quinta-feira, 11 de outubro de 2007

FUNÇÃO DA MULHER

Logo a seguir ao 25 de Abril, frequentei o Curso de Preparação para a Carreira Administrativa e, numa das disciplinas, o professor pediu que comentássemos a lógica desta frase: “Ao chefe, que é chefe, compete mandar; aos subordinados, compete é obedecer”. A frase, em plena Revolução, cheirou-nos logo a fascismo. O professor pediu então que construíssemos a frase com valor negativo: “Ao chefe, não compete mandar, aos subordinados compete não obedecer”. A frase pareceu-nos, obviamente, absurda e logo encontramos a lógica da primeira frase. Assim, a frase “A função da mulher é procriar” só aparece absurda porque é dita num determinado contexto cultural em que aquilo que só à mulher compete aparece desvalorizado. Vejamos as frases: frase 1: “A procriação não compete à mulher”; frase 2: “A função da mulher é abortar”. Estas duas frases são, obviamente, absurdas quando comparadas com a frase original. Logo a frase “A função da mulher é a procriação” não é absurda porque tem como pressupostos que a procriação compete à mulher, mesmo que ela tenha e deva ter outras funções, e a mulher não tem como função abortar, mesmo que possa ter esse direito. Dizer que a função da mulher é a procriação não significa dizer que ela só tem esse papel, quer por ser o imprescindível lado e eterno feminino da vida, quer como indivíduo com os seus direitos, como qualquer indivíduo, independentemente do sexo. A autora da frase não achou necessário explicar o resto. Mas o resto está num contexto cultural que, se julgando superior, está eivado de um falso modernismo. Logo, não é no dito mas no inaudito, embora cultural e politicamente percepcionado, que está o equívoco. Apostilha: o Governo Regional tem de aplicar a Lei, seja ela qual seja, mas o Governo da República tem de respeitar os Órgãos de Governo próprio na feitura das leis, tal como manda a Constituição da República.
P.S. “Quodo scripsi, scripsi, quod dixi, dixi”- à parte isso, a João Carlos Gouveia, deixo, aqui e agora, a minha solidariedade pessoal, não obstante.

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