quarta-feira, 7 de maio de 2008

O FANTASMA DO RELÓGIO




Parece que só agora é que a presidência da ALR viu que há um fantasma que paira sobre o parlamento, o fantasma do relógio com o espectro de cronómetro: os deputados da oposição, nomeadamente os deputados dos partidos mais pequenos, têm o relógio, qual espada de Dâmocles, que os impede de cumprirem a sua função parlamentar (parler, parlare, falar, expôr, argumentar, defender as suas ideias); os deputados do PSD cada vez mais apertam o tempo de cronómetro na mão e no regimento; o deputado do PND deu corpo ao fantasma e trouxe o cronómetro ao pescoço. A mesa fez o que o PND esperava dela: agitou-se e provocou o escândalo. Se deixasse o senhor deputado com o relógio dependurado ao pescoço, não teria havido incidente - Herculano Pombo, deputado dos Verdes na Ass. da República, trouxe uma gaiola com uma pomba, que colocou na sua bancada enquanto o Presidente Reagan discursava na AR. Ninguém o incomodou, aliás, o grupo parlamentar do PCP e os Verdes saíram e lá ficou a gaiola e não houve incidente. Cenas radicais de partidos radicais acontecem nos parlamentos europeus, sem provocarem a balbúrdia que provocou: não foi o relógio ao pescoço que provocou o tumulto; e nem seque o modo atabalhoado com que a mesa da ALR geriu o incidente, que teria sido perfeitamente integrado em qualquer parlamento europeu - o que provou tudo isto foi a consciência pesada em forma de cronómetro que o PSD trás amarrada ao pescoço de que aquele relógio era a caricatura da realidade parlamentar, cuja dignidade só pode ser restaurada quando, além daquele relógio caricatural, se acabe com a caricatura de parlamento em que esta assembleia se tornou.
Assim, a maneira de acabar com os fantasmas horológicos na ALR é uma profunda reforma do parlamento. (Ou será que os deputados do PSD não confiam em si e na acção do seu governo e, não tendo argumentos, têm de cortar no tempo para impedir que os deputados da oposição apresentem os seus argumentos, o que significa que eles são verdadeiros e os incomodam?). Senão, estes episódios vão repetir-se. Neste episódio há que realçar a conduta de Roberto Almada e a resposta política que soube dar. Basta de relógios de cronómetro no parlamento!
(Chamar a polícia? Tenham dó! A não ser queiram ir para o You Tube!).

P.S.
Conta-se a história de uma professora que, a seguir ao 25 de Abril, em pleno PREC, foi confrontada com um aluno nocturno que lhe pareceu em pleno aula completamente nu. Chamou-o ao quadro: - Vire-se. - Virou-se. - O senhor é um autêntico frasco. - Nunca mais repetiu a brincadeira.

Nenhum comentário: