ALA LIBERAL
Dicionário da História do Estado Novo Fernando Rosas, J.M Brandão de Brito
Designação dada por alguns jornalistas aos deputados que, eleitos em 1969 nas listas da então União Nacional, afirmaram ao longo da legislatura o desejo de ver instaurado «um regime político de liberdade, em que seja possível discutir, controlar os actos do Governo e escolher os representantes da Nação», conforme síntese de Miller Guerra. Nunca foi possível apurar o seu número exacto mas, a avaliar pelas votações, não seriam mais que uma dúzia. Pinto Leite é, na primeira sessão da legislatura, o nome mais em foco. Depois, destacam-se Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Miller Guerra, Magalhães Mota e, ainda, Pinto Machado, Mota Amaral, Correia da Cunha ou José da Silva. Miller Guerra, num balanço crítico que a censura cortou no semanário a que se destinava mas que o autor publicou na colectânea Progresso na Liberdade, diria que o facto de serem poucos «não obstou a que os debates sustentados [...], os discursos proferidos, as atitudes tomadas se repercutissem dentro e fora do país. [...] na esfera política tradicional, abriu-se uma fenda». A extrema-direita, crítica de Marcelo Caetano, mas não ousando afrontar directamente o Poder, toma a «ala liberal» como alvo preferido. O Agora, de Nogueira Pinto e José Júdice e direcção de Goulart Nogueira, transformou-os em bode expiatório de todos os males, já que a restauração das liberdades lhes surgia como impossível de conciliar com o que chamavam «a defesa da integridade nacional». Certo é que a influência da «ala liberal» e das suas posições, quer na Universidade quer, por progressivo alargamento e interinfluência, nas classes médias, marcou fortemente o período 1969-1974 e teve papel relevante na génese e na dinâmica do Movimento das Forças Armadas . E, aliás, no chamado «encontro dos liberais» que vários militares estão presentes como observadores, sendo os textos respectivos, que a Moraes editou (Encontro de Reflexão Política), uma das matrizes genéticas do Programa do Movimento. Ainda que a maior parte dos «liberais» tenha depois surgido ligada ao PPD - a excepção mais notória foi Miller Guerra - o corpo comum do seu pensamento, tal como expresso na Assembleia Nacional, não ultrapassaria o estabelecimento das liberdades fundamentais e aparece, em particular, no projecto de revisão constitucional de que Sá Carneiro foi primeiro subscritor. A opção europeia (Pinto Leite, Magalhães Mota), a liberdade de imprensa (Sá Carneiro, Balsemão), a reforma das universidades (Miller Guerra) são alguns dos grandes temas liderados pelos «liberais» que, no entanto, intervêm assiduamente, em particular no comentário aos temas políticos da actualidade, envolvendo-se em polémicas com os deputados mais à direita (caso da Capela do Rato, actuações da polícia política, censura, etc.). Sá Carneiro e Miller Guerra haveriam de renunciar ao mandato, Pinto Machado seria mobilizado como médico militar, Pinto Balsemão e Magalhães Mota anunciam a sua última intervenção com fortes críticas. Em 1973 só José da Silva e Mota Amaral seriam de novo deputados.
25 de Abril
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