sexta-feira, 9 de maio de 2008

2009, Santa Cruz, uma Câmara ingovernável?




O resultado das eleições intercalares em Gaula, independentemente do que eles venham a ser, pode não passar de um fenómeno local, mas pode ter consequência na geografia eleitoral do concelho neste momento ainda não mensuráveis mas susceptíveis de ser analisados em diferentes perspectivas.
Desde as primeiras eleições livres em Portugal que se notou que a base eleitoral dos partidos manteve um núcleo duro que, até 1985, se traduzia em números próximo destes para os dois maiores partidos: entre 35% e 37% para o PS e 25/27% para o PPD, e em termos do espectro político, 54/56% por cento à esquerda, 44/46% por cento à direita. Ou seja, esta fidelidade eleitoral, de contornos claramente ideológicos com algumas conotações de comportamentos clubistas, tornava impossível a formação de maiorias de governo de um só partido, visto que só há e só pode ver alternância com eleitorado flutuante. É bom lembrar que o PSD de Cavaco, em 1985, apenas obteve 29% do eleitorado, subindo 2% do resultado de 1983 (com Mota Pinto).
O que é que veio mudar drasticamente este cenário e veio dar origem à alternância política, à direita e à esquerda? O primeiro fenómeno, equivalente à teoria do caos, a tal borboleta que abana as asas em Nova Iorque e provoca um tornado em Pequim, foi o aparecimento do PRD. Finalmente, o eleitorado de centro-esquerda podia deixar de votar PS sem votar à direita e sem votar comunista. Ou seja, formou-se um enxame de eleitores até aí fieis ao Partido Socialista, que votou em outra força política. Uma vez livre daquela espécie de disciplina de voto marcadamente partidária (sem deixar de ser ideológica, num primeiro momento) estaria, no entanto, disponível para outras opções que as circunstâncias tornassem necessárias. E esse enxame eleitoral, de cerca de um milhão, dois anos depois, já estava a votar em Cavaco Silva, que passa de 29% para 50% dos votos. E a partir daí, foi possível criar alternativas à direita e à esquerda, quase sempre de um só partido, desde as quase-maiorias de Guterres à maioria absoluta de Sócrates.
Ora, na Madeira, essa teoria do caos ainda não aconteceu com dimensões razoáveis e o eleitorado fiel dos dois maiores partidos está muito distante entre si. Entre o máximo e mínimo de 60 a 45% por cento para o PSD (nas nacionais) e os 15% e os 35 (nacionais) para o PS. Assim, não há alternativa, tanto mais que à sua direita, o PSD não tem um CDS que lhe crie situações de obrigar a alianças à direita, velho sonho do PP.
Ao longo deste anos, o PSD, com o intuito de criar dificuldades ao PS, para não dizer destruir a sua base eleitoral de apoio, tem acarinhado e apoiado de diversas formas formações como o PSN e o MPT.
Surge agora o caso dos independentes nas eleições de Gaula, com projecto claramente visando o concelho nas autárquicas de 2009. Sendo o núcleo desses independentes do PS este partido aparece, à partida, como a força política mais atingida e de facto assim é. Mas é bom lembrar que, se esse movimento aparece é porque acha que as suas possibilidades de entrar em outras espaços eleitorais que não o espaço tradicional do PS são maiores como independentes do que como concorrentes por esse partido. Levando uma boa fatia do eleitorado do PS, como entendem, levam ou têm como objectivo eleitoral uma fatia dos eleitores social-democratas. Se analisarmos resultados em algumas eleições anteriores, verificamos que era essa a diferença que faltava para o PS ter ganho a Câmara de Santa Cruz, e, portanto, a pequena fatia que leve ao PSD, mesmo hipotética e previsivelmente podendo ser inferior à fatia subtraída ao PS, poderá causar consequências políticas mais nefastas ao PSD, porque, sendo ele o actual detentor da Câmara, poderá ver-se em palpos de aranha para conseguir uma maioria que suporte e lhe dê estabilidade à câmara, se vier a ser ele o partido mais votado. Tanto mais que a nova lei, que dava primazia ao partido mais votado, não entrou em vigor,
O caso de Lisboa aí está para o demonstrar.

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