Eu conheci o Professor Virgílio Pereira quando era aluno na então Escola Industrial. Nunca fui aluno dele mas lembra-me de estar numa sala, que era também de passagem, chamada sala de estudo, com um quadro preto. Às vezes, o Professor Virgílio passava e os alunos estavam, por sua conta, a estudar e a fazer contas no quadro. Estava um no quadro, ele avançava, às vezes o aluno que estava no quadro ainda não o tinha visto, o Professor parava e punha-se a ver a resolução. Quando via que a resolução não estava a correr bem, dizia: - Olha lá, e se tu passasses este para ali e este para aqui, o que achas? - Ah, pois, sim, é mesmo! - O Professor seguia o seu caminho e os alunos, que, muitas vezes, nem eram alunos dele, lá ficavam com o problema resolvido.
Um dia encontrou um aluno no corredor e percebeu que ele tinha sido expulso da sala de aula. Levou o aluno à sala de aula, pediu para falar ao professor que o expulsara, em particular, no corredor, e disse-lhe mais ou menos isto: - Sabe, colega, eu não quero interferir no que o colega decidiu, mas sabe, são jovens, trabalham, sabe como é... - O colega professor aceitou o conselho do Professor Virgílio e o aluno foi readmitido na aula. Isto revela o carácter humanista do Professor Virgílio. O ensino era, no caso, nocturno. O professor, por acaso, era meu irmão, e contou-me.
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