Dar a conhecer o trabalho desenvolvido por professores e investigadores na área do ensino das língua e culturas portuguesas, apresentar estratégias e divulgar actividades de sucesso nesse campo nos Estados Unidos, Canadá e Bermudas, foram os objectivos do Congresso Internacional do Ensino da Língua e Culturas Portuguesas na América do Norte, que decorreu a 27 de Agosto, em Fall River, Estados Unidos. Promovido pelas universidades dos Açores e de Lesley (em Cambridge) em parceria com o LusoCentro, o congresso foi o ponto alto de uma série de iniciativas para celebrar os cinco séculos de presença da língua portuguesa na América e os cem anos do ensino integrado do Português nos Estados Unidos, que teve início na Escola do Espírito Santo de Fall River.
O Congresso reuniu especialistas de Portugal, Brasil, Cabo Verde, EUA, Canadá e México, que debateram entre outros temas, o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, as técnicas e materiais relevantes para o ensino do Português e o multiculturalismo.
Graça Castanho, professora de didáctica e metodologia do ensino do português na Universidade Açores, ex-conselheira para o ensino junto da Embaixada de Portugal em Washington e uma das organizadoras do Congresso Internacional do Ensino da Língua e Culturas Portuguesas na América do Norte, revelou à agencia Lusa que quase todos os professores de português nos Estados Unidos dão conta de uma crescente procura no ensino da língua e das culturas lusófonas, mas também da incapacidade de resposta da estrutura existente.
“O que existe é uma autêntica brincadeira”, disse a especialista. “Por um lado, a procura é cada vez maior, o número de alunos, professores, escolas e universidades onde se ensina português. Por outro lado, assiste-se ainda a um abandono muito grande por parte das instituições em Portugal que têm a responsabilidade de apoiar esse ensino”, acrescentou à Lusa.
Graça Castanho referiu que ao nível da coordenação, são precisas “pessoas habilitadas ao nível de mestrados e doutoramentos” que tragam mais dinâmica. “Temos perdido muito pelo mundo fora com essa falta de política da língua”, afirmou, enquanto outras línguas têm investido na criação de estruturas profissionais.
“Nós não temos nada disso, nem sequer temos equipas de professores ao serviço das necessidades, das comunidades e de todas as pessoas interessadas em aprender português, por causa de Portugal, mas também do Brasil e dos países africanos lusófonos”, continuou.
Professora pede comunidade mais «lutadora»
O crescente interesse no português foi nota dominante nas intervenções no congresso de Fall River, que decorreu na Universidade Comunitária de Bristol.
Há mais de 30 anos ligada ao ensino da língua, e actualmente directora do programa de português na Universidade de San Jose na Califórnia, Deolinda Adão defende um maior envolvimento da comunidade, junto do sistema de ensino norte-americano, para reforçar cursos e meios. “Precisamos de fazer perceber as entidades americanas e das universidades que a língua e culturas são de interesse público e uma mais valia”, disse à Lusa a professora, que dirige um programa semelhante na universidade californiana de Berkeley.
“Temos culpa porque desenvolvemos uma comunidade fortíssima, bem sucedida, mas somos muito reservados e estamos a pagar por isso. Temos de ser mais lutadores e envolvidos na política local”, afirmou. Deolinda Adão afirmou que “o Governo tem dado muito apoio ao ensino, a nível primário para as crianças comunitárias ou a nível universitário, através dos leitores do Instituto Camões, e esse apoio tem sido esplêndido”. “Sem ele não teríamos os programas que temos hoje”, prosseguiu,
Também para António Luís Vicente, subdiretor da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), o melhor caminho é “criar incentivos para que a própria comunidade tenha maior capacidade de exigir do sistema público norte-americano”. “Estamos a falar do país mais rico da actualidade. Não faz muito sentido ser o Governo português a financiar 100 por cento o ensino da língua neste país”, disse à Lusa. “A situação não é tão pessimista como por vezes é retratada, mas há um grande espaço para crescer”, adiantou.
Ainda no âmbito da celebração da língua portuguesa na América do Norte, realizou-se um Pavilhão da Língua Portuguesa, que decorreu no Kennedy Park, entre 27 e 29 de Agosto, durante as Festas do Espírito Santo. No pavilhão decorreu uma Feira do Livro, com o lançamento de alguns livros sobre a temática do ensino, além de actividades para crianças e exposições de trabalhos de crianças que frequentam escolas portuguesas. As iniciativas incluíram também um almoço de gastronomia lusófona, com pratos típicos de Portugal, Cabo Verde, Brasil e Angola, confeccionados por elementos da comunidade falante de português em Fall River, e uma cerimónia de homenagem a individualidades e instituições “que muito têm contribuído para a promoção e dignificação da língua portuguesa”, referia o programa da organização.
Comemorações até 19 de Setembro
Este ano, comemora-se na América do Norte, os cem anos do ensino oficial da Língua Portuguesa. A efeméride marcada a partir de 27 de Agosto, em Fall River, estado norte-americano do Massachusetts, por um congresso e actividades culturais e religiosas.
A Conferência sobre o Ensino do Português e Culturas Lusófonas, que decorreu na Universidade Comunitária de Bristol, foi acompanhada de uma exposição sobre a cultura portuguesa e do lançamento de livros sobre o centenário, segundo a organização. “São eventos culturais pensados para promover o ensino da língua portuguesa e das culturas lusófonas e também para reconhecer os muitos indivíduos que dedicaram as suas vidas a apoiar o ensino nesta parte do mundo”, refere um comunicado da organização.
As comemorações encerram apenas a 19 de Setembro, com uma celebração religiosa na Escola do Espírito Santo, em Fall River, que completa cem anos naquela data.
Foi naquela instituição de ensino que arrancou o ensino de português integrado com o sistema público de educação do estado do Massachusetts. São cerca de 260 os alunos matriculados em aulas de português nesta escola, desde a pré-primária. Recentemente, a PALCUS, adoptou de forma honorífica a Escola do Espírito Santo, em reconhecimento do seu historial. Fundada em 1991 na capital norte-americana, a PALCUS intervém junto dos órgãos do poder americano em assuntos de interesse para as comunidades luso-americanas.
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