segunda-feira, 21 de abril de 2008
ACORDO ORTOGRÁFICO II
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, Data: 18-04-2008
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O Acordo Ortográfico
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Sobre o Acordo Ortográfico, convém lembrar alguns princípios. A queda das consoantes mudas é um movimento próprio da Língua Portuguesa e nada tem a ver com a variante brasileira da língua. Alguns exemplos de entre milhares: "sancto", "victoria", "producto", "lucta", etc.
Dizer que as consoantes mudas servem para abrir as vogais: é uma explicação que nada tem de científico, pois essas consoantes têm explicação etimológica e não fonética. Senão, como explicar a fonética dos seguintes termos: actual, actividade, actuação, actuar, em que a consoante "c" não contribui para a abertura da vogal "a".
A consoante epentética (no meio) nunca cairá quando for articulada num dos países, considerando-se correcta a dupla grafia. É o caso de "facto". Como hoje já acontece em muitos casos - "registo"/"registro", "planear"/"planejar", "aluguer"/"aluguel" (meu avó materno, do Seixal, ainda dizia "aluguel".
O argumento de que a queda das consoantes mudas poderá provocar o fechamento das vogais (hipótese admissível) é esquecer, no entanto, que palavras como "baptizado" ou "baptismo" têm o primeiro "a" aberto, mesmo quando a prolação é feita por analfabetos que desconhecem que essas vocábulos se escrevem com essas consoantes mudas.
A própria palavra "prolação" (pronunciamento) ou "inflação" não precisam de dois "c" para que se verifique a abertura do "a" medial. O argumento do mercado: se alguém tem a ganhar com a unificação ortográfica são os editores portugueses: ganham um mercado de 190 milhões de brasileiros enquanto estes acrescentam ao mercado apenas dez milhões de portugueses, além dos africanos.
O Brasil quer ser uma potência. Precisa de uma língua universal e tem interesse no acordo. Mas ele já impõe, obviamente, a sua ortografia em muitos areópagos, e é na ortografia brasileira que muitos livros, nomeadamente na área da linguística, estão escritos. E nos organismos onde a Língua Portuguesa é ou será Língua de trabalho, como a ONU, haverá uma só norma ortográfica. A 14 anos do II Centenário da Independência do Brasil, alguns sectores comportam-se em Portugal como a corte de Lisboa, que exigiu a D. Pedro que regressasse à Europa.
Será que esses resquícios de colonialismo não terão o mesmo efeito na declaração da independência linguística do Brasil, farto de aturar alguma arrogância cultural de certos círculos lusos? Tomáramos nós que esta nossa Língua - nossa, dos lusofalantes - se universalize, mesmo que na versão brasileira: quando isso acontecer, Portugal, tal como a Inglaterra para o Inglês, será sempre o santuário de onde saiu a Língua e onde hão-de acorrer os que a quiserem conhecer na fonte. Sejamos patriotas, mas universais.
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