segunda-feira, 28 de abril de 2008
A GLOBALIZAÇÃO E O FUTURO DAS LÍNGUAS
Se me é permitido, exponho a questão do futuro das Línguas na era da Globalização:
O futuro das grandes línguas europeias está também dependente do tipo de colonização europeia levada a cabo. Entende-se aqui colonização numa perspectiva genética, isto é, de deslocação de populações que deixam o seu território de origem para se fixar numa nova ecologia e não no sentido político. Segundo Salikoko Mufwene, foram três os tipos de colonização : a) de comércio (entre a Europa e a África, séc. XVI); b) colonização de exploração (África, século XIX e XX); e c) de povoamento, levada a cabo pelos ingleses, franceses, espanhóis e portugueses no Novo Mundo, América do Norte e do Sul e posteriormente na Nova Zelândia e sobretudo a Austrália.
Neste três tipos de colonização, os efeitos linguísticos daí resultantes foram diversos.
a) A colonização de comércio não teve um domínio efectivo dos europeus sobre os povos indígenas, foi feita com base na igualdade e, portanto, não houve domínio linguístico, antes dando lugar a novos línguas, os pidgins, espécie de línguas francas resultantes do contacto do português, do espanhol, do inglês e do francês com povos do oriente e da África. Os pidgins eram uma espécie de língua franca, usada no comércio.
b) Na colonização de exploração, da Ásia, mas sobretudo da África, nos séculos XIX e XX, os europeus não procuram estabelecer novas pátrias, mas bases de exploração comercial ao serviço das suas metrópoles. Por isso, em princípio, a língua europeia era usada na administração mas não era imposta às populações. Nas colónias portuguesas, apenas uma minoria autóctone falava a língua portuguesa. O início da guerra colonial vai contribuir para expansão da Língua Portuguesa em África, mas é sobretudo a Independência dos territórios africanos que vai permitir a consolidação do Português como Língua de coesão nacional. Ou seja, a colonização linguística prossegue depois da independência por interesse político e de soberania dos povos que ascenderam à independência. Ou seja, a Independência dos povos permite a sua inserção definitiva no espaço da lusofonia, ao contrário do período colonial, onde o perigo de sairem desse espaço sempre existiu. Veja-se o caso de grande parte do Brasil e de Angola, dominados pelos Holandeses no século XVII, ou de Angola e Moçambique, cobiçadas por Ingleses e Alemães no início do Século XX, o que explica a entrada de Portugal na Grande Guerra 1914/1918, para estar entre as potências vencedoras.
c) Bem diferente é o estatuto das línguas europeias nas colónias de povoamento, onde os europeus procuram criar novas pátrias, e daí se falar de Nova Inglaterra, Nova Espanha, ou o Brasil visto como um novo Portugal, com o caso único do reino Unido de Portugal e Brasil. No caso dos Estados Unidos, o inglês confronta-se com o francês, o sueco ou o alemão, que vão ceder perante a nova forma de inglês que hoje se fala nos Estados Unidos (Salikoko Mufwene defende que “uma língua de difusão mundial tem hoje a promessa de um belo futuro devido ao processo de crioulização que atravessa: o anglo-americano”).
A crioulização resulta do contacto de uma língua com outras línguas faladas pelos povos nativos que se relacionam entre si na língua do colonizador, à qual dão contributos que vivificam essa língua europeia de origem. Esse processo linguístico de língua de povoamento aconteceu também ao longo da História da Europa, onde se verifica um palimpsesto de fenómenos de colonização, através de migrações constantes que levam ao desaparecimento das línguas dos povos colonizados, como é o caso das línguas ibéricas antes da chegada dos romanos e das línguas celtas que desapareceram da actual França e da Grã-Bretanha, onde ainda subsistem e ressuscitam (outro fenómeno linguístico que se pode observar, com o retorno de línguas desaparecidas ou consideradas mortas: o celta da Cornualha ou o Português em Timor, ou o Timorense (tétum) como língua veicular em Timor, ou o Hebraico em Israel).
O fenómeno que se dá com o inglês na América e na Austrália (o inglês americano ou australiano), dá-se com o francês no Quebeque, as diferentes variantes do Espanhol e o mesmo se diga das diferentes variantes brasileiras do Português, visto que não há uma só variante brasileira, e, por isso mesmo, o Português na norma culta brasileira, terá de continuar a ser a Língua nacional brasileira. Neste caso podemos aplicar ao Português o mesmo raciocínio de Salikoko Mufwene em relação ao inglês, “mutatis mutandis”: “uma língua de difusão mundial tem hoje a promessa de um belo futuro devido ao processo de crioulização que atravessa: o luso-brasileiro".
A moda e o snobismo também influenciam a língua, como acontece, por exemplo, na Madeira, particularmente, por paradoxo, depois da Autonomia, onde se assiste a um fenómeno com duplo sentido: por um lado, a consciencialização assumida sem complexos de que há diferenças a nível de pronúncia, por outro, perda de certas características a nível da sintaxe, da fonética (falar à lisboeta, como se diz tradicionalmente, fenómeno que não é exclusivo da região mas de todo o país), e ainda do léxico. Hoje, a um certo nível social, poucos são os que dizem "semilha", porque acham que isso não é prestigiante, assim como são muitos os que dizem “cobarde” em vez de "covarde", como diz o povo em geral, questões de que já aqui falei. Ou seja, com a autonomia, assiste-se ao domínio da sintaxe, do léxico e da fonética do que se considera a norma padrão do território da Lusitânia.
Cf. Artigo de Salikoko S. Mufwene (in “Para onde vão os Valores?”).
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