milhões em contratos para a Sérvulo Correia
A Administração da Região Hidrográfica do Norte adjudicou, em 2009, quatro contratos de consultoria jurídica à sociedade de advogados Sérvulo Correia e Associados, no valor de 1,351 milhões de euros. Os números estão patentes no Portal dos Contratos Públicos (www.base.gov.pt) e foram ontem citados por Francisco Louçã como exemplo do despesismo do Estado.
Os contratos foram celebrados em Setembro de 2009: no valor de 330 mil euros, relativo ao sistema de apoio à decisão de licenciamento das utilizações privativas dos recursos hídricos na região; no valor de 340 mil euros, relativo à definição do modelo legal e institucional do Plano de Gestão dos Recursos Hídricos (PGRH) do Norte; no valor de 338 600 euros, relativo ao sistema de gestão e recursos humanos do processo de implementação do PGRH do Norte; no valor de 343 mil euros, para apoio e acompanhamento jurídicos.
Em comunicado, a sociedade de advogados diz que os contratos representam "enorme volume de trabalho de elevada complexidade jurídica" e que "o valor que provém do Orçamento representa 25% do montante total", sendo os restantes 75% pagos no âmbito do QREN.
1,351 milhões em contratos para a Sérvulo Correia
A Administração da Região Hidrográfica do Norte adjudicou, em 2009, quatro contratos de consultoria jurídica à sociedade de advogados Sérvulo Correia e Associados, no valor de 1,351 milhões de euros. Os números estão patentes no Portal dos Contratos Públicos (www.base.gov.pt) e foram ontem citados por Francisco Louçã como exemplo do despesismo do Estado.
Os contratos foram celebrados em Setembro de 2009: no valor de 330 mil euros, relativo ao sistema de apoio à decisão de licenciamento das utilizações privativas dos recursos hídricos na região; no valor de 340 mil euros, relativo à definição do modelo legal e institucional do Plano de Gestão dos Recursos Hídricos (PGRH) do Norte; no valor de 338 600 euros, relativo ao sistema de gestão e recursos humanos do processo de implementação do PGRH do Norte; no valor de 343 mil euros, para apoio e acompanhamento jurídicos.
Em comunicado, a sociedade de advogados diz que os contratos representam "enorme volume de trabalho de elevada complexidade jurídica" e que "o valor que provém do Orçamento representa 25% do montante total", sendo os restantes 75% pagos no âmbito do QREN.
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Golpes neoliberais no Estado Social
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Anedota
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Bom dia a todos e... boa sorte: Governo Regional vai baixar IRS
A crer nisto, o Governo Regional vai baixar IRS para atenuar o congelamento ou baixa das deduções.
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autonomia ao serviço do povo
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Que fará PPC no OE: contra a praxis parlamentar na votação do OE, dará liberdade de voto, ou votará contra como Sá Carneiro faria?
Pedro Passos Coelho perderia toda a credibilidade, se, depois de toda a encenação que fez, deixasse passar este Orçamento. Quando PPC pergunta o que faria Sá Carneiro, eu não tenho dúvidas de que Sá Carneiro, colocado na situação em que ele próprio, PPC, se colocou, só tomaria uma decisão: votaria contra.
Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, não há Outra Mais Leal
"Além de todas essas datas, há uma de excepcional
valor histórico e afetivo, não apenas para Macau, mas para o próprio Portugal:
quando da União Ibérica, entre 1580/1640, decorrência imediata da morte do Rei
Cardeal D. Henrique, sem sucessor e que por sua vez sucedera o sobrinho D.
Sebastião, falecido na Batalha de Alcácer-Quibir, na África, em 1578, contra os
Mouros, apenas Macau, dentre todas as terras então portuguesas, não se quedou
ao jugo espanhol. Para registrar devidamente o acontecido, após a restauração da
independência portuguesa, às armas da cidade foi incorporada a frase Cidade do
Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal.". (página 9, 2º. paráfrafo).
valor histórico e afetivo, não apenas para Macau, mas para o próprio Portugal:
quando da União Ibérica, entre 1580/1640, decorrência imediata da morte do Rei
Cardeal D. Henrique, sem sucessor e que por sua vez sucedera o sobrinho D.
Sebastião, falecido na Batalha de Alcácer-Quibir, na África, em 1578, contra os
Mouros, apenas Macau, dentre todas as terras então portuguesas, não se quedou
ao jugo espanhol. Para registrar devidamente o acontecido, após a restauração da
independência portuguesa, às armas da cidade foi incorporada a frase Cidade do
Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal.". (página 9, 2º. paráfrafo).
terça-feira, 12 de outubro de 2010
O conhecimento da Lei para o seu cumprimento
Ninguém pode alegar o desconhecimento da Lei para o seu incumprimento. Ora veja como é simples conhecer a lei:
Projecto de Lei nº 370/X, da iniciativa do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, altera o Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei nº 78/87, de 17 de Fevereiro, e alterado pelos Decretos-Leis nºs 387 – E/87, de 29 de Dezembro, e 212/89 de 30 de Junho, pela Lei nº 57/91, de 13 de Agosto, pelos Decretos-Leis nºs 423/91, de 30 de Outubro, 343/93, de 1 de Outubro, e 317/95, de 28 de Novembro, pelas Leis nº 59/98, de 25 de Agosto, 3/99, de 13 de Janeiro, e 7/2000, de 27 de Maio, pelo Decreto-Lei nº 320 – C/2000, de 15 de Dezembro, pelas Leis nºs 30 – E/2000, de 20 de Dezembro, e 52/2003, de 22 de Agosto, e pelo Decreto Lei nº 324/2003, de 27 de Dezembro.
Uf!Felizmente que a lei a que se refere, Código do Processo Penal, foi republicada.
Projecto de Lei nº 370/X, da iniciativa do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, altera o Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Lei nº 78/87, de 17 de Fevereiro, e alterado pelos Decretos-Leis nºs 387 – E/87, de 29 de Dezembro, e 212/89 de 30 de Junho, pela Lei nº 57/91, de 13 de Agosto, pelos Decretos-Leis nºs 423/91, de 30 de Outubro, 343/93, de 1 de Outubro, e 317/95, de 28 de Novembro, pelas Leis nº 59/98, de 25 de Agosto, 3/99, de 13 de Janeiro, e 7/2000, de 27 de Maio, pelo Decreto-Lei nº 320 – C/2000, de 15 de Dezembro, pelas Leis nºs 30 – E/2000, de 20 de Dezembro, e 52/2003, de 22 de Agosto, e pelo Decreto Lei nº 324/2003, de 27 de Dezembro.
Uf!Felizmente que a lei a que se refere, Código do Processo Penal, foi republicada.
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o conhecimento da lei
A China de novo na nossa encruzilhada histórica
A China nunca deixou os espanhóis hastearem a bandeira em Macau. Agora, já que a Europa não existe, compra a nossa dívida e faz baixar os juros:
No xadrez global, a China quer, de facto, mudar a correlação de forças, no FMI, no Banco Mundial, no G20, no sistema de câmbios das principais divisas. Procura aliados, vira-se para a Europa e estende uma mão aos países altamente endividados do sul. Se comprar dívida grega ou portuguesa, espanhola ou irlandesa, jogando com as suas imensas reservas, está a ajudar a estabilizar as contas públicas destes países, a baixar a desconfiança e os juros na Zona Euro e a reforçar o outro contrapeso à hegemonia cambial norte-americana.
Por muito que a estratégia incomode os EUA, na situação em que nos encontramos, isso provocaria um imenso suspiro de alívio lá para as bandas do Terreiro do Paço. E com ondas por toda a Europa.
No xadrez global, a China quer, de facto, mudar a correlação de forças, no FMI, no Banco Mundial, no G20, no sistema de câmbios das principais divisas. Procura aliados, vira-se para a Europa e estende uma mão aos países altamente endividados do sul. Se comprar dívida grega ou portuguesa, espanhola ou irlandesa, jogando com as suas imensas reservas, está a ajudar a estabilizar as contas públicas destes países, a baixar a desconfiança e os juros na Zona Euro e a reforçar o outro contrapeso à hegemonia cambial norte-americana.
Por muito que a estratégia incomode os EUA, na situação em que nos encontramos, isso provocaria um imenso suspiro de alívio lá para as bandas do Terreiro do Paço. E com ondas por toda a Europa.
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China Portugal
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
sábado, 9 de outubro de 2010
Em Abril, Constituições mil
Constituição de 1822, Setembro 1822;
Carta Constituicional de 1826 (D. Pedro), em Abril de 1826;
Constituição de 1838, síntese das constituições de 1822 e da Carta de 1826, entrou em vigor em 4 de Abril de 1838;
Constituição de 1911, entrou em vigor em 21 de Agosto de 1911 (foi redigido em tempo recorde de 3 meses);
A Constituição de 1933 entrou em vigor a 11 de
Abril de 1933;
Constituição de 1976, 2 de Abril de 1976.
Notas:
A Constituição de 1933 teve como referências a Constituição de 1911 (por oposição), a Carta Constitucional de 1826 e as Constituições alemãs de 1871 e 1919;
A Constituição de 1911 teve como referências a de 1822 e de 1838, a Constituição Brasileira de 1891 e o programa do PRP, Partido Republicano Português,
Carta Constituicional de 1826 (D. Pedro), em Abril de 1826;
Constituição de 1838, síntese das constituições de 1822 e da Carta de 1826, entrou em vigor em 4 de Abril de 1838;
Constituição de 1911, entrou em vigor em 21 de Agosto de 1911 (foi redigido em tempo recorde de 3 meses);
A Constituição de 1933 entrou em vigor a 11 de
Abril de 1933;
Constituição de 1976, 2 de Abril de 1976.
Notas:
A Constituição de 1933 teve como referências a Constituição de 1911 (por oposição), a Carta Constitucional de 1826 e as Constituições alemãs de 1871 e 1919;
A Constituição de 1911 teve como referências a de 1822 e de 1838, a Constituição Brasileira de 1891 e o programa do PRP, Partido Republicano Português,
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constituições portuguesas
Constituição e Revolução
"Em Portugal, as Constituições escritas, derivam da vontade dos príncipes
ou de escolha representativa, são discursos legitimadores de ordens
constitucionais reais estabelecidas previamente por via mais ou menos
revolucionária.
A Constituição de 1822 veio legitimar a revolução liberal de 1820, a Carta
Constitucional de 1826 consuma institucionalmente a vitória dos adeptos
de D. Pedro sobre os de D. Miguel, a Constituição de 1838 é o resultado
da revolução de Setembro, guinando “à esquerda”, a restauração da
Carta (1842, Costa Cabral, D. Maria II) é o recuo para a “direita”, depois a Constituição de 1911 legaliza a
implantação da República, a de 1933 não foge à regra, sendo a carta de
estabilidade jurídica da revolução de 1926, assim como, derrubado o
Estado Novo, a Constituição de 1976 será o estatuto jurídico da política
saída do golpe de Estado a que se seguiu a revolução de 1974"
ou de escolha representativa, são discursos legitimadores de ordens
constitucionais reais estabelecidas previamente por via mais ou menos
revolucionária.
A Constituição de 1822 veio legitimar a revolução liberal de 1820, a Carta
Constitucional de 1826 consuma institucionalmente a vitória dos adeptos
de D. Pedro sobre os de D. Miguel, a Constituição de 1838 é o resultado
da revolução de Setembro, guinando “à esquerda”, a restauração da
Carta (1842, Costa Cabral, D. Maria II) é o recuo para a “direita”, depois a Constituição de 1911 legaliza a
implantação da República, a de 1933 não foge à regra, sendo a carta de
estabilidade jurídica da revolução de 1926, assim como, derrubado o
Estado Novo, a Constituição de 1976 será o estatuto jurídico da política
saída do golpe de Estado a que se seguiu a revolução de 1974"
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questões jurídico-constitucionais
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Cenário 8 - debandada na bancada do PSD à moda das Opções inadiáveis
A estes cenários, pode acrescentar-se o cenário 8, construído a partir do cenário 7; debandada da bancada do PSD e aprovação do Orçamento. Pode ser uma tentação de PPC, perante uma bancada hostil. Implicaria a desresponsabilização política de PPC mas também a perda da sua autoridade.
Aviso ao CDS: de cada vez que usar a política do fifty fifty entre o PSD-M o PS-M vai levar nas fuças com o fifty que atirar contra o PS-M
O Tejo é mais Belo
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
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Alberto Caeiro
Os Pastores de Virgílio
Os pastores de Virgílio tocavam avenas e outras cousas
E cantavam de amor literariamente.
(Depois — eu nunca li Virgílio.
Para que o havia eu de ler?)
Mas os pastores de Virgílio, coitados, são Virgílio,
E a Natureza é bela e antiga.
E cantavam de amor literariamente.
(Depois — eu nunca li Virgílio.
Para que o havia eu de ler?)
Mas os pastores de Virgílio, coitados, são Virgílio,
E a Natureza é bela e antiga.
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Alberto Caeiro
Sou um Guardador de Rebanhos
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Olá, Guardador de Rebanhos
"Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"
"Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?"
"Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram."
"Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Olá, Guardador de Rebanhos
"Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"
"Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?"
"Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram."
"Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."
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Alberto Caeiro
Num Meio-Dia de Fim de Primavera
Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido" —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
.............................................................................
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer nos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
......................................................................
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
.......................................
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido" —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
.............................................................................
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer nos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
......................................................................
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
.......................................
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
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Alberto Caeiro
Da Minha Aldeia
Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
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Alberto Caeiro
Pensar em Deus
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos! ...
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos! ...
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Alberto Caeiro
Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei.Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei.Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
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Alberto Caeiro
Esta Tarde a Trovoada Caiu
Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme...
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caírem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos ...
Quando os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz que não,
Não sei porquê — eu não tinha medo —
pus-me a rezar a Santa Bárbara
Como se eu fosse a velha tia de alguém...
Ah! é que rezando a Santa Bárbara
Eu sentia-me ainda mais simples
Do que julgo que sou...
Sentia-me familiar e caseiro
E tendo passado a vida
Tranqüilamente, como o muro do quintal;
Tendo idéias e sentimentos por os ter
Como uma flor tem perfume e cor...
Sentia-me alguém que nossa acreditar em Santa Bárbara...
Ah, poder crer em Santa Bárbara!
(Quem crê que há Santa Bárbara,
Julgará que ela é gente e visível
Ou que julgará dela?)
(Que artifício! Que sabem
As flores, as árvores, os rebanhos,
De Santa Bárbara?... Um ramo de árvore,
Se pensasse, nunca podia
Construir santos nem anjos...
Poderia julgar que o sol
É Deus, e que a trovoada
É uma quantidade de gente
Zangada por cima de nós ...
Ali, como os mais simples dos homens
São doentes e confusos e estúpidos
Ao pé da clara simplicidade
E saúde em existir
Das árvores e das plantas!)
E eu, pensando em tudo isto,
Fiquei outra vez menos feliz...
Fiquei sombrio e adoecido e soturno
Como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça
E nem sequer de noite chega.
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme...
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caírem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos ...
Quando os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz que não,
Não sei porquê — eu não tinha medo —
pus-me a rezar a Santa Bárbara
Como se eu fosse a velha tia de alguém...
Ah! é que rezando a Santa Bárbara
Eu sentia-me ainda mais simples
Do que julgo que sou...
Sentia-me familiar e caseiro
E tendo passado a vida
Tranqüilamente, como o muro do quintal;
Tendo idéias e sentimentos por os ter
Como uma flor tem perfume e cor...
Sentia-me alguém que nossa acreditar em Santa Bárbara...
Ah, poder crer em Santa Bárbara!
(Quem crê que há Santa Bárbara,
Julgará que ela é gente e visível
Ou que julgará dela?)
(Que artifício! Que sabem
As flores, as árvores, os rebanhos,
De Santa Bárbara?... Um ramo de árvore,
Se pensasse, nunca podia
Construir santos nem anjos...
Poderia julgar que o sol
É Deus, e que a trovoada
É uma quantidade de gente
Zangada por cima de nós ...
Ali, como os mais simples dos homens
São doentes e confusos e estúpidos
Ao pé da clara simplicidade
E saúde em existir
Das árvores e das plantas!)
E eu, pensando em tudo isto,
Fiquei outra vez menos feliz...
Fiquei sombrio e adoecido e soturno
Como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça
E nem sequer de noite chega.
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Alberto Caeiro
Ao Entardecer
Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.
Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...
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Alberto Caeiro
O meu olhar
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
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Alberto Caeiro
O Guardador de Rebanhos, Alberto Caeiro
Eu Nunca Guardei Rebanhos
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
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Alberto Caeiro
O livro do desassossego, Bernardo Soares
Fragmento 85
Fazer qualquer coisa completa, inteira, seja boa ou seja má - e, se nunca é inteiramente boa, muitas vezes não é inteiramente má - , sim, fazer uma coisa completa causa-me, talvez, mais inveja do que outro qualquer sentimento. É como um filho: é imperfeita como todo o ente humano, mas é nossa como os filhos são.
E eu, cujo espírito de crítica própria me não permite senão que veja os defeitos, as falhas, eu, que não ouso escrever mais que trechos, bocados, excertos do inexistente, eu mesmo, no pouco que escrevo, sou imperfeito também. Mais valeram pois, ou a obra completa, ainda que má, que em todo o caso é obra; ou a ausência de palavras, o silêncio inteiro da alma que se reconhece incapa de agir.
Fazer qualquer coisa completa, inteira, seja boa ou seja má - e, se nunca é inteiramente boa, muitas vezes não é inteiramente má - , sim, fazer uma coisa completa causa-me, talvez, mais inveja do que outro qualquer sentimento. É como um filho: é imperfeita como todo o ente humano, mas é nossa como os filhos são.
E eu, cujo espírito de crítica própria me não permite senão que veja os defeitos, as falhas, eu, que não ouso escrever mais que trechos, bocados, excertos do inexistente, eu mesmo, no pouco que escrevo, sou imperfeito também. Mais valeram pois, ou a obra completa, ainda que má, que em todo o caso é obra; ou a ausência de palavras, o silêncio inteiro da alma que se reconhece incapa de agir.
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Livro do desassossego
O livro do desassossego, Bernardo Soares
Fragmento 46
"Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas frases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do pequeno tamanho de sua aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é maior que a cidade...
"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura."
Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo.
"Sou do tamanho do que vejo!" Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!" Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão.
E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte.
Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia.
Mas recolho-me e abrando-me. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer."
"Releio passivamente, recebendo o que sinto como uma inspiração e um livramento, aquelas frases simples de Caeiro, na referência natural do que resulta do pequeno tamanho de sua aldeia. Dali, diz ele, porque é pequena, pode ver-se mais do mundo do que da cidade; e por isso a aldeia é maior que a cidade...
"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura."
Frases como estas, que parecem crescer sem vontade que as houvesse dito, limpam-me de toda a metafísica que espontaneamente acrescento à vida. Depois de as ler, chego à minha janela sobre a rua estreita, olho o grande céu e os muitos astros, e sou livre com um esplendor alado cuja vibração me estremece no corpo todo.
"Sou do tamanho do que vejo!" Cada vez que penso esta frase com toda a atenção dos meus nervos, ela me parece mais destinada a reconstruir consteladamente o universo. "Sou do tamanho do que vejo!" Que grande posse mental vai desde o poço das emoções profundas até às altas estrelas que se reflectem nele e, assim, em certo modo, ali estão.
E já agora, consciente de saber ver, olho a vasta metafísica objectiva dos céus todos com uma segurança que me dá vontade de morrer cantando. "Sou do tamanho do que vejo!" E o vago luar, inteiramente meu, começa a estragar de vago o azul meio-negro do horizonte.
Tenho vontade de erguer os braços e gritar coisas de uma selvageria ignorada, de dizer palavras aos mistérios altos, de afirmar uma nova personalidade larga aos grandes espaços da matéria vazia.
Mas recolho-me e abrando-me. "Sou do tamanho do que vejo!" E a frase fica sendo-me a alma inteira, encosto a ela todas as emoções que sinto, e sobre mim, por dentro, como sobre a cidade por fora, cai a paz indecifrável do luar duro que começa largo com o anoitecer."
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Livro do desassossego
O livro do desassossego, Bernardo Soares
Fragmento 39
"Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, esta noção repentina da minha individualidade verdadeira, dessa que andou sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê."
"E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que o sentido é dormir."
"Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, esta noção repentina da minha individualidade verdadeira, dessa que andou sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê."
"E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que o sentido é dormir."
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Livro do desassossego
O livro do desassossego, Bernardo Soares
Fragmento 10
"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."
"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."
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Livro do desassossego
O livro do desassossego, Bernardo Soares
Fragmento 437
Há sossegos do campo na cidade. Há momentos, sobretudo nos meios-dias de estio, em que, nesta Lisboa luminosa, o campo, como um vento, nos invade. E aqui mesmo, na Rua dos Douradores, temos o bom sono.
Que bom à alma ver calar, sob um sol alto quieto, estas carroças com palha, estes caixotes por fazer, estes transeuntes lentos, de aldeia transferida! Eu mesmo, olhando-os da janela do escritório, onde estou só, me transmuto: estou numa vila quieta da província, estagno numa aldeola incógnita, e porque me sinto outro sou feliz.
Bem sei: se ergo os olhos, está diante de mim a linha sórdida da casaria, as janelas por lavar de todos os escritórios da Baixa, as janelas sem sentido dos andares mais altos onde ainda se mora, e, ao alto, no angular das trapeiras, a roupa de sempre, ao sol entre vasos e plantas. Sei isto, mas é tão suave a luz que doura tudo isto, tão sem sentido o ar calmo que me envolve, que não tenho razão sequer visual para abdicar da minha aldeia postiça, da minha vila de província onde o comércio é um sossego.
Bem sei, bem sei... Verdade seja que é a hora de almoço, ou de repouso, ou de intervalo.. Tudo vai bem pela superfície da vida. Eu mesmo durmo, ainda que me debruce da varanda, como se fosse a amurada de um barco sobre uma paisagem nova. Eu mesmo nem cismo, como se estivesse na província. E, subitamente, outra coisa me surge, me envolve, me comanda: vejo por detrás do meio-dia da vila toda a vida em tudo da vila; vejo a grande felicidade estúpida da vida doméstica, a grande felicidade estúpida da vida nos campos, a grande felicidade estúpida do sossego na sordidez. Vejo, porque vejo. Mas não vi e desperto. Olho em roda, sorrindo, e, antes de mais nada, sacudo dos cotovelos do fato, infelizmente escuro, todo o pó do apoio da varanda, que ninguém limpou, ignorando que teria um dia, um momento que fosse, que ser a amurada sem pó possível de um barco singrando num turismo infinito.
Há sossegos do campo na cidade. Há momentos, sobretudo nos meios-dias de estio, em que, nesta Lisboa luminosa, o campo, como um vento, nos invade. E aqui mesmo, na Rua dos Douradores, temos o bom sono.
Que bom à alma ver calar, sob um sol alto quieto, estas carroças com palha, estes caixotes por fazer, estes transeuntes lentos, de aldeia transferida! Eu mesmo, olhando-os da janela do escritório, onde estou só, me transmuto: estou numa vila quieta da província, estagno numa aldeola incógnita, e porque me sinto outro sou feliz.
Bem sei: se ergo os olhos, está diante de mim a linha sórdida da casaria, as janelas por lavar de todos os escritórios da Baixa, as janelas sem sentido dos andares mais altos onde ainda se mora, e, ao alto, no angular das trapeiras, a roupa de sempre, ao sol entre vasos e plantas. Sei isto, mas é tão suave a luz que doura tudo isto, tão sem sentido o ar calmo que me envolve, que não tenho razão sequer visual para abdicar da minha aldeia postiça, da minha vila de província onde o comércio é um sossego.
Bem sei, bem sei... Verdade seja que é a hora de almoço, ou de repouso, ou de intervalo.. Tudo vai bem pela superfície da vida. Eu mesmo durmo, ainda que me debruce da varanda, como se fosse a amurada de um barco sobre uma paisagem nova. Eu mesmo nem cismo, como se estivesse na província. E, subitamente, outra coisa me surge, me envolve, me comanda: vejo por detrás do meio-dia da vila toda a vida em tudo da vila; vejo a grande felicidade estúpida da vida doméstica, a grande felicidade estúpida da vida nos campos, a grande felicidade estúpida do sossego na sordidez. Vejo, porque vejo. Mas não vi e desperto. Olho em roda, sorrindo, e, antes de mais nada, sacudo dos cotovelos do fato, infelizmente escuro, todo o pó do apoio da varanda, que ninguém limpou, ignorando que teria um dia, um momento que fosse, que ser a amurada sem pó possível de um barco singrando num turismo infinito.
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O livro do desassossego, Bernardo Soares, Fragmento 1
Fragmento 1
"O coração, se pudesse pensar, pararia."
"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."
"O coração, se pudesse pensar, pararia."
"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."
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Livro do desassossego
TABACARIA, Álvaro de Campos,
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.
(15-1-1928)
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.
(15-1-1928)
Vem sentar-te comigo Lídia..., Ricardo Reis
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e nao estamos de maos enlaçadas.
(Enlacemos as maos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nao fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as maos, porque nao vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixoes que levantam a voz,
Nem invejas que dao movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagaos inocentes da decadencia.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as maos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço
Aos Deuses Peço só que me Concedam o Nada lhes Pedir
Aos deuses peço só que me concedam
O nada lhes pedir.
A dita é um jugo
E o ser feliz oprime
Porque é um certo estado.
Não quieto nem inquieto meu ser calmo
Quero erguer alto acima de onde os homens
Têm prazer ou dores.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
O nada lhes pedir.
A dita é um jugo
E o ser feliz oprime
Porque é um certo estado.
Não quieto nem inquieto meu ser calmo
Quero erguer alto acima de onde os homens
Têm prazer ou dores.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Não Sejamos Inteiros numa Fé talvez sem Causa
Meu gesto que destrói
A mole das formigas,
Tomá-lo-ão elas por de um ser divino;
Mas eu não sou divino para mim.
Assim talvez os deuses
Para si o não sejam,
E só de serem do que nós maiores
Tirem o serem deuses para nós.
Seja qual for o certo,
Mesmo para com esses
Que cremos serem deuses, não sejamos
Inteiros numa fé talvez sem causa.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
A mole das formigas,
Tomá-lo-ão elas por de um ser divino;
Mas eu não sou divino para mim.
Assim talvez os deuses
Para si o não sejam,
E só de serem do que nós maiores
Tirem o serem deuses para nós.
Seja qual for o certo,
Mesmo para com esses
Que cremos serem deuses, não sejamos
Inteiros numa fé talvez sem causa.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
O cavalo que deitava dinheiro
Na cidade de Macaé
Antigamente existia
Um duque velho invejoso
Que nada o satisfazia
Desejava possuir
Todo objeto que via
Esse duque era compadre
De um pobre muito atrasado
Que morava em sua terra
Num rancho todo estragado
Sustentava seus filhinhos
Na vida de alugado.
Se vendo o compadre pobre
Naquela vida privada
Foi trabalhar nos engenhos
Longe da sua morada
Na volta trouxe um cavalo
Que não servia pra nada
Disse o pobre à mulher:
— Como havemos de passar?
O cavalo é magro e velho
Não pode mais trabalhar
Vamos inventar um "quengo"
Pra ver se o querem comprar.
Foi na venda e de lá trouxe
Três moedas de cruzado
Sem dizer nada a ninguém
Para não ser censurado
No fiofó do cavalo
Foi o dinheiro guardado
Do fiofó do cavalo
Ele fez um mealheiro
Saiu dizendo: — Sou rico!
Inda mais que um fazendeiro,
Porque possuo o cavalo
Que só defeca dinheiro.
Quando o duque velho soube
Que ele tinha esse cavalo
Disse pra velha duquesa:
—Amanhã vou visitá-lo
Se o animal for assim
Faço o jeito de comprá-lo!
Saiu o duque vexado
Fazendo que não sabia,
Saiu percorrendo as terras
Como quem não conhecia
Foi visitar a choupana,
Onde o pobre residia.
Chegou salvando o compadre
Muito desinteressado:
— Compadre, Como lhe vai?
Onde tanto tem andado?
Há dias que lhe vejo
Parece está melhorado...
—É muito certo compadre
Ainda não melhorei
Porque andava por fora
Faz três dias que cheguei
Mas breve farei fortuna
Com um cavalo que comprei.
—Se for assim, meu compadre
Você está muito bem!
É bom guardar o segredo,
Não conte nada a ninguém.
Me conte qual a vantagem
Que este seu cavalo tem?
Disse o pobre: —Ele está magro
Só o osso e o couro,
Porém tratando-se dele
Meu cavalo é um tesouro
Basta dizer que defeca
Níquel, prata, cobre e ouro!
Aí chamou o compadre
E saiu muito vexado,
Para o lugar onde tinha
O cavalo defecado
O duque ainda encontrou
Três moedas de cruzado.
Então exclamou o velho:
— Só pude achar essas três!
Disse o pobre: — Ontem à tarde
Ele botou dezesseis!
Ele já tem defecado,
Dez mil réis mais de uma vez.
—Enquanto ele está magro
Me serve de mealheiro.
Eu tenho tratado dele
Com bagaço do terreiro,
Porém depois dele gordo
Não quem vença o dinheiro...
Disse o velho: — meu compadre
Você não pode tratá-lo,
Se for trabalhar com ele
É com certeza matá-lo
O melhor que você faz
É vender-me este cavalo!
— Meu compadre, este cavalo
Eu posso negociar,
Só se for por uma soma
Que dê para eu passar
Com toda minha família,
E não precise trabalhar.
O velho disse ao compadre:
— Assim não é que se faz
Nossa amizade é antiga
Desde os tempo de seus pais
Dou-lhe seis contos de réis
Acha pouco, inda quer mais?
— Compadre, o cavalo é seu!
Eu nada mais lhe direi,
Ele, por este dinheiro
Que agora me sujeitei
Para mim não foi vendido,
Faça de conta que te dei!
O velho pela ambição
Que era descomunal,
Deu-lhe seis contos de réis
Todo em moeda legal
Depois pegou no cabresto
E foi puxando o animal.
Quando ele chegou em casa
Foi gritando no terreiro:
— Eu sou o homem mais rico
Que habita o mundo inteiro!
Porque possuo um cavalo
Que só defeca dinheiro!
Pegou o dito cavalo
Botou na estrebaria,
Milho, farelo e alface
Era o que ele comia
O velho duque ia lá,
Dez, doze vezes por dia...
Aí o velho zangou-se
Começou loga a falar:
—Como é que meu compadre
Se atreve a me enganar?
Eu quero ver amanhã
O que ele vai me contar.
Porém o compadre pobre,
(Bicho do quengo lixado)
Fez depressa outro plano
Inda mais bem arranjado
Esperando o velho duque
Quando viesse zangado...
O pobre foi na farmácia
Comprou uma borrachinha
Depois mandou encher ela
Com sangue de uma galinha
E sempre olhando a estrada
Pré ver se o velho vinha.
Disse o pobre à mulher:
— Faça o trabalho direito
Pegue esta borrachinha
Amarre em cima do peito
Para o velho não saber,
Como o trabalho foi feito!
Quando o velho aparecer
Na volta daquela estrada,
Você começa a falar
Eu grito: —Oh mulher danada!
Quando ele estiver bem perto,
Eu lhe dou uma facada.
Porém eu dou-lhe a facada
Em cima da borrachinha
E você fica lavada
Com o sangue da galinha
Eu grito: —Arre danada!
Nunca mais comes farinha!
Quando ele ver você morta
Parte para me prender,
Então eu digo para ele:
—Eu dou jeito ela viver,
O remédio tenho aqui,
Faço para o senhor ver!
—Eu vou buscar a rabeca
Começo logo a tocar
Você então se remaxa
Como quem vai melhorar
Com pouco diz: —Estou boa
Já posso me levantar.
Quando findou-se a conversa
Na mesma ocasião
O velho ia chegando
Aí travou-se a questão
O pobre passou-lhe a faca,
Botou a mulher no chão.
O velho gritou a ele
Quando viu a mulher morta:
Esteja preso, bandido!
E tomou conta da porta
Disse o pobre: —Vou curá-la!
Pra que o senhor se importa?
—O senhor é um bandido
Infame de cara dura
Todo mundo apreciava
Esta infeliz criatura
Depois dela assassinada,
O senhor diz que tem cura?
Compadre, não admito
O senhor dizer mais nada,
Não é crime se matar
Sendo a mulher malcriada
E mesmo com dez minutos,
Eu dou a mulher curada!
Correu foi ver a rabeca
Começou logo a tocar
De repente o velho viu
A mulher se endireitar
E depois disse: —Estou boa,
Já posso me levantar...
O velho ficou suspenso
De ver a mulher curada,
Porém como estava vendo
Ela muito ensanguentada
Correu ela, mas não viu,
Nem o sinal da facada.
O pobre entusiasmado
Disse-lhe: —Já conheceu
Quando esta rabeca estava
Na mão de quem me vendeu,
Tinha feito muitas curas
De gente que já morreu!
No lugar onde eu estiver
Não deixo ninguém morrer,
Como eu adquiri ela
Muita gente quer saber
Mas ela me está tão cara
Que não me convém dizer.
O velho que tinha vindo
Somente propor questão,
Por que o cavalo velho
Nunca botou um tostão
Quando viu a tal rabeca
Quase morre de ambição.
—Compadre, você desculpe
De eu ter tratado assim
Porque agora estou certo
Eu mesmo fui o ruim
Porém a sua rabeca
Só serve bem para mim.
—Mas como eu sou um homem
De muito grande poder
O senhor é um homem pobre
Ninguém quer o conhecer
Perca o amor da rabeca...
Responda se quer vender?
—Porque a minha mulher
Também é muito estouvada
Se eu comprar esta rabeca
Dela não suporto nada
Se quiser teimar comigo,
Eu dou-lhe uma facada.
—Ela se vê quase morta
Já conhece o castigo,
Mas eu com esta rabeca
Salvo ela do perigo
Ela daí por diante,
Não quer mais teimar comigo!
Disse-lhe o compadre pobre:
—O senhor faz muito bem,
Quer me comprar a rabeca
Não venderei a ninguém
Custa seis contos de réis,
Por menos nem um vintém.
O velho muito contente
Tornou então repetir:
—A rabeca já é minha
Eu preciso a possuir
Ela para mim foi dada,
Você não soube pedir.
Pagou a rabeca e disse:
—Vou já mostrar a mulher!
A velha zangou-se e disse:
—Vá mostrar a quem quiser!
Eu não quero ser culpada
Do prejuízo que houver.
—O senhor é mesmo um velho
Avarento e interesseiro,
Que já fez do seu cavalo
Que defecava dinheiro?
—Meu velho, dê-se a respeito,
Não seja tão embusteiro.
O velho que confiava
Na rabeca que comprou
Disse a ela: —Cale a boca!
O mundo agora virou
Dou-lhe quatro punhaladas,
Já você sabe quem sou.
Ele findou as palavras
A velha ficou teimando,
Disse ele: —Velha dos diabos
Você ainda está falando?
Deu-lhe quatro punhaladas
Ela caiu arquejando...
O velho muito ligeiro
Foi buscar a rabequinha,
Ele tocava e dizia:
—Acorde, minha velhinha!
Porém a pobre da velha,
Nunca mais comeu farinha.
O duque estava pensando
Que sua mulher tornava
Ela acabou de morrer
Porém ele duvidava
Depois então conheceu
Que a rabeca não prestava.
Quando ele ficou certo
Que a velha tinha morrido
Boto os joelhos no chão
E deu tão grande gemido
Que o povo daquela casa
Ficou todo comovido.
Ele dizia chorando:
—Esse crime hei de vingá-lo
Seis contos desta rabeca
Com outros seis do cavalo
Eu lá não mando ninguém,
Porque pretendo matá-lo.
Mandou chamar dois capangas:
—Me façam um surrão bem feito
Façam isto com cuidado
Quero ele um pouco estreito
Com uma argola bem forte,
Pra levar este sujeito!
Quando acabar de fazer
Mande este bandido entrar,
Para dentro do surrão
E acabem de costurar
O levem para o rochedo,
Para sacudi-lo no mar.
Os homens eram dispostos
Findaram no mesmo dia,
O pobre entrou no surrão
Pois era o jeito que havia
Botaram o surrão nas costas
E saíram numa folia.
Adiante disse um capanga:
—Está muito alto o rojão,
Eu estou muito cansado,
Botemos isto no chão!
Vamos tomar uma pinga,
Deixe ficar o surrão.
&mdashEstá muito bem, companheiro
Vamos tomar a bicada!
(Assim falou o capanga
Dizendo pro camarada)
Seguiram ambos pra venda
Ficando além da estrada...
Quando os capangas seguiram
Ele cá ficou dizendo:
—Não caso porque não quero,
Me acho aqui padecendo...
A moça é milionária
O resto eu bem compreendo!
Foi passando um boiadeiro
Quando ele dizia assim,
O boiadeiro pediu-lhe:
—Arranje isto pra mim
Não importa que a moça
Seja boa ou ruim!
O boiadeiro lhe disse:
—Eu dou-lhe de mão beijada,
Todos os meus possuídos
Vão aqui nessa boiada...
Fica o senhor como dono,
Pode seguir a jornada!
Ele condenado à morte
Não fez questão, aceitou,
Descoseu o tal surrão
O boiadeiro entrou
O pobre morto de medo
Num minuto costurou.
O pobre quando se viu
Livre daquela enrascada,
Montou-se num bom cavalo
E tomou conta da boiada,
Saiu por ali dizendo:
—A mim não falta mais nada.
Os capangas nada viram
Porque fizeram ligeiro,
Pegaram o dito surrão
Com o pobre do boiadeiro
Voaram de serra abaixo
Não ficou um osso inteiro.
Fazia dois ou três meses
Que o pobre negociava
A boiada que lhe deram
Cada vez mais aumentava
Foi ele um dia passar,
Onde o compadre morava...
Quando o compadre viu ele
De susto empalideceu;
—Compadre, por onde andava
Que agora me apareceu?!
Segundo o que me parece,
Está mais rico do que eu...
—Aqueles seus dois capangas
Voaram-me num lugar
Eu caí de serra abaixo
Até na beira do mar
Aí vi tanto dinheiro,
Quanto pudesse apanhar!..
—Quando me faltar dinheiro
Eu prontamente vou ver.
O que eu trouxe não é pouco,
Vai dando pra eu viver
Junto com a minha família,
Passar bem até morrer.
—Compadre, a sua riqueza
Diga que fui eu quem dei!
Pra você recompensar-me
Tudo quanto lhe arranjei,
É preciso que me bote
No lugar que lhe botei!..
Disse-lhe o pobre: —Pois não,
Estou pronto pra lhe mostrar!
Eu junto com os capangas
Nós mesmo vamos levar
E o surrão de serra abaixo
Sou eu quem quero empurrar!..
O velho no mesmo dia
Mandou fazer um surrão.
Depressa meteu-se nele,
Cego pela ambição
E disse: —Compadre eu estou
À tua disposição.
O pobre foi procurar
Dois cabras de confiança
Se fingindo satisfeito
Fazendo a coisa bem mansa
Só assim ele podia,
Tomar a sua vingança.
Saíram com este velho
Na carreira, sem parar
Subiram de serra acima
Até o último lugar
Daí voaram o surrão
Deixaram o velho embolar...
O velho ia pensando
De encontrar muito dinheiro,
Porém secedeu com ele
Do jeito do boiadeiro,
Que quando chegou embaixo
Não tinha um só osso inteiro.
Este livrinho nos mostra
Que a ambição nada convém
Todo homem ambicioso
Nunca pode viver bem,
Arriscando o que possui
Em cima do que já tem.
Cada um faça por si,
Eu também farei por mim!
É este um dos motivos
Que o mundo está ruim,
Porque estamos cercados
Dos homens que pensam assim.
Antigamente existia
Um duque velho invejoso
Que nada o satisfazia
Desejava possuir
Todo objeto que via
Esse duque era compadre
De um pobre muito atrasado
Que morava em sua terra
Num rancho todo estragado
Sustentava seus filhinhos
Na vida de alugado.
Se vendo o compadre pobre
Naquela vida privada
Foi trabalhar nos engenhos
Longe da sua morada
Na volta trouxe um cavalo
Que não servia pra nada
Disse o pobre à mulher:
— Como havemos de passar?
O cavalo é magro e velho
Não pode mais trabalhar
Vamos inventar um "quengo"
Pra ver se o querem comprar.
Foi na venda e de lá trouxe
Três moedas de cruzado
Sem dizer nada a ninguém
Para não ser censurado
No fiofó do cavalo
Foi o dinheiro guardado
Do fiofó do cavalo
Ele fez um mealheiro
Saiu dizendo: — Sou rico!
Inda mais que um fazendeiro,
Porque possuo o cavalo
Que só defeca dinheiro.
Quando o duque velho soube
Que ele tinha esse cavalo
Disse pra velha duquesa:
—Amanhã vou visitá-lo
Se o animal for assim
Faço o jeito de comprá-lo!
Saiu o duque vexado
Fazendo que não sabia,
Saiu percorrendo as terras
Como quem não conhecia
Foi visitar a choupana,
Onde o pobre residia.
Chegou salvando o compadre
Muito desinteressado:
— Compadre, Como lhe vai?
Onde tanto tem andado?
Há dias que lhe vejo
Parece está melhorado...
—É muito certo compadre
Ainda não melhorei
Porque andava por fora
Faz três dias que cheguei
Mas breve farei fortuna
Com um cavalo que comprei.
—Se for assim, meu compadre
Você está muito bem!
É bom guardar o segredo,
Não conte nada a ninguém.
Me conte qual a vantagem
Que este seu cavalo tem?
Disse o pobre: —Ele está magro
Só o osso e o couro,
Porém tratando-se dele
Meu cavalo é um tesouro
Basta dizer que defeca
Níquel, prata, cobre e ouro!
Aí chamou o compadre
E saiu muito vexado,
Para o lugar onde tinha
O cavalo defecado
O duque ainda encontrou
Três moedas de cruzado.
Então exclamou o velho:
— Só pude achar essas três!
Disse o pobre: — Ontem à tarde
Ele botou dezesseis!
Ele já tem defecado,
Dez mil réis mais de uma vez.
—Enquanto ele está magro
Me serve de mealheiro.
Eu tenho tratado dele
Com bagaço do terreiro,
Porém depois dele gordo
Não quem vença o dinheiro...
Disse o velho: — meu compadre
Você não pode tratá-lo,
Se for trabalhar com ele
É com certeza matá-lo
O melhor que você faz
É vender-me este cavalo!
— Meu compadre, este cavalo
Eu posso negociar,
Só se for por uma soma
Que dê para eu passar
Com toda minha família,
E não precise trabalhar.
O velho disse ao compadre:
— Assim não é que se faz
Nossa amizade é antiga
Desde os tempo de seus pais
Dou-lhe seis contos de réis
Acha pouco, inda quer mais?
— Compadre, o cavalo é seu!
Eu nada mais lhe direi,
Ele, por este dinheiro
Que agora me sujeitei
Para mim não foi vendido,
Faça de conta que te dei!
O velho pela ambição
Que era descomunal,
Deu-lhe seis contos de réis
Todo em moeda legal
Depois pegou no cabresto
E foi puxando o animal.
Quando ele chegou em casa
Foi gritando no terreiro:
— Eu sou o homem mais rico
Que habita o mundo inteiro!
Porque possuo um cavalo
Que só defeca dinheiro!
Pegou o dito cavalo
Botou na estrebaria,
Milho, farelo e alface
Era o que ele comia
O velho duque ia lá,
Dez, doze vezes por dia...
Aí o velho zangou-se
Começou loga a falar:
—Como é que meu compadre
Se atreve a me enganar?
Eu quero ver amanhã
O que ele vai me contar.
Porém o compadre pobre,
(Bicho do quengo lixado)
Fez depressa outro plano
Inda mais bem arranjado
Esperando o velho duque
Quando viesse zangado...
O pobre foi na farmácia
Comprou uma borrachinha
Depois mandou encher ela
Com sangue de uma galinha
E sempre olhando a estrada
Pré ver se o velho vinha.
Disse o pobre à mulher:
— Faça o trabalho direito
Pegue esta borrachinha
Amarre em cima do peito
Para o velho não saber,
Como o trabalho foi feito!
Quando o velho aparecer
Na volta daquela estrada,
Você começa a falar
Eu grito: —Oh mulher danada!
Quando ele estiver bem perto,
Eu lhe dou uma facada.
Porém eu dou-lhe a facada
Em cima da borrachinha
E você fica lavada
Com o sangue da galinha
Eu grito: —Arre danada!
Nunca mais comes farinha!
Quando ele ver você morta
Parte para me prender,
Então eu digo para ele:
—Eu dou jeito ela viver,
O remédio tenho aqui,
Faço para o senhor ver!
—Eu vou buscar a rabeca
Começo logo a tocar
Você então se remaxa
Como quem vai melhorar
Com pouco diz: —Estou boa
Já posso me levantar.
Quando findou-se a conversa
Na mesma ocasião
O velho ia chegando
Aí travou-se a questão
O pobre passou-lhe a faca,
Botou a mulher no chão.
O velho gritou a ele
Quando viu a mulher morta:
Esteja preso, bandido!
E tomou conta da porta
Disse o pobre: —Vou curá-la!
Pra que o senhor se importa?
—O senhor é um bandido
Infame de cara dura
Todo mundo apreciava
Esta infeliz criatura
Depois dela assassinada,
O senhor diz que tem cura?
Compadre, não admito
O senhor dizer mais nada,
Não é crime se matar
Sendo a mulher malcriada
E mesmo com dez minutos,
Eu dou a mulher curada!
Correu foi ver a rabeca
Começou logo a tocar
De repente o velho viu
A mulher se endireitar
E depois disse: —Estou boa,
Já posso me levantar...
O velho ficou suspenso
De ver a mulher curada,
Porém como estava vendo
Ela muito ensanguentada
Correu ela, mas não viu,
Nem o sinal da facada.
O pobre entusiasmado
Disse-lhe: —Já conheceu
Quando esta rabeca estava
Na mão de quem me vendeu,
Tinha feito muitas curas
De gente que já morreu!
No lugar onde eu estiver
Não deixo ninguém morrer,
Como eu adquiri ela
Muita gente quer saber
Mas ela me está tão cara
Que não me convém dizer.
O velho que tinha vindo
Somente propor questão,
Por que o cavalo velho
Nunca botou um tostão
Quando viu a tal rabeca
Quase morre de ambição.
—Compadre, você desculpe
De eu ter tratado assim
Porque agora estou certo
Eu mesmo fui o ruim
Porém a sua rabeca
Só serve bem para mim.
—Mas como eu sou um homem
De muito grande poder
O senhor é um homem pobre
Ninguém quer o conhecer
Perca o amor da rabeca...
Responda se quer vender?
—Porque a minha mulher
Também é muito estouvada
Se eu comprar esta rabeca
Dela não suporto nada
Se quiser teimar comigo,
Eu dou-lhe uma facada.
—Ela se vê quase morta
Já conhece o castigo,
Mas eu com esta rabeca
Salvo ela do perigo
Ela daí por diante,
Não quer mais teimar comigo!
Disse-lhe o compadre pobre:
—O senhor faz muito bem,
Quer me comprar a rabeca
Não venderei a ninguém
Custa seis contos de réis,
Por menos nem um vintém.
O velho muito contente
Tornou então repetir:
—A rabeca já é minha
Eu preciso a possuir
Ela para mim foi dada,
Você não soube pedir.
Pagou a rabeca e disse:
—Vou já mostrar a mulher!
A velha zangou-se e disse:
—Vá mostrar a quem quiser!
Eu não quero ser culpada
Do prejuízo que houver.
—O senhor é mesmo um velho
Avarento e interesseiro,
Que já fez do seu cavalo
Que defecava dinheiro?
—Meu velho, dê-se a respeito,
Não seja tão embusteiro.
O velho que confiava
Na rabeca que comprou
Disse a ela: —Cale a boca!
O mundo agora virou
Dou-lhe quatro punhaladas,
Já você sabe quem sou.
Ele findou as palavras
A velha ficou teimando,
Disse ele: —Velha dos diabos
Você ainda está falando?
Deu-lhe quatro punhaladas
Ela caiu arquejando...
O velho muito ligeiro
Foi buscar a rabequinha,
Ele tocava e dizia:
—Acorde, minha velhinha!
Porém a pobre da velha,
Nunca mais comeu farinha.
O duque estava pensando
Que sua mulher tornava
Ela acabou de morrer
Porém ele duvidava
Depois então conheceu
Que a rabeca não prestava.
Quando ele ficou certo
Que a velha tinha morrido
Boto os joelhos no chão
E deu tão grande gemido
Que o povo daquela casa
Ficou todo comovido.
Ele dizia chorando:
—Esse crime hei de vingá-lo
Seis contos desta rabeca
Com outros seis do cavalo
Eu lá não mando ninguém,
Porque pretendo matá-lo.
Mandou chamar dois capangas:
—Me façam um surrão bem feito
Façam isto com cuidado
Quero ele um pouco estreito
Com uma argola bem forte,
Pra levar este sujeito!
Quando acabar de fazer
Mande este bandido entrar,
Para dentro do surrão
E acabem de costurar
O levem para o rochedo,
Para sacudi-lo no mar.
Os homens eram dispostos
Findaram no mesmo dia,
O pobre entrou no surrão
Pois era o jeito que havia
Botaram o surrão nas costas
E saíram numa folia.
Adiante disse um capanga:
—Está muito alto o rojão,
Eu estou muito cansado,
Botemos isto no chão!
Vamos tomar uma pinga,
Deixe ficar o surrão.
&mdashEstá muito bem, companheiro
Vamos tomar a bicada!
(Assim falou o capanga
Dizendo pro camarada)
Seguiram ambos pra venda
Ficando além da estrada...
Quando os capangas seguiram
Ele cá ficou dizendo:
—Não caso porque não quero,
Me acho aqui padecendo...
A moça é milionária
O resto eu bem compreendo!
Foi passando um boiadeiro
Quando ele dizia assim,
O boiadeiro pediu-lhe:
—Arranje isto pra mim
Não importa que a moça
Seja boa ou ruim!
O boiadeiro lhe disse:
—Eu dou-lhe de mão beijada,
Todos os meus possuídos
Vão aqui nessa boiada...
Fica o senhor como dono,
Pode seguir a jornada!
Ele condenado à morte
Não fez questão, aceitou,
Descoseu o tal surrão
O boiadeiro entrou
O pobre morto de medo
Num minuto costurou.
O pobre quando se viu
Livre daquela enrascada,
Montou-se num bom cavalo
E tomou conta da boiada,
Saiu por ali dizendo:
—A mim não falta mais nada.
Os capangas nada viram
Porque fizeram ligeiro,
Pegaram o dito surrão
Com o pobre do boiadeiro
Voaram de serra abaixo
Não ficou um osso inteiro.
Fazia dois ou três meses
Que o pobre negociava
A boiada que lhe deram
Cada vez mais aumentava
Foi ele um dia passar,
Onde o compadre morava...
Quando o compadre viu ele
De susto empalideceu;
—Compadre, por onde andava
Que agora me apareceu?!
Segundo o que me parece,
Está mais rico do que eu...
—Aqueles seus dois capangas
Voaram-me num lugar
Eu caí de serra abaixo
Até na beira do mar
Aí vi tanto dinheiro,
Quanto pudesse apanhar!..
—Quando me faltar dinheiro
Eu prontamente vou ver.
O que eu trouxe não é pouco,
Vai dando pra eu viver
Junto com a minha família,
Passar bem até morrer.
—Compadre, a sua riqueza
Diga que fui eu quem dei!
Pra você recompensar-me
Tudo quanto lhe arranjei,
É preciso que me bote
No lugar que lhe botei!..
Disse-lhe o pobre: —Pois não,
Estou pronto pra lhe mostrar!
Eu junto com os capangas
Nós mesmo vamos levar
E o surrão de serra abaixo
Sou eu quem quero empurrar!..
O velho no mesmo dia
Mandou fazer um surrão.
Depressa meteu-se nele,
Cego pela ambição
E disse: —Compadre eu estou
À tua disposição.
O pobre foi procurar
Dois cabras de confiança
Se fingindo satisfeito
Fazendo a coisa bem mansa
Só assim ele podia,
Tomar a sua vingança.
Saíram com este velho
Na carreira, sem parar
Subiram de serra acima
Até o último lugar
Daí voaram o surrão
Deixaram o velho embolar...
O velho ia pensando
De encontrar muito dinheiro,
Porém secedeu com ele
Do jeito do boiadeiro,
Que quando chegou embaixo
Não tinha um só osso inteiro.
Este livrinho nos mostra
Que a ambição nada convém
Todo homem ambicioso
Nunca pode viver bem,
Arriscando o que possui
Em cima do que já tem.
Cada um faça por si,
Eu também farei por mim!
É este um dos motivos
Que o mundo está ruim,
Porque estamos cercados
Dos homens que pensam assim.
O Professor Virgílio Pereira no Ensino
Eu conheci o Professor Virgílio Pereira quando era aluno na então Escola Industrial. Nunca fui aluno dele mas lembra-me de estar numa sala, que era também de passagem, chamada sala de estudo, com um quadro preto. Às vezes, o Professor Virgílio passava e os alunos estavam, por sua conta, a estudar e a fazer contas no quadro. Estava um no quadro, ele avançava, às vezes o aluno que estava no quadro ainda não o tinha visto, o Professor parava e punha-se a ver a resolução. Quando via que a resolução não estava a correr bem, dizia: - Olha lá, e se tu passasses este para ali e este para aqui, o que achas? - Ah, pois, sim, é mesmo! - O Professor seguia o seu caminho e os alunos, que, muitas vezes, nem eram alunos dele, lá ficavam com o problema resolvido.
Um dia encontrou um aluno no corredor e percebeu que ele tinha sido expulso da sala de aula. Levou o aluno à sala de aula, pediu para falar ao professor que o expulsara, em particular, no corredor, e disse-lhe mais ou menos isto: - Sabe, colega, eu não quero interferir no que o colega decidiu, mas sabe, são jovens, trabalham, sabe como é... - O colega professor aceitou o conselho do Professor Virgílio e o aluno foi readmitido na aula. Isto revela o carácter humanista do Professor Virgílio. O ensino era, no caso, nocturno. O professor, por acaso, era meu irmão, e contou-me.
Um dia encontrou um aluno no corredor e percebeu que ele tinha sido expulso da sala de aula. Levou o aluno à sala de aula, pediu para falar ao professor que o expulsara, em particular, no corredor, e disse-lhe mais ou menos isto: - Sabe, colega, eu não quero interferir no que o colega decidiu, mas sabe, são jovens, trabalham, sabe como é... - O colega professor aceitou o conselho do Professor Virgílio e o aluno foi readmitido na aula. Isto revela o carácter humanista do Professor Virgílio. O ensino era, no caso, nocturno. O professor, por acaso, era meu irmão, e contou-me.
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Professor Vírgilio Pereira
Sabatina a três tempos ao deputado tardo-populista
1. Tempo constituicional: o princípio estruturante do Estado de Direito é o princípio da presunção da inocência. Condenar alguém antes de haver uma sentença transitada em julgado é um atentado ao Estado de Direito. Fica mal a um deputado violar o princípio da presunção da inocência.
2. Tempo legal ou legisltativo: o princípio da não acumulação de reformas públicas anunciado é, aliás, de acordo com a não retroactividade das leis, para o futuro. Por exemplo, o actual titular do cargo e um dos candidatos ao mesmo de Presidente da República não é atingido por esse propósito anunciado. Não sendo aplicado a nível nacional, não sou favorável que se abra, também neste caso, mais uma brecha no Estado de Direito, acrescentado às muitas que já há a nível regional. Fica mal a um deputado violar o princípio da não retroactividade da lei.
3. Tempo político: um acordo, entendimento, pacto e outras formas de cooperação entre forças políticas pressupõe não só o respeito pela sua identidade como a pontencialidade e potenciação política das diferenças. Submeter-se um partido aos princípios políticos de outro não só empobrece a cooperação baseada na diferença como reduz o espaço de intervenção da "entente". Fica mal a um deputado de esquerda ter uma linguagem e atitudes de populismo de direita, como fica mal a um deputado de direita usar uma linguagem gauchista. As diferenças ideológicas enriquecem, ao contrário do que defendem os neoliberais.
2. Tempo legal ou legisltativo: o princípio da não acumulação de reformas públicas anunciado é, aliás, de acordo com a não retroactividade das leis, para o futuro. Por exemplo, o actual titular do cargo e um dos candidatos ao mesmo de Presidente da República não é atingido por esse propósito anunciado. Não sendo aplicado a nível nacional, não sou favorável que se abra, também neste caso, mais uma brecha no Estado de Direito, acrescentado às muitas que já há a nível regional. Fica mal a um deputado violar o princípio da não retroactividade da lei.
3. Tempo político: um acordo, entendimento, pacto e outras formas de cooperação entre forças políticas pressupõe não só o respeito pela sua identidade como a pontencialidade e potenciação política das diferenças. Submeter-se um partido aos princípios políticos de outro não só empobrece a cooperação baseada na diferença como reduz o espaço de intervenção da "entente". Fica mal a um deputado de esquerda ter uma linguagem e atitudes de populismo de direita, como fica mal a um deputado de direita usar uma linguagem gauchista. As diferenças ideológicas enriquecem, ao contrário do que defendem os neoliberais.
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Fernão Capelo Gaivota
Fernão Capelo Gaivota, aquele que só preocupa com o ser e, nessa busca, acaba por ultrapassar os que apenas se preocupam com o ter. Voar mais alto, voar melhor, voar na pefeição, que interessa o peixe? E, todavia, voando mais alto, mergulha mais fundo e apanha melhor peixe que os que desprezam a perfeição do voo e só se preocupam com o peixe. Fernão Capelo Gaivota, quisera ser!.
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ética estética
O «complexo de cerco» ou o amigo da onça
Um amigo pergunta a outro:
- Se visse uma onça o que é que você fazia?
- Corria para trás de uma árvore.
- E se mesmo assim a onça fosse no seu encalço?
- Subia na árvore.
- E se ele não saísse do pé da árvore?
- Hei cara, mas você é meu amigo ou é amigo da onça!
No PS-M há um complexo de certo há muito: o que é que acontece se o PSD aplica as medidas de austeridade? Trama-se o PS! E o que é que acontece se não aplica? Tramas-se o PS.
Mas a questão essencial não é com o PS-M. É com o PSD-M, ele é que é governo, é que tem de decidir. Só isso. Isto é, se o PSD não se agachar a Lisboa.
- Se visse uma onça o que é que você fazia?
- Corria para trás de uma árvore.
- E se mesmo assim a onça fosse no seu encalço?
- Subia na árvore.
- E se ele não saísse do pé da árvore?
- Hei cara, mas você é meu amigo ou é amigo da onça!
No PS-M há um complexo de certo há muito: o que é que acontece se o PSD aplica as medidas de austeridade? Trama-se o PS! E o que é que acontece se não aplica? Tramas-se o PS.
Mas a questão essencial não é com o PS-M. É com o PSD-M, ele é que é governo, é que tem de decidir. Só isso. Isto é, se o PSD não se agachar a Lisboa.
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medidas de austeridade do Governo PSD 2010
Carlos César admite criação do cargo de Presidente da Região
O presidente do Governo Regional dos Açores admitiu esta quarta-feira a possibilidade de ser criado o cargo de Presidente da Região, no quadro da revisão constitucional, desde que exista um consenso sobre a matéria entre os principais partidos.
“Admito essa possibilidade. Se a criação desse novo cargo ajudar a formação de um consenso entre os principais partidos, o PS cá está para ajudar nesse consenso e permitir uma solução com coerência técnica”, afirmou Carlos César, que é também líder do PS/Açores.
A possibilidade de ser criado o novo cargo apenas se coloca caso a próxima revisão constitucional extinga o actual cargo de Representante da República.
Para Carlos César, a criação de um novo cargo para absorver as competências do Representante da República apenas pode acontecer se existir um “consenso” entre o PS e o PSD, frisando, no entanto, que o mais importante é garantir que a revisão constitucional “não resulte no reforço de um aprisionamento por parte de instituições da área da soberania em relação ao livre exercício da autonomia regional”.
O presidente do executivo açoriano considerou “fundamental” um entendimento entre socialistas e social-democratas na região sobre “aquilo em que parece possível” existir um acordo.
“Acho que é possível haver entendimento entre os partidos referenciais da autonomia (PS e PSD), mas também dos outros partidos, à volta da evolução dessa figura tutelar, que é um pouco estranha e espúria à construção autonómica”, afirmou.
Nesse sentido, considerou que “há condições para uma evolução natural em que as competências agora a cargo do Representante da República sejam distribuídas, sem perda da coerência da arquitectura do Estado, por outras instituições ou titulares dentro do quadro institucional autonómico.
“Admito essa possibilidade. Se a criação desse novo cargo ajudar a formação de um consenso entre os principais partidos, o PS cá está para ajudar nesse consenso e permitir uma solução com coerência técnica”, afirmou Carlos César, que é também líder do PS/Açores.
A possibilidade de ser criado o novo cargo apenas se coloca caso a próxima revisão constitucional extinga o actual cargo de Representante da República.
Para Carlos César, a criação de um novo cargo para absorver as competências do Representante da República apenas pode acontecer se existir um “consenso” entre o PS e o PSD, frisando, no entanto, que o mais importante é garantir que a revisão constitucional “não resulte no reforço de um aprisionamento por parte de instituições da área da soberania em relação ao livre exercício da autonomia regional”.
O presidente do executivo açoriano considerou “fundamental” um entendimento entre socialistas e social-democratas na região sobre “aquilo em que parece possível” existir um acordo.
“Acho que é possível haver entendimento entre os partidos referenciais da autonomia (PS e PSD), mas também dos outros partidos, à volta da evolução dessa figura tutelar, que é um pouco estranha e espúria à construção autonómica”, afirmou.
Nesse sentido, considerou que “há condições para uma evolução natural em que as competências agora a cargo do Representante da República sejam distribuídas, sem perda da coerência da arquitectura do Estado, por outras instituições ou titulares dentro do quadro institucional autonómico.
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Autonomia
Argumentos do Purgatório
Nem quente nem frio. A questão se coloca é esta e bem esta:
1. O Governo Regional do PSD reconhece ou não que a situação regional exige medidas de austeridade?
2. O GR tem ou não coragem para assumir que tem de aplicá-las, ou vai abrigar-se no guarda-chuva do Governo da República?
Estas são as questões.
1. O Governo Regional do PSD reconhece ou não que a situação regional exige medidas de austeridade?
2. O GR tem ou não coragem para assumir que tem de aplicá-las, ou vai abrigar-se no guarda-chuva do Governo da República?
Estas são as questões.
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medidas de austeridade do Governo PSD 2010
Em que mundo é que JMR vive? No Mundo do OZ!
No dia em que o Diário anuncia Serrão não quer corte na Lei de Meios, José Manuel Rodrigues vem acusar, no mesmo jornal, de silêncio o PS-Madeira. Claro que o Mundo do Oz para JMR é Lisboa. Acho até que JMR já não sabe quanto custa uma bica no Apolo - mas depressa na Pastelaria Suiça, no Rossio.
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partidos regionais com piloto automático
Saudação especial aos deputados Vítor Freitas, PS, Edgar Silva, PCP, e Lino Abreu, CDS...
... que usam retomam os seus lugares no parlamento regional.
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PARLAMENTO
O CDS é o típico caso de um partido a funcionar com um piloto Automático.
O CDS-Madeira está claramente sem líder efectivo. José Manuel vem à Madeira aos fins-de-semana, deita uns pingos de óleo nos mecanismos da máquina emperrada de um partido que quase só funciona ligado à comunicação social e ala que se faz tarde para o parlamento de Lisboa. Durante a semana, alguém fica encarregado do gota-a-gota. Não fossem os comentários de Roberto Rodrigues, e o CDS estava praticamente ausente do debate. Nota-se claramente um alheamento das questões da Madeira, um discurso que parece o de um extra-terrestre desembarcado no planeta, situado aquém das novas realidades políticas regionais. É deveras confrangedor ver o estado a que chegou o CDS-Madeira.
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partidos regionais com piloto automático
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Governo Socialista dos Açores admite não aplicar automaticamente medidas do Governo Socialista de Lisboa
Então, agora, como em que ficamos? Para os que diziam que o PS-Madeira não estava a fazer o que devia ser feito, cá vai a notícia: Governo Socialista dos Açores admite que "algumas das medidas [do Governo Socialista de Lisboa] podem não ter aplicação automática no arquipélago".
O Governo Regional dos Açores quebrou o silêncio sobre as medidas de austeridade, anunciadas Quarta-feira pelo Primeiro-Ministro, José Sócrates.
A informação disponibilizada encontra-se no sítio do Governo na Internet, www.azores.gov.pt , sendo necessário clicar em "Notícias".
Na Nota em referência, o Governo "garante que não prescindirá da defesa dos interesses da Região, face às medidas de austeridade".
É entendimento do vice-presidente do Executivo, Sérgio Ávila, que "algumas das medidas podem não ter aplicação automática no arquipélago", mas, também, não especifica quais.
Segundo ainda Sérgio Ávila, o Governo "está atento à anunciada diminuição das transferências financeiras do Estado e, sobretudo, para o caso de acontecerem à margem ou contra o estabelecido da Lei das Finanças para as Regiões Autónomas".
"É com particular atenção" - prossegue a Nota - "que o Governo acompanha, também, a possibilidade da redução das indemnizações compensatórias do Estado às empresas que fazem o transporte aéreo entre os Açores e o Continente".
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medidas de austeridade do Governo PSD 2010
José Manuel Rodrigues, deputado do parlamento de Lisboa, ignora os funcionários públicos e professores madeirenses
ESTRANHO SILÊNCIO: José Manuel Rodrigues, deputado do parlamento de Lisboa, de passagem pela Madeira, não disse nem uma palavra sobre os cortes nos salários dos funcionários públicos e dos professores madeirenses. Embora não seja membro do parlamento madeirense, JMR devia dizer se é a favor dos cortes dos salários que ...o Governo do PSD se prepara para aplicar na Madeira, metendo a Autonomia na gaveta.
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medidas de austeridade do Governo PSD 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
PESO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS NA POPULAÇÃO ACTIVA: a grande mentira dos neoliberais portugueses
(A posição de Portugal alterou-se e passou a ser o 2º. à frente da Espanha, com menor percentagem no peso em relação à população activa, desde 2005)
Suécia - 33,3%
Dinamarca - 30,4%
Bélgica - 28,8%
Reino Unido - 27,4%
Finlândia - 26,4%
Holanda - 25,9%
França - 24,6%
Alemanha - 24%
Hungria - 22%
Eslováquia - 21,4%
Áustria - 20,9%
Grécia - 20,6%
Irlanda - 20,6%
Polónia - 19,8%
Itália - 19,2%
República Checa - 19,2%
PORTUGAL - 17,9%
Espanha - 17,2%
Luxemburgo - 16%
(Fonte EUROSTAT)
Suécia - 33,3%
Dinamarca - 30,4%
Bélgica - 28,8%
Reino Unido - 27,4%
Finlândia - 26,4%
Holanda - 25,9%
França - 24,6%
Alemanha - 24%
Hungria - 22%
Eslováquia - 21,4%
Áustria - 20,9%
Grécia - 20,6%
Irlanda - 20,6%
Polónia - 19,8%
Itália - 19,2%
República Checa - 19,2%
PORTUGAL - 17,9%
Espanha - 17,2%
Luxemburgo - 16%
(Fonte EUROSTAT)
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Função Pública
domingo, 3 de outubro de 2010
Argumentos do diabo: se o PSD acha que as medidas de austeridade devem ser aplicadas na Madeira, diga
O que o PSD não pode é, por falta de coragem política, criticar as medidas, a aplicá-las. O PS, apresentou estes dois argumentos do Diabo:
o PSD e o Governo estão colocados perante uma encruzilhada: ou aplicam as medidas gravosas e assumem na íntegra a responsabilidade decorrente da sua execução; ou demarcam-se delas, exercendo as suas competências autonómicas, e escolhem o seu próprio caminho. “O que o PSD-Madeira não pode é aplicá-las e não querer assumir a sua responsabilidade. Seria um acto de covardia política eticamente condenável”, considera o líder do PS-Madeira.
Aqui está. O PSD decide.
A questão é simples:
1) O PSD Madeira tem competências para não aplicá-las.
2) Compete-lhe decidir.
É justo que o PSD as aplique e seja o PS-Madeira, que não é governo, a pagar o ónus político? Na República, o Governo do PS aplica, o PS paga os custos políticos; na Madeira, o PSD aplica, o PS-Madeira é que tem de pagar os custos políticos.
Tem sido assim no passado e, pelos vistos, há quem concorde com isto. Eu não concordo.
o PSD e o Governo estão colocados perante uma encruzilhada: ou aplicam as medidas gravosas e assumem na íntegra a responsabilidade decorrente da sua execução; ou demarcam-se delas, exercendo as suas competências autonómicas, e escolhem o seu próprio caminho. “O que o PSD-Madeira não pode é aplicá-las e não querer assumir a sua responsabilidade. Seria um acto de covardia política eticamente condenável”, considera o líder do PS-Madeira.
Aqui está. O PSD decide.
A questão é simples:
1) O PSD Madeira tem competências para não aplicá-las.
2) Compete-lhe decidir.
É justo que o PSD as aplique e seja o PS-Madeira, que não é governo, a pagar o ónus político? Na República, o Governo do PS aplica, o PS paga os custos políticos; na Madeira, o PSD aplica, o PS-Madeira é que tem de pagar os custos políticos.
Tem sido assim no passado e, pelos vistos, há quem concorde com isto. Eu não concordo.
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E vão 3: PCP (Novembro 2009), BE e PS desafiam o PSD-Madeira a usar a Autonomia no bom sentido, isto é, para defender os madeirenses
Em Novembro de 2009, invocou competências constituicionais para propor o aumento do subsídio de insularidade, o BE vem pedir ao Governo do PSD que use as Autonomia para não fazer os madeirenses sofrer as medidas de austeridade do GRepública, o PS "desafia o Governo Regional a esclarecer se vai, ou não, baixar os salários dos funcionários públicos na Madeira.
O líder do PS lembrou, esta tarde, em São Vicente, que o Executivo madeirense pode recorrer à Autonomia para não aplicar na íntegra as medidas de austeridade".
Como é que é? Para que serve a Autonomia, para fazer barulho? Não, muito obrigado!
O líder do PS lembrou, esta tarde, em São Vicente, que o Executivo madeirense pode recorrer à Autonomia para não aplicar na íntegra as medidas de austeridade".
Como é que é? Para que serve a Autonomia, para fazer barulho? Não, muito obrigado!
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PS-M não quer medidas do PS nacional aplicadas na Madeira
A firmeza e a determinação que tanto irrita o Diário/Ricardo (lê-se Diário barra Ricardo)Jacinto Serrão desafia o Governo Regional a esclarecer se vai, ou não, baixar os salários dos funcionários públicos na Madeira.
O líder do PS lembrou, esta tarde, em São Vicente, que o Executivo madeirense pode recorrer à Autonomia para não aplicar na íntegra as medidas de austeridade
O líder do PS lembrou, esta tarde, em São Vicente, que o Executivo madeirense pode recorrer à Autonomia para não aplicar na íntegra as medidas de austeridade
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sábado, 2 de outubro de 2010
O Diário e o Regime
O Diário e o Regime estão em Guerra ou trata-se apenas de uma zona de conflito no interior do regime?
Vejamos dois exemplos para responder a esta questão.
1. Surgiu a Convergência Democrática. É óbvio que, independentemente do seu sucesso, é um processo democrático que tem em si potencialidades políticas para abanar o regime. Que fez o Diário? Ignorou, desvalorizou, satirizou, jamais debateu ou promoveu o debate. Até os seus editorialistas mais prestigiados e revoltados fizeram de conta que não havia nada de novo.
2. Impostos e salários, medidas de austeridade: alguns líderes da Oposição já demonstraram que o governo regional tem competências constitucionais para não aplicar na íntegra as medidas de austeridade na Madeira. O que faz o Diário? Ignora, esconde, confunde. E faz uma primeira página ontem que é um serviço ao regime. Já o que é dito sobre as responsabilidades do Governo do PSD nesta matéria é abafado ou omitido.
Em conclusão: não há uma guerra entre o Diário e o Regime, nem tinha de haver. O que há é uma zona de conflito dentro de regime entre o Diário e a liderança do PSD, provavelmente com colaboração e ao serviço de uma das facções que disputa a sucessão no interior do PSD.
Se a Oposição ainda não percebeu isto, pior para ela!
Vejamos dois exemplos para responder a esta questão.
1. Surgiu a Convergência Democrática. É óbvio que, independentemente do seu sucesso, é um processo democrático que tem em si potencialidades políticas para abanar o regime. Que fez o Diário? Ignorou, desvalorizou, satirizou, jamais debateu ou promoveu o debate. Até os seus editorialistas mais prestigiados e revoltados fizeram de conta que não havia nada de novo.
2. Impostos e salários, medidas de austeridade: alguns líderes da Oposição já demonstraram que o governo regional tem competências constitucionais para não aplicar na íntegra as medidas de austeridade na Madeira. O que faz o Diário? Ignora, esconde, confunde. E faz uma primeira página ontem que é um serviço ao regime. Já o que é dito sobre as responsabilidades do Governo do PSD nesta matéria é abafado ou omitido.
Em conclusão: não há uma guerra entre o Diário e o Regime, nem tinha de haver. O que há é uma zona de conflito dentro de regime entre o Diário e a liderança do PSD, provavelmente com colaboração e ao serviço de uma das facções que disputa a sucessão no interior do PSD.
Se a Oposição ainda não percebeu isto, pior para ela!
Os partidos da Oposição na Madeira têm liderança política efectiva ou também funcionam com piloto automático?
Versão completa
Se alguns partidos da Oposição querem crescer à custa do PS-M fazem mal, quer do ponto vista político, quer do ponto de vista aritmético e pragmático. Do ponto de vista político, o crescimento dos partidos da oposição à custa uns dos outros não altera a força relativa do conjunto da Oposição em relação ao poder e deixa o PSD imune. A não ser que a questão seja apenas ter mais um lugar no parlamento ou noutro órgão autárquico. Qual o interesse político de o PS ter mais um lugar à custa do PCP, do CDS, do BE, do PND, mesmo do MPT, se o PSD ficar com o mesmo número de assentos parlamentares? Isto do ponto de vista político. Já do ponto de vista aritmético, o espaço do PS-M é já muito reduzido para fazer crescer os outros. Já o PSD, tem 60% de espaço que dá para todos! Do ponto de vista democrático, a democracia fica mais fraca, a força da oposição mais frágil, o PSD ainda mais arrogante e prepotente. As maiorias absolutas tendem a ser absolutistas, as maiorias absolutas prolongadas, a ser autocráticas e autistas.
Não há partidos regionais, por imposição da Constituição, o que devia ser alterado. Mas os estatutos dos partidos nacionais criaram estruturas autónomas para as suas federações na Madeira e nos Açores. Na verdade, se do ponto de vista legal e constitucional, não há partidos regionais, do ponto de vista político, os partidos funcionam na Madeira e Açores como entidades autónomas, com estratégia política adequada às circunstâncias. Seria absurdo que, nas regiões autónomas, os partidos funcionassem como meras delegações distritais das direcções nacionais.
Sendo assim, não se compreende que alguns partidos da Oposição tenham tido, no passado estratégias políticas na Madeira e nos Açores como se as regiões insulares ainda fossem distritos, como no regime fascista, e não regiões autónomas. Ou seja: que responsabilidade política têm os governos regionais em momentos como aquele que estamos atravessando?
É que das duas uma: 1) ou os órgãos de governo próprio se comportam como instituições constitucionais de regiões autónomas ou então basta um representante da república a funcionar como um político automático que aplica o que o governo central todo poderoso determina; 2) ou os partidos da oposição regional funcionam como entidades políticas de acordo com os seus próprios estatutos internos, que criaram estruturas com autonomia estatutária na Madeira e nos Açores ou então é melhor que volvam ou virem estruturas distritais sem autonomia estatutária, sem autonomia política, sem autonomia estratégica.
Claro que isto é escrito sob o pano de fundo das medidas de austeridade do governo socialista da república. Ninguém questiona, era o que faltava, o direito de os partidos da Oposição, não apenas no País, mas também na Madeira, tomarem posição perante estas medidas. Agora o tomar posição perante elas não pode implicar a desresponsabilização política dos governos regionais nos casos em que eles tenham e têm mecanismos e poderes constitucionais para não as aplicar na Madeira. E foi exactamente isso que disse o líder do PS-M. E, aliás, é bom lembrar, o próprio líder do PCP-Madeira, muito antes do líder do PS, o disse a propósito do Subsídio de Insularidade como mecanismo de correcção das nossas condições de ultraperiferia. Eu, que não poucas vezes critiquei o PCP, tenho de reconhecer aqui a coerência dos comunistas.
Portanto a situação é muito clara: além do PS e do PCP, ou os outros partidos da Oposição acham que o PSD e o seu Governo Regional aplica automaticamente as medidas, estas ou outras, na Região ou não acham. Note-se que o governo dos Açores, no passado, não o fez. Veja-se o caso do congelamento da carreira com os vencimentos correspondentes. Note-se: mesmo que o faça agora, é uma opção política, não é uma inevitabilidade inconstitucional.
Se os partidos da oposição acham que o governo regional do PSD é um mero executante das políticas dos governos da república, então devem, em coerência, abdicar quer da autonomia constitucional das regiões autónomas, quer da autonomia estatutária interna de que gozam as suas representações na Madeira e nos Açores. Para funcionarem com meros pilotos automáticos, fica mais barato fecharem os parlamentos regionais, deixar de haver governos autónomos, acabar com secretários regionais, deputados regionais, assessores e adjuntos regionais (…), directores regionais, um frota automóvel caríssima, fica tudo mais barato. Basta Sua Excelência o Representante da República!
É de esperar que a Oposição e os partidos que a compõem tenham efectivas lideranças políticas. Para piloto automático já basta o Governo Regional do PSD.
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