Lido aqui.
"Há meia dúzia de dias atrás, um diretor de um jornal de referência nas bancas portuguesas perguntava: - com o Acordo Ortográfico iremos dizer "celular", ou "telemóvel"? e pronunciava "cèlular", ostensivamente. o seu interlocutor, talvez surpreendido pela estupidez da pergunta, fez ouvidos de mercador e prosseguiu calmamente o que estava dizendo. eu acho que devia ter respondido.
em primeiro lugar, um acordo ortográfico diz respeito a como se escreve e não a como se fala. e nesse aspeto, nem "celular", nem "telemóvel" vão ter grafia diferente.
em segundo lugar, a pergunta tinha a manha de sugerir que, uma vez que os brasileiros dizem "celular" ("cèlular") e os portugueses dizem "telemóvel" (tèlèmóvel"), talvez uns e outros não falem bem a mesma língua.
acontece que o primeiro nome que a coisa teve em Portugal foi, precisamente, "celular" - palavra que se refere ao modo de transmissão e funcionamento da coisa. só depois foi criada essa aberração linguística que é o "telemóvel". aberração porque é um neologismo híbrido do grego (tele - ao longe, à distância) e do latim (mobilis - movel) cujo senso é nulo: "móvel à distância".
a pretensão de que chamar coisa diferente ao aparelho significa diferença linguística só é possível na mentalidade lisboeta, que não tem mundo à volta.
ainda não vai há muito tempo, ao ir de Bordéus a Lyon por Clermont-Ferrand, encontrei três nomes para a cousa: num lado era "mobile", noutro "celulaire" e noutro, ainda, "portable". todos falavam um francês irrepreensível e todos sabiam a que coisa cada qual se estava a referir".
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