quarta-feira, 2 de junho de 2010

Conselho ao Banco Central Europeu: imprimam moeda e provoquem inflação


Helena Garrido
Heresias para moderar a crise
Sim, é possível resolver a actual crise com menos dor e menos risco de colapso do euro. Mas era preciso romper regras até hoje sagradas no euro. Como fizeram os norte-americanos. O problema não é técnico. É, aliás como sempre, político...

Sim, é possível resolver a actual crise com menos dor e menos risco de colapso do euro. Mas era preciso romper regras até hoje sagradas no euro. Como fizeram os norte-americanos.

O problema não é técnico. É, aliás como sempre, político. Há soluções técnicas para resolver a crise financeira com menos custos sociais. Mas falta na Zona Euro a vontade política de romper com regras que são tratadas como a lei da gravidade quando na realidade são apenas normas que se aplicam a umas conjunturas mas não a outras.

A economia é feita de muitos mundos, de muitos equilíbrios e desequilíbrios que exigem remédios muito variados, alguns até contraditórios, do tipo é bom para a recessão mas não é bom para o sobre-aquecimento.

É uma visão da política económica como remédio em função da doença que marca, e sempre marcou, a actuação das administrações norte-americanas. Nunca se deixaram apanhar, em situações de crise, pela ortodoxia das escolas, quer fossem neo-keynesianas ou neo-clássicas. Nas crises do pós-guerra, desde o fim da ligação do dólar ao ouro, até à mais recente dita do "subprime", usaram todas as ferramentas que tinham ao seu dispor, da taxa de juro à taxa de câmbio, dos impostos aos gastos.

Na Zona Euro as regras têm servido para gerar as crises ou para agravar ainda mais as crises. Exemplos: o Pacto de Estabilidade e Crescimento e as regras a que está submetido o Banco Central Europeu.

Se o que está consagrado no Pacto de Estabilidade e Crescimento, mesmo depois da revisão gerada pela Alemanha, tivesse sido estritamente cumprido na fase de prosperidade da economia hoje estaríamos muito melhor. E a regra do Pacto era equilíbrio orçamental a médio e longo prazo o que significava a existência de excedentes orçamentais na fase de crescimento económico. Não era nem nunca foi a regra dos 3% de défice como se foi fazendo de conta que era.

Olhemos agora para o pilar monetário da Zona Euro. Foi sem dúvida o que melhor funcionou nestes onze anos de moeda única, se descontarmos persistência em 2007 do erro cometido em 2003 de aumentar as taxas de juro na convicção de que a crise era apenas norte-americana. Erros que abrem a porta à desgraça que é o BCE em tempos de crise.

Como o passado não se pode mudar mas apenas servir de lição, valia a pena não repetir os erros cometidos durante a prosperidade. Um deles, ter orçamentos pró cíclicos - ampliar as expansões e as recessões - parece impossível de evitar na actual crise por causa da disciplina que é imposta pelos mercados financeiros. E não vale a pena gritar contra eles ou tentar controlá-los especialmente na fase em que mais precisamos deles.

Restam as ferramentas que estão nas mãos do BCE, muito poderosas como bem sabem os economistas. A compra de títulos de dívida pública, decidida no fim-de-semana negro de 7 de Maio, fez mais pela estabilização dos mercados do que o tal fundo de 750 mil milhões de euros. Mas não chega.

O BCE tem de cometer a heresia de imprimir moeda e cair na tentação de inflacionar a economia. Temos de ser pragmáticos, tirar todas as palas dos olhos e do pensamento e aplicar as melhores soluções mesmo que sejam uma heresia monetária. A crise que vivemos é demasiado perigosa, é tóxica, sim, mas porque ameaça os pilares que garantiram a paz europeia durante mais de meio século.

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