Temos de exigir qualidade é certo, mas a qualidade tem um preço que não pode ser suportado só pelo agricultor!
João Isidoro
Todos os anos e há muitos anos que os agricultores produtores de uvas, particularmente os que produzem a casta negra mole e boal, são confrontados com os mesmos problemas no início das vindimas, nessa altura não têm a garantia se o produto vai ser escoado na totalidade, se a uva vai atingir os 9 graus, dadas as exigências impostas pelo Instituto do Vinho e ainda os preço a pagar por kg.
Este ano, por razões climáticas, o agricultor está ainda confrontado com uma diminuição na produção que pode atingir nalguns casos os 30% relativamente ao ano de 2009.
De acordo com os técnicos, nomeadamente os enólogos, menos uvas significa melhor qualidade. Isso é uma verdade absoluta. O problema é que para o agricultor, menos uvas e menos grau representa os mesmos custos de produção, custos que são invariavelmente suportados exclusivamente pelo agricultor.
Importa referir que o Governo Regional e o Instituto do Vinho utilizam dois pesos e duas medidas no processo das vindimas.
Os engenheiros do Instituto controlam até ao limite, direi mesmo até à saturação do agricultor, a maturação das uvas no terreno bem como o apuramento do grau nas adegas. Assim, a decisão sobre a apanha da uva e os valores do grau cabem exclusivamente à direcção e aos técnicos do Instituto do Vinho, órgão dependente do Governo Regional e não às casas que recebem as uvas.
É, por isso, inaceitável que quanto à decisão do valor a pagar por kg de uvas, o Governo e o Instituto lavem as mãos como Pilatos, descartando-se dessa responsabilidade.
Temos de exigir qualidade é certo, mas a qualidade tem um preço que não pode ser suportado só pelo agricultor que depois no acto das vindimas recebe 90 cêntimos por kg e em muitos casos os engenheiros do Instituto recusam as suas uvas por causa de uma décima. Nestas circunstâncias a recusa das uvas com menos de 9 graus significa um enorme prejuízo para os agricultores.
É comum ouvir-se da parte do agricultor que 90 cêntimos por kg, não compensa os custos de produção de um ano de trabalho.
Refira-se que os custos de produção têm vindo a aumentar todos os anos particularmente os fertilizantes, os remédios, a mão-de-obra e os transportes.
Curiosamente, nos últimos anos, o preço por kg de uva tem vindo a abaixar sucessivamente.
Por outro lado não é justo que se insinue, que os agricultores madeirenses não produzem com qualidade e não reconhecem a importância dessa qualidade para o prestígio do Vinho Madeira nos mercados interno e externo. O que os agricultores esperam do Governo Regional e do Instituto do Vinho é o reconhecimento da importância do seu trabalho reflectido no aumento dos seus rendimentos económicos.
O Governo Regional tem de, uma vez por todas que decidir se este produto é estratégico ou não do ponto de vista económico, paisagístico e social para a RAM e para a economia das famílias que se dedicam a esta actividade.
Se a conclusão for sim então tem de apoiar esta produção o que manifestamente não se tem verificado na dimensão adequada.
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