terça-feira, 6 de maio de 2008
AFINAL, FILIPE SOUSA FOI OU NÃO FOI UM BOM AUTARCA?
Directo ao assunto: acho que Filipe Sousa foi não só um bom presidente de junta como acho que continua a ser socialista. E adianto mesmo que, se votasse em Gaula, votaria na lista do PS - até porque o PS tem uma excelente candidata, Aura Teixeira, com uma grande experiência de vida e política, com provas dadas - como também, se, como acontece em França, a nossa lei previsse uma segunda volta, votaria na lista independente apoiada por Filipe Sousa e não na lista do PSD.
Digo mais: quer o PS quer o PSD devem estar preparados para três cenários possíveis:
-Vitória do PS, vitória dos independentes; vitória do PSD (pela ordem da minha preferência) em que o segundo e o terceiro lugares também são igualmente aleatórios.
Acontece que não é isso que está em causa no processo que levou à actual situação, não é o mérito do Filipe, enquanto foi presidente da junta de Gaula, ou a sua ideologia, mas um projecto partidário e a sua autonomia.
O PS tem um projecto político em função e em defesa do qual se apresenta a todas as eleições: apoia um candidato presidencial próprio desde 1976, tem um projecto para Portugal, para a Madeira, para o poder local autárquico. Filipe Sousa achou que, nesta fase, interessava integrar uma candidatura independente. E mais o fez sem que houvesse uma total clareza em relação ao PS, o que terá impedido um acordo quanto ao essencial, e inviabilizou uma cooperação estratégica, nomeadamente quanto ao projecto autárquico socialista. Se fosse a questão do bom desempenho que estivesse m causa, então votava-se num bom primeiro-mininistro mesmo que o seu projecto político não fosse o nosso. Ora, não é isso a democracia, em que a autonomia dos projectos é essencial à alternância.
Chegados a este ponto, há que dizer: em democracia, há rupturas que vêm a revelar-se, mais tarde, potenciadoras de grande alterações políticas. Estou-me a lembrar de Lopes Cardoso ou Medeiros Ferreira, que saíram do PS em rota de colisão com Mário Soares, sem deixarem de ser socialistas e vieram depois, mais tarde, a coincidir em novas lutas políticas contra a Direita.
E a teoria do caos – “uma pequena variação nas condições em determinado ponto de um sistema dinâmico pode ter consequências de proporções inimagináveis, o bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque” - já provada politicamente em Portugal, com o aparecimento do PRD em 1985, que provocou o estilhaçar momentâneo do sistema partidário tal como se tinha cristalizado desde o 25 de Abril - deve fazer amainar a ânsia dos socialistas e refrear a exultação eventual do PSD.
Primeiro, porque se trata de um mero fenómeno local, segundo, porque o futuro pode vir a trazer mais preocupações ao PSD, partido actualmente no poder na Câmara, que ao PS. Estes dados são o ponto de partida para a questão - 2009, Santa Cruz: uma Câmara ingovernável?
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