sábado, 12 de junho de 2010
Jerónimo de Sousa, um líder partidário operário, um homem autêntico e genuíno
Aos 14 anos foi para a fábrica como aprendiz de afinador de máquinas, que era o que esperava os rapazes da cintura industrial de Lisboa nos anos 60. Jerónimo nasceu onde ainda hoje vive: Pirescoxe, concelho de Loures, e revê-se nos "Esteiros", de Soeiro Pereira Gomes, e nos "homens que nunca foram meninos". Na fábrica torna-se amigo de José António Cartaxo, com quem tem os primeiros contactos com o PCP. Antes do 25 de Abril já "estava de passo acertado com o partido", mas a filiação vem depois. O primeiro operário secretário-geral do PCP (em democracia) continua a viver como um operário, apesar de não trabalhar na fábrica há 35 anos.
É verdade que ganha só 800€ por mês?
É. Não posso precisar, às vezes com o subsídio de refeição vai aos 800 e pouco. Mas esse é o salário de um metalúrgico qualificado. O camarada jurista recebe como jurista, o camarada engenheiro recebe como engenheiro. Eu sou operário metalúrgico. Assumi o compromisso com o partido de não ser beneficiado ou prejudicado. E assim, com grande naturalidade e por opção livre, recebo o salário que receberia na fábrica.
Sente-se em melhores condições para saber como as pessoas com salários baixos estão a viver neste momento?
Sem dúvida. Nos debates parlamentares eu transmito o sentimento de quem é injustiçado, de quem tem dificuldades na vida, de quem vive com salários baixos, porque eu também sou um deles. Fiz esta opção sem nenhum condicionamento, de uma forma totalmente livre.
É o único líder partidário que é operário, o único com um salário baixo...
A questão de fundo é esta: eu luto por uma vida melhor, também para mim, é evidente. Mas sempre entendi, desde a Assembleia Constituinte até à Assembleia da República, que aquilo não é um emprego nem é uma profissão. É uma tarefa, uma opção. O partido não obriga ninguém a ser candidato a deputado. E sem ter uma visão basista, que eu não tenho, nem miserabilista - insisto nesta ideia, também luto por uma vida melhor para mim e para os meus -, considero que não seria capaz de transmitir no discurso se não tivesse este estatuto e condição. Isto não invalida que eu procure no plano intelectual, no plano político, no plano ideológico, aprender e evoluir. Mas acho que isto é uma raiz sã. E sinto-me bem assim. Se você fosse lá ao meu bairro, veria essa identificação: um pouco "este é dos nossos". E não estou a falar só de comunistas.
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