quinta-feira, 29 de maio de 2008

FORA COM OS MERITOCRATAS. VIVA A FELICIDADE!


Texto do Jarnalista João Pereira Coutinho que me foi enviado por Renato de Barros.
(título da postagem: bastaqsim)

Não tenho filhos e tremo só de pensar.
Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades.
Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da
benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão
invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de
contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou
duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da
fortuna familiar. Hoje, não.
A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as
barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições
de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores
explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um
potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou
definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida
mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos
outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego
de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho,
as férias de sonho, os restaurantes de sonho. Não admira que, até
2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É
a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais
queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera
uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço
de humanidade. Não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a
ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da
vida não é a excelência, mas sim a felicidade!

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