quarta-feira, 5 de maio de 2010

1848 no horizonte da memória: Crise social e instabilidade do euro alastram na Europa


Os mercados estão nervosos e a Espanha foi vítima de rumores que mostraram a sua fragilidade, enquanto na Grécia aumentam os protestos de rua


Milhares de gregos protestaram ontem contra o plano de austeridade que será debatido esta semana no Parlamento em Atenas. O nervosismo atingiu a Espanha, que alguns analistas apontam como a próxima vítima. No domingo, a Alemanha tem eleições regionais decisivas para a coligação que suporta o Governo de Angela Merkel. A ajuda financeira europeia tem de ser aprovada por cada país e o processo deve estar terminado até ao fim da semana. O Governo austríaco já aprovou, mas o seu ministro das Finanças, Josef Pröll, insistiu que quer o dinheiro de volta. Perante os protestos de rua, na opinião de Pröll, a Europa "está a perder a paciência" com os gregos.





Grécia


Dúvidas sobre ajuda e reformas


Os operadores do mercado continuam a dizer que o plano de ajuda à Grécia, de 110 mil milhões de euros, pode ser insuficiente. O Wall Street Journal, na sua edição de ontem, falava em necessidades da ordem de 150 mil milhões de euros. Estas dúvidas estão a provocar forte instabilidade financeira na Europa, ao mesmo tempo que os sindicatos gregos prometem endurecer a contestação ao pacote de medidas de austeridade anunciado no domingo e que segue este semana para aprovação no Parlamento de Atenas.

Os protestos de ontem foram pacíficos, mas um grupo de comunistas ocupou a Acrópole , mostrando uma faixa em inglês apelando ao "levantamento dos povos da Europa". Às manifestações juntaram-se professores, funcionários públicos, até militares. Entretanto, começaram greves nos hospitais e transportes.

As medidas de austeridade incluem aumentos de impostos e cortes na despesa pública, nomeadamente reduções nos salários e subsídios. O pacote de medidas deve ser votado na quinta-feira e não se espera um chumbo.

Referindo-se aos protestos, o ministro das Finanças austríaco afirmou ontem que a Europa estava a perder a paciência com a Grécia. Entretanto, há pelo menos um membro da zona euro ainda relutante em apoiar o pacote de ajuda, a Eslováquia. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble também lançou um sério aviso: numa entrevista, afirmou claramente que se o plano de austeridade não for aplicado, então os pagamentos seriam suspensos, o que levaria a Grécia à falência. "Atenas é obrigada a aplicar o programa", disse Schauble.

A crise social pode agravar-se, pois os sindicatos prometem endurecer a luta. A Grécia terá de reduzir o seu défice orçamental para 3% do PIB até 2014, de um valor de 13,6% (e que pode ser superior). A dívida pública grega é de 115% do PIB.





Espanha

Difícil mostrar mais unidade


O nervosismo dos mercados em relação ao pacote de ajuda à Grécia atingiu ontem em cheio a Espanha, que foi vítima de dois rumores que aumentaram a turbulência. Um dos boatos afirmava que Madrid iria necessitar com urgência de 280 mil milhões de euros. O outro rumor era de que as agências de notação Fitch e Moody's iam reduzir o rating da dívida espanhola. As agências negaram e o primeiro-ministro José Luis Zapatero tentou travar a agitação, considerando os boatos "intoleráveis", mas isso não evitou forte queda bolsista. Hoje, Zapatero encontra-se com o líder da oposição conservadora, Mariano Rajoy, numa cimeira que ele próprio convocou e que visa acalmar a situação. Rajoy promete dizer ao primeiro-ministro que "não somos a Grécia, mas a Espanha está como está devido à sua política".

Muitos analistas consideram que a Espanha pode ser a próxima vítima de um contágio e falam em "falta de confiança", não apenas na economia espanhola, mas na estabilidade da moeda única europeia. Numa entrevista à BBC, o prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, admitiu que esta crise representa "talvez o fim do euro". Na opinião deste especialista, "se a Europa não resolver os seus problemas institucionais fundamentais, o futuro do euro será provavelmente curto".




Alemanha

Governo vai ser castigado


A chanceler alemã Angela Merkel está a acelerar a campanha no maior Estado do país, Renânia do Norte-Vestefália, cuja votação no domingo pode ditar o fim da maioria governamental na câmara alta do Parlamento em Berlim. As sondagens indicam a possibilidade da coligação CDU-FDP (igual à nacional e que ascendeu ao poder na Renânia há cinco anos) poder ser substituída por uma coligação de esquerda, SPD-Verdes-Linke, mas os números não são claros e os social-democratas não confirmam o cenário de aliança a incluir o Linke.

As sondagens indicam que a CDU de Angela Merkel tem 38% de intenções de voto (o que implicaria uma queda de 6% face a 2005) e a questão da ajuda à Grécia está a reflectir-se nas eleições. Dois terços dos alemães são contra o pacote para salvar Atenas. Refira-se que dos 110 mil milhões de euros em ajuda, a Europa paga 80 mil milhões e, destes, a Alemanha é responsável por 22,4 mil milhões.

Se perder as eleições na Renânia Norte-Vestfália (que tem 18 milhões de habitantes) a chanceler terá mais dificuldade em fazer passar novas reformas. O partido parceiro da coligação nacional, FDP (liberais) ficará enfraquecido. As sondagens apontam para um valor de 6%, ou seja, demasiado perto da barreira de 5%, que implica a exclusão do Parlamento regional.

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