quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Há um programa de esquerda alternativo a esta política? Há.

A minha posição.

As políticas de esquerda impor-se-ão não apenas como um meio para a coesão social mas como uma necessidade económica.

As medidas dos governos do PS, na república, e a sua aplicação voluntária (exceptuando o imposto sobre o valor acrescentado) e automática na Madeira pelo governo PSD não são inevitáveis, são opções políticas. É certo que a margem de manobra é estreita no actual contexto de especulação financeira, mas há uma alternativa à esquerda, que passa por um papel mais forte do Estado na Economia, sem excluir a forte regulação do sector financeiro, senão mesmo, em alguns casos, a nacionalização da banca. Foi essa intervenção do sector público que funcionou na economia entre 1930, depois de crise do capitalismo de 1929 e seguintes, até os anos 80 que foi posta de lado com o advento do thatcherismo e do reaganismo, ou seja, os ultraliberais, que levou à destruição das políticas públicas e à economia de casino.
O que fizeram os governos socialistas na Europa, em que chegaram a ser a maioria esmagadora na Europa a 15? Cederam aos neoliberais e aplicaram o seu, deles, neoliberais, programa, em vez de aplicar o programa do socialismo democrático ou da social-democracia europeia. Além disse, a Europa abriu as portas à economia chinesa e indiana, sem as correspondentes exigências e condições em termos de direitos sociais que os europeus haviam conquistado com grande sacrifício. Pelo contrário, os dirigentes europeus acham que a competitividade europeia se restabelece face à China, às deslocalizações de fábricas e deslocalizações financeiras para as praças off-shores – repare-se este paradoxo: uma posição de esquerda que impelisse a saída imediata destas empresas deslocadas financeiramente nos off-shores poderia implicar a deslocalização de uma fábrica em concreto num país europeu para países orientais sem direitos sociais e mais desemprego na Europa! Alternativa? Socialismo, sim, por muito que assuste os neos! – a competitividade, dizia, se restabeleceria, segundos os neos, cortando em salários, subsídios de férias, de natal, perda de regalias, fim da educação e da saúde e da segurança social pública. Não tenham dúvidas: o Estado Social está a ser assinado selectivamente, mas cada vez mais brutalmente sem que os líderes europeus façam alguma coisa.
Note-se que os interesses financeiros da Alemanha e da França com a China impediram estes dois países de colocar à China condições para a sua entrada na OMC - Organização Mundial do Comércio – em troca de venda à China de tecnologia, incluindo armamento. Esse dumping em larga escola levou a este estado das economias dos países do sul.
Mas há alternativas na própria Alemanha a esta política anti-social e há aliados: a ala esquerda do SPD, que sempre se opôs a estas políticas da Senhora Ângela Merkel de baixos salários, e Os Verdes, que, neste momento, estão empatados com o SPD nas sondagens.
O diálogo à esquerda em Portugal é difícil mas é necessário, sem enquistamentos ideológicos, sem sonhar com os amanhãs que cantam no passado mas também sem ceder a este admirável mundo novo prometido pelo capitalismo neoliberal – e há-o sem ser neoliberal? - visto que aquilo que funcionou entre a década de 30 e a década de 80, foi um sistema misto, social-democrata, tão mal tratado então pela esquerda radical que preferia um modelo totalmente estatista, que garantia todos os direitos sociais na lei mas sem sustentabilidade de modelo económico, o do socialismo de estado, que não funcionou.
Se não for pela força dos princípios, será pela força da leis da economia: estas políticas de baixos salários levarão ao seu depauperamento. E isso implicará uma nova política de coesão social.

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