quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Feminismo linguístico

Os artigos «”Poetisa” inferioriza?», de Ana Martins, no caderno principal, e «O equívoco do feminismo», de José António Saraiva, na “Tabu” completam-se. Há muito tempo que me venho insurgindo contra a masculinização do feminino das palavras. Pergunta Ana Martins, e muito bem, que fazer com a palavra «rainha» quando a titular da soberania for uma mulher. E que fazer com a palavra «imperatriz» nas mesmas circunstâncias? Dizer a «imperadora» Catarina, a Grande?
Ora, o que deve evoluir é a semântica – literária e social, mantendo-se e respeitando-se a morfologia que reservou para o feminino uma fonética muito mais sonora, mais clara e mais solar e apolínea que o lado masculino, fechado, sombrio e dionísiaco: não é muito mais agradável ouvir “poetisa”, “actriz”, “embaixatriz”, “imperatriz”, “rainha” do que a “poeta”, a “actora”, a “embaixadora”, a “imperadora”, a “reia” – que seria a forma feminina masculinizada de rei? De resto, são formas que contrariam as regras da formação do feminino em Português. Essas formas masculinizadas do feminino são uma espécie de feminismo linguístico serôdio, “fato e gravata” gramaticais, como, às vezes, se apresentam certas executivas ou mulheres políticas, não sei se para parecerem mais competentes e credíveis. É um erro. E onde fica o eterno feminino? Já pensaram o que seria os executivos e homens governantes se feminizarem na indumentária e serem designados pela forma feminizada do masculino para, supostamente, se tornarem mais atraentes ao público – o “poetizo”, o “actrizo”, o “embaixarizo”,o “imperatrizo”, o “rainho”?
Pois que à Língua Portuguesa, à Política ou à Literatura dêem as mulheres o lado feminino para que não haja excesso do infindável lado masculino!
(Texto publicado no semanário «Sol»)

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