O PSD, quando se vê em apertos, apela: não vamos fazer política. Bem, em primeiro lugar, eu não sabia que era possível governar durante quase quatro décadas sem fazer política. Igual, só o cinismo do ditador Franco, quando dizia a alguém de suas relações pessoais, por acaso anti-regime, quando esse alguém se lhe queixou de ter problemas com a polícia política, lhe respondeu Franco: "Olhe, faça como eu que não me meta em política". Quando houve o 20 de Fevereiro, seria miserável realmente fazer baixa política com feridos, desalojados, mortos, mas política não é possivel deixar de fazer. Baixa política foi ver a disputa de agentes do regime à procura de holofotes; depois vieram os incêndios, e logo veio a cantilena do costume: nada de fazer política; e lá não se fez política; agora caíu uma árvore, morreu uma cidadã, dois feridos graves e, claro, nada de política! Bem, muito bem, respeite-se a dor da família, mas, em nome justamente dessa dor, apure-se responsabilidades políticas, cívicas e eventualmente criminais. E chegue-se ao veredicto essencial no Estado de Direito: guilty or not guilty. (Embora em Portugal isso já não exista, por força da aliança do aparelho de justiça e uma comunicação social vadia que não desenvolve jornalismo de investigação mas de delação, com o apoio de certa blogosfera, o que há é o "suspeito ou não suspeito", mesmo que haja entre os suspeitos inocentes ou entre os não suspeitos culpados, e isso o que é que interessa, se as fogueiras da inquisição, agora mediática, estão de volta? Por acaso o Sancho ou o Eduardo Freitas estão preocupados, no caso Freeport, se o Sócrates é inocente ou não? É suspeito, dizem eles, ora, e pronto).
Foi o Governo ao parlamento, após o 20 de Fevereiro explicar o que se passou e dizer, no processo de reconstrução, o que pensa fazer para que se não repitam os mesmos erros, que originaram novas mortes? Está o Governo do PSD a responder, exigiu o presidente do PS, como está a fazer a reconstrução ou isso também é "fazer política"? Claro que é fazer política, mas sem aspas, isto é, ir ao parlamento prestar contas. O problema não é fazer política mas é não querer fazer política. O que se pede ao PSD é isso mesmo: faça política, melhor, Política, e não baixa política. Por não fazer política é que o desastre em 20 de Fevereiro foi exponenciado, aliando as forças da natureza à irresponsabilidade, negligência e falta de ordenamento do território; por não fazer política é que as labaredas nos verões são tão altas porque não há prevenção (já agora, não é só aqui), e por não fazer política é que as árvores em risco são ignoradas e algumas desgraças não são evitadas. Já agora, e sem querer fazer política, estão ao menos, agora, a fazer uma vistoria às árvores em risco? Que tal a Estrada Monumental?).Vamos lá mas é fazer política, o que a Madeira precisa mesmo é de política: a falta de política é que nos conduziu aqui. E para saírmos daqui, hemos (=havemos) de fazer política. Não foi a falta de política que nos criou a crise internacional? Não é falta de política que lançou a União Europeia num impasse? Viva a Política, vivam os grandes políticos, viva Churchil, viva Lenine, viva Roosevelt, viva Mário Soares, viva Álvaro Cunhal, viva Freitas do Amaral, viva Sá Carneiro. Viva a Política a valer! Ah, e viva Marx!
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