quinta-feira, 31 de julho de 2008
A FORMA DE DENÚNCIA DO PND E O RESPEITO PELO PARLAMENTO ENQUANTO INSTITUIÇÃO
Ninguém peça ao PND que se comporte como um partido institucional. Muito menos o PSD tem legitimidade para pedir ao PND que se comporte de maneira diferente - o PND é a caricatura visível da caricatura espectral em que o PSD transformou o parlamento regional. Aliás, a defesa da Autonomia pelo PSD é também cada vez mais ridícula, depois de, como disse o líder do parlamentar do PS, o PSD, com o discurso do seu líder parlamentar, dar razão aos que dizem que a Madeira vive à custa do Continente.
Também a Oposição não pode esperar do PND que seja diferente daquilo para que foi eleito, aliás, já visível na forma como fez a campanha eleitoral.
Portanto, o PND está a fazer o seu papel.
Bem? - é a pergunta que se coloca.
Julgo que não.
Na verdade, embora referindo constantemente o nome do PSD, a verdade é que o discurso do deputado do PND não é suficientemente claro quando, constantemente, mete todos no mesmo saco, ao dizer "nesta assembleia não se trabalha". Além disso, o discurso do PND não deixa de incorporar um certo discurso populista, herdeiro de uma longa tradição portuguesa cáustica em relação ao parlamento desde o século XIX e que vai desembocar no sidonismo e no Estado Novo, e de que o PSD-Madeira é o herdeiro na região, o de desvalorizar o parlamento, cuja face visível é o regimento, que não deixa falar ninguém nem debater nada.
Não seria demais pedir ao PND que separasse mais claramente o trigo do joio. A menos que a estratégia se esgote em si mesma e não tenha outros objectivos mais elevados, como sejam os de contribuir para a criação de condições de uma democracia de qualidade na Madeira.
Este é um problema para o PSD, porque põe a nu a hipocrisia de quem defende por palavras, e às vezes nem isso, mas não por actos, a autonomia e a democracia.
É também um desafio às oposições, que têm de gizar uma estratégia que leve a colocar no centro do debate político os verdadeiros problemas dos Madeirensese, o que não é facil, face a uma comunicação social que privilegia o "fait divers" e o espectáculo mediático que serve às mil maravilhas a essa comunicação social que se recusa também debater os reais problemas regionais, submetida como está e totalmente de cócoras perante o poder do PSD.
A esse título, considero bastante infeliz, sejam quais forem as motivações profundas, por não ter uma palavra para identificar o verdadeiro responsável pela degradação da instituição parlamentar, o PSD, e metendo todos no mesmo saco, e não ter também um palavra de apreço pelo excelente trabalho político que tem vindo a ser desenvolvido pelo grupo parlamentar do Partido Socialista, de cujo secretariado faz parte - refiro-me a esta postagem do Rui Caetano. Já agora, esperar-se-ia queo seu trabalho como coordenador autárquico e membro do Secretariado do PS trouxesse novos propostas e novas ideias, capazes de motivarem os jovens e os eleitores em geral para a política.
É que a questão nuclear é esta: uma coisa é a denúncia da degradação do parlamento, de que o PSD é o grandes responsável - a caricatura em que o PSD transformou o parlamento deve ser denunciada; outra coisa bem diferente é integrar nessa denúncia elementos de raiz populista que em si mesmos são por natureza anti-parlamentares e integram uma corrente política partidária de regimes autoritários - esse é exactamente o pecado do PSD.
Ora nem o PND nem Rui Caetano o desejam intencionalmente. Objectivamente, porém,e sem o desejarem, caem nessa armadilha.
Em síntese final: a forma como o PSD trata o parlamento tem de ser denunciada e essa forma não nos merece respeito nenhum.
Todavia, ao parlamento, enquanto órgão primeiro da Autonomia e da Democracia, tal como está concebido na Constituição e no Estatuto, deve ser-lhe devolvido o seu papel e defendido o seu prestígio. Quando falo em prestígio não falo infelizmente da realidade concreta do nosso parlamento - falo do prestígio constitucional e político inerente à instituição parlamentar em Democracia, cuja origem vai beber à Grécia, pátria da democracia nos moldes ocidentais - sem esquecer outras tradições do oriente.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS PÕE A NU: GOVERNO DO PSD É RESPONSÁVEL PELOS PREÇOS ALTOS DA GASOLINA NA MADEIRA
É verdade, nós que aqui temos acusado o Diário de estar ao serviço do Sistema laranja temos de dar a mão à palmatória: ao colocar o título "GR FAZ BAIXAR OS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS" o diário assume que o Governo do PSD era o responsável pela alta dos combustíveis ao não ter actuado mais cedo. E também a RTP-M hoje no telejornal certamente fará esse favor à Oposição e ao PS nomeadamente, que já tinha altertado para a necessidade de o Governo Regional intervir (estou a escrever isso na presunção de que a nossa queridíssima televisão vai entrevistar cidadãos na rua sobre o assunto).
Doravante, não mais vai ser possível ilibar o Governo do PSD do que se passa na Madeira também neste sector!
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o sistema laranja cai à gargalhada
quarta-feira, 30 de julho de 2008
O "CALHETA": "ENTÃO HOJE NÃO SE METEM COMIGO?"
Quando a malta andava na escola, havia um homem que circulava pela imediações, muito suigeneris, com quem todos se metiam para ouvi-lo falar. O homem perdia a cabeça, vociferava, protestava, mas, no fundo, até gostava. A prova é que, quando não havia pachorra para se meter com ele, o "Calheta", como era conhecido, protestava: "Atão hoje não se metem comigo?". Isto faz-vos lembrar algum partido ou alguém?
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o sistema laranja cai à gargalhada
MPT SAI DA SALA PARA NÃO TER QUE VOTAR O REGIME DE CARREIRAS DA FUNÇÃO PÚBLICA
Na adaptação do regime de carreiras e vencimentos da Função Pública (GR) - aprovado, com votos a favor do PSD, abstenção do CDS e votos contra de PCP, BE, PS e PND, o MPT saiu da sala para não ter que votar nem contra nem ao lado do PPD. E assim se defende a coerência do MPT que me queria dar lições de defesa dos professores.Está tudo aqui.
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O ARCO DO SISTEMA PPD/MPT
PREPARAM-SE GREVES E GRANDES MANIFESTAÇÕES
O Governo dos Açores não congelou a carreira dos professores e dos funcionários públicos.
O Governo da Madeira congelou a carreira dos professores e funcionários públicos.
É claro que agora haverá greves, grandes manifestações, com discursos em frente da Assembleia Regional e haverá deputados a gritar palavras de ordem à entrada do líder do PSD para eventos promovidos pelo seu partido.
Digo tudo isto porque o que interessa é defender os associados e não fazer política partidária; o que interessa é defender os direitos dos trabalhadores e não a cor do governo que toma as medidas; o que interessa são as políticas e não os políticos. Por isso, haverá greves e manifestações.
Ou não haverá?
terça-feira, 29 de julho de 2008
UNIVERSIDADE DE VERÃO SOB A REITORIA DE AGOSTINHO SOARES
Seguindo uma longa tradição francesa - donde sairam muitas vezes futuros candidatos à presidência - o PS-Madeira, a exemplo do que também já fez o PS nacional, organizou a primeira de muitas universidades de Verão e pode dizer-se que foi um sucesso. Os prelectores convidados rasgaram horizontes, debateram o País e sobretudo a Madeira e lançaram os alicerces de uma mudança tranquila e democrática na Madeira. O Magnífico Reitor, com a sabedoria de vida e do conhecimento, soube literária e democraticamente organizar as sessões com os atendos e interessados alunos a não fazer fácil a vida do Reitor, que o grande interesse pelo debate e o tempo nem sempre coincidiam. Parabéns a todos na pessoa do Dr. Agostinho Soares.
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PARTIDO SOCIALISTA
O PS É GOVERNO EM PORTUGAL, INCLUINDO A MADEIRA
MAPA DE PORTUGAL, ONDE SE PODE VER QUE A MADEIRA FAZ PARTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA, O QUE SIGNIFICA QUE O PS TAMBÉM É PODER NA REGIÃO, PARA QUEM NÃO SOUBER(...)!
1. O PSD-Madeira pode não entender isso, mas em Portugal, quem está na oposição é o PSD.
Quem Governo em Portugal é o PS, e Portugal inclui a Madeira.
2. Na Inglaterra, altos cargos da Administração não mudam mesmo quando muda o Governo. Nos Estados Unidos, sempre que muda a Administração, mudam os responsáveis de altos cargos da Administração, isso faz parte das regras do jogo.
3. Portugal, quando a direita chega ao poder, nomeia pessoas da sua confiança para altos cargos, sem que isso constitua escândalo. Chega o PS ao poder, como não querem sair, fazem o maior escândalo quando é nomeado um socialista. Já participei em debates defendendo Fernando Gomes e Armando Vara contra a costumada gritaria da direita, que não querem largar o tacho nem à lei da bala. Armando Vara e Fernando Gomes são militantes do PS-Madeira, como se sabe... Ferreira do Amaral ... não sei, sinceramente...
4. Entendo que para determinadas funções que implicam confiança política há dois critérios que devem ser seguidos: competência técnica e confiança política.
5. Há quem não entenda assim. E até acha normal que os organismos que dependem do Governo da República devam ser ocupados por pessoas da confiança política do PSD. Aliás, é isso que, regra geral, tem acontecido. O contrário, serem ocupados por pessoas da linha do poder em Portugal, o PS, é um escândalo.
6. Isso é para compensar os cargos de nomeação e confiança política na Região, no Governo e na Assembleia, que estão entregues a militantes do PS…
7. Normal normalíssimo é que a RTP e a RDP sejam entregues a comissários do PSD, e que estejam disponíveis para esfregar bronzeador nas costas do poder ou abrir alas para o líder do PSD subir ao palco, onde estão comentadores convidados em noite de eleições. Isso sim é que é normal.
8. Direi sempre o que penso em reuniões do PS e não me intimida nada que se saiba cá fora, se é esse o objectivo. E direi frontalmente aos dirigentes nacionais do PS, sejam ministros ou não, o que muito bem entender, porque não costumo curvar a espinha.
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PORTUGAL INCLUI A MADEIRA
segunda-feira, 28 de julho de 2008
A IMPORTÂNCIA DO MPT E DOS INDEPENDENTES PARA IMPEDIR A VITÓRIA DO PS E A ALTERNATIVA DEMOCRÁTICA NA MADEIRA
Compreendem agora porque é que o MPT aposta fortemente no Funchal, Santa Cruz e Câmara de Lobos, um Concelho a merecer particular atenção. Na verdade, é vital para o PPD impedir que o PS reforce o peso eleitoral nos quatro Concelhos onde Sampaio ganhou a reeleição na Madeira e também em Câmara de Lobos. Portanto, o MPT e os independentes estão objectivamente ao serviço do PSD mesmo que não o quisessem ou não houvesse acordos mais ou menos tácitos, mais ou menos declarados, mais ou menos impossíveis de camuflar. Os pactos em política são como a gravidez - ao longo do percurso ficam demasiado expostos.
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O ARCO DO SISTEMA PPD/MPT
PS GANHA ELEIÇÕES NA MADEIRA SENDO O PARTIDO MAIS VOTADO EM QUATRO CONCELHOS
Embora tenha obtido com menos votos em 7 concelhos, em 2001, Jorge Sampaio ganhou na Madeira ao candidato do PSD, bastando para isso ao candidato socialista ser o candidato mais votado em 4 concelhos: Funchal, Santa Cruz, Machico e Porto Santo.
Isto significa que a vitória do PS na Madeira não é uma miragem, porque, embora conhecendo grandes dificuldades de implantação em muitos concelhos onde a libertação da sociedade é mais difícil e mais marcada pela ruralidade, em (quase) todos os concelhos mais eminentemente urbanos, com um processo eleitoral transparente e sem pressões sobre os candidatos do PS - sei de um candidato do regime a presidente da câmara - e não foi numa zona rural, não - que, na véspera de eleições à noite foi a casa de um candidato a presidente de junta, o qual teve de sair pela janela para não ter de dar de caras com ele - o PS pode ganhar eleições regionais e nacionais na Madeira.
40 VITÓRIAS DO PSD NA MADEIRA
AS DIFERENTES ELEIÇÕES NA MADEIRA E RESPECTIVOS VENCEDORES
NACIONAIS (INCLUINDO A CONSTITUINTE)
1975, 1976, 1979, 1980, 1983, 1985, 1987, 1991, 1995, 1999, 2002, 2005 – 12 VITÓRIAS PSD
REGIONAIS
1976, 1980, 1984, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, 2007 – 9 VITÓRIAS PSD
(QUE DERAM ORIGEM A DEZ GOVERNOS PSD, INCLUINDO O ACTUAL)
AUTÁRQUICAS
1976, 1979, 1982, 1985, 1989, 1993, 1997, 2001, 2005 – 9 VITÓRIAS DO PSD
EUROPEIAS
1987 – 1989 – 1994 – 1999 – 2004 – 5 VITÓRIAS DO PSD
PRESIDENCIAIS
CANDIDATOS MAIS VOTADOS NA MADEIRA
1976
RAMALHO EANES, APOIO PS/PSD
VITÓRIA PSD
VITÓRIA PS
1980
– SOARES CARNEIRO (EANES ELEITO PRESIDENTE)
VITÓRIA PSD
1986 – FREITAS DO AMARAL (SOARES ELEITO PRESIDENTE)
VITÓRIA PSD
1991
MÁRIO SOARES, APOIO DO PS
VITÓRIA DO PS
(Nota: a nível nacional, o PSD apoiou a recandidatura de Soares, o PSD-M, na prática, não só não apoio como lhe fechou as portas das câmaras municipais dos concelhos por onde passou; foi na altura que Soares lançou a célebre questão do défice democrático, mais tarde retomada por Guterres).
1996
CAVACO (SAMPAIO ELEITO PRESIDENTE)
VITÓRIA PSD
2001
SAMPAIO
VITÓRIA PS
2006
CAVACO
VITÓRIA PSD
PRESIDENCIAIS – 5 VITÓRIAS DO PSD
3 VITÓRIAS DO PS
(Em 1976, tanto o PS como o PSD podem reivindicar vitória porque ambos apoiaram Ramalho Eanes)
ATAQUES A PORTUGAL E DISCURSOS ANTIPATRIÓTICOS
Ataques ao nosso querido País e discursos anti-patríóticos foi a nota dominante no Chão da Lagoa. Comme d'habitude, o costume!
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o sistema laranja
MADEIRA LIVRE, MADEIRENSES LIVRES: PSD DÁ RAZÃO AO PS
Desde 1926 lutamos por isso: Liberdade para a Madeira!
A festa do PS chama-se isso mesmo: FESTA DA LIBERDADE!
Viva a Madeira Livre. Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade.
Abaixo todos os tipos de condicionamento da Liberdade.
Madeirenses livres!
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LIBERDADE ABSOLUTA DESDE 1789
sexta-feira, 25 de julho de 2008
O SOCIALISMO DEMOCRÁTICO: AS DUAS LINHAS ORIGINAIS
OS GRANDES TEÓRICOS ORIGINÁRIOS DO SOCIALISMO DEMOCRÁTICO
OU UTÓPICO, segundo a designação marxista
BERNSTEIN
ROBERT OWEN
CHARLES FOURIER
SAINT-SIMON
PROUDHON
Os meados do século XIX vêem os primeiros passos do socialismo, progressistas, contra as consequências do maquinismo nascente e o movimento tinha uma ambição que hoje lhe falta.
O NASCIMENTO DO SOCIALISMO NO SÉCULO XIX
Com a Revolução Industrial, vai nascer a palavra socialismo, entre 1830 e 1840, mais ou menos simultaneamente em França e em Inglaterra, segundo Elie Halévy.
1. Pierre Leroux, adepto das ideias de Saint-Simon, designa assim uma doutrina que submete inteiramente o indivíduo à sociedade.
2. De 1841, data o célebre panfleto de Roberto Owen, Waht Is Socialism?, o qual considera que a multiplicação das cooperativas criará uma outra organização económica e social, mas também moral, eventualmente em conflito com o estado.
Estas duas concepções, francesa e britânica, não são absolutamente antinómicas e vão dar lugar a um debate que ainda hoje se mantém.
A primeira é francesa e é mais teórica e radical. A segunda é britânica, é mais concreta e tem uma perspectiva mais antiestatal.
Elie Halévy define assim o socialismo francês então nascente:
«Doutrina económica (…) o socialismo moderno afirma que é possível substituir a livre iniciativa dos indivíduos pela acção concertada da colectividade na produção e na repartição das riquezas. O socialismo pretende resolver o paradoxo do mundo moderno: o pauperismo nasce do maquinismo [Revolução Industrial]».
Esta ideia formulada no início dos anos 30 do século XIX encerra já os germes das futuras evoluções do socialismo. Note-se que se refere já à produção e à formação dos rendimentos no seu processo (de produção) mas não explicita de forma clara a questão da redistribuição, ideia ainda não formulada.
Note-se que os franceses podem sentir-se tentados a procurar na Revolução Francesa as raízes do socialismo. Embora aconselhoe prudência, o autor de “Histoire du Socialisme Euuropéen”, chama a atenção para o seguinte:
Babeuf quer suprimir a propriedade individual;
Rosseau é o arauto do igualitarismo que irá inspirar a Constituição de 1793, colocando o direito de igualdade muito à frente do direito de propriedade;
Robespierre e Saint-Just advoga para as fábricas e o controlo de produção.
E se todos eles são engolidos pela revolução (francesa), ficarão o voluntarismo, o desejo de serem donos do destino, o triunfo da razão, os primórdios do nacionalismo no sentido patriótico do termo.
São, portanto, filhos da Revolução Francesa e das luzes, esses socialistas que irão escrever e pensar sobre o futuro de toda a Humanidade.
E IRÃO INSCREVER-SE NUMA DUPLA OPOSIÇÃO FUNDADORA:
1. na república ateniense;
2. na república dos comerciantes (que Adam Smith e os seus epígonos deixaram de celebrar).
E é bom evocar a herança do liberalismo político, do triunfo da cidadania activa e o progressivo aumento dos direitos do homem, de uma herança da qual a esquerda socialista e democrática europeia ainda hoje é o melhor porta-estandarte.
Todavia, a filiação é mais subtil, porque a Revolução Francesa de 1789 é uma revolução burguesa e não uma revolução operária. As questões agrárias têm nela uma grande importância.
É de outra, a Revolução Industrial, que irá nascer essencialmente o socialismo.
As duas grandes correntes do pensamento que irão alimentar os debates futuros vão definir-se em função da industrialização nascente:
1). De um lado, integram-se os optimistas e os pessimistas, sendo que os primeiros, os optimistas são os campeões da ordem natural, crentes num universo fantasmático (ou fantástico) em que a mão invisível de um senhor imperceptível e impenetrável regula as viragens bruscas do mundo (onde essa mão invisível na actual crise do petróleo?). Segundo estes optimistas (onde incluem Smith e Ricardo e mais tarde Bentham) toda a gente tem a ganhar - «a maior felicidade do maior número» (Bentham) e Jean-Baptiste Say; os minoritários ficam definitivamente ligados ao pessimismo, como Malthus e Sismondi.
2) No outro lado do espectro, os primeiros socialistas vão bater-se, décadas mais tarde, para evitar que o progresso tecnológico, em vez de melhorar a sorte da humanidade, não a escravize ainda mais.
Estes progressistas não estão em cruzada contra o progresso tecnológico – como hoje não devem ir em cruzada contra a globalização – declaram antes guerra às suas consequências incontroladas – recusam que um PROCESSO se substitua a um PROJECTO – ou seja, em defesa de um PROJECTO vão bater-se contra o PROCESSO.
Um problema idêntico se coloca aos socialistas madeirenses na questão da Autonomia: não se trata de estar contra o PROJECTO, mas sim contra o PROCESSO. Por vezes, estas duas linhas parecem não estar definitivamente claras.
Para eles, não se trata de resolver uma questão política mas de solucionar um problema económico. É o que explica (Halévy) que alguns dos primeiros socialistas, como Fourier, Saint-Simon e Owen, se mostrem em sintonia com os princípios exclusivamente políticos da Revolução Francesa.
O que está em causa é a organização da economia, sobretudo a produção e a repartição dos rendimentos que ela gera.
É por isso que a (a) questão económica (falava-se então da questão social) é a primeira das três grandes questões do socialismo. As outras não são de somenos importância: (b) a questão nacional será a da paz, e a (c) questão democrática será a do sufrágio universal. Para os socialistas, a questão económica será então a mais importante das três.
E nisso reside a diferença principal, no século XIX, entre os socialistas e os republicanos: a importância atribuída às questões económicas e sociais.
_____________
Não se pode falar do século XIX como um todo.
Na primeira metade, que decorre entre o Congresso de Viena e a revolução romântica, desenvolve-se no Reino Unido um cartismo proveniente em grande parte das reflexões de Owen; enquanto em França Pierre Leroux, Proudhon e Louis Blanc figuram entre os primeiros socialistas franceses.
Segunda metade: será preciso esperar quinze anos, após o fracasso das jornadas revolucionárias de 1848, para que se inicie a segunda etapa, que verá o marxismo a dominar quase sozinho sobre o pensamento económico e social de esquerda.
Esta etapa irá prolongar-se para além da Primeira Guerra Mundial até aos anos 30.
Na primeira metade do século XIX, Saint-Simon é, com Proudhon, uma fonte insubstituível. Do seu livro de 1814, redigido com Auguistin Thierry, “De la réorganization de la société européenne”, à revista dos irmãos Pereire, “Le Producteur et l’Organsateur”, a doutrina ganha forma.
Uma doutrina que confere ao Estado um papel importante e procura dotá-lo dos meios necessários para controlar a produção (da indústria, como se dizia então), para dar
«A CADA UM SEGUNDO A SUA CAPACIDADE, A CADA UM SEGUNDO O SEU TRABALHO».
A concentração industrial é considerada desejável, ainda que ela não seja colocada ao serviço de todos, ou seja, que os seus lucros não sejam repartidos de uma forma equitativa.
É nessa época que nasce a maior parte das ideias nas quais o Socialismo irá assentar durante dois séculos. É assim que Halévy observa: «O periódo que vai dos primeiros anos do século XIX até a Revolução de 1848 foi aquele em que o socialismo foi mais fecundo no domínio das ideias. Todas aquelas que ainda hoje constituem o essencial da doutrina datam dessa época».
Dois economistas irão exercer uma grande influência nesta doutrina: List e Rodbertus. Um é nacionalista, e ou outro é cosmopolita. Mas a questão levantada por ambos é a mesma: a da formação do rendimento e da sua repartição. E se os impostos são evocados, é apenas para dar resposta às necessidades do Estado, e não para serem redistribuídos, excepto, eventualmente, para financiar as cooperativas.
Assim, a análise concentra-se sobretudo no sistema produtivo. Cada um traça o seu próprio caminho para sair do capitalismo brutal e gerador de desigualdades.
Assim:
1. Para Saint-Simon, esse caminho é o Estado;
2. Para Louis-Blanc, o controlo das forças populares;
3. Para Owen, as cooperativas.
O OBJECTIVO, PORÉM, É CLARO E COMUM: é preciso intervir na forma como o trabalho e o capital são remunerados .
O que está em causa é o desequilíbrio na relação de forças entre os assalariados e os empregadores. Se o capitalismo é o salariado, o ataque visa precisamente o coração do sistema.
O «DESVIO» MARXISTA
Saint-Simon é francês, e procura a justiça;
Owen é inglês, e o seu pensamento é utilitarista;
Marx é alemão, e escreve sobre a liberdade. Mas ele também quer acção e, aliás, é sem dúvida a esse ponto que se deve o seu papel histórico, assim como à formidável síntese que ele opera entre o evolucionismo de Darwin, as contradições económicas de Sismondi e o progresso de List.
O poder desta síntese é tal que tende a afastar tudo o que não é perfeitamente com a doutrina. Tomemos o exemplo das cooperativas, que é muito revelador das posições assumidas por Marx.
Elas são muito populares em Inglaterra, onde se multiplicam, nomeadamente as de consumo, inspiradas nas Webb.
Em França, o socialista Bouchez propõe, em 1831, a organização de cooperativas de produção para que os operários repartam os lucros que de outro modo caberiam aos capitalistas. Embora, depois de 1861, acabe por recomendar este princípio nos congressos da Internacional, Marx não é partidário das cooperativas. Para ele, o único mérito das cooperativas de produção consiste em provarem que, mesmo no capitalismo, as empresas podem prescindir dos capitalistas. Aliás, é por isso que ele se mostrará favorável às sociedades por acções. Mas as cooperativas de consumo não lhe agradam nada, porque, na sua opinião, só servem para mascarar a lei implacável a que estão sujeitos os salários.
A TEORIA IMPLÍCITA DO “QUANTO PIOR MELHOR” DE MARX
Para Marx, o socialismo não advirá nem da acção do Estado (como pretendiam os discípulos de Saint-Simon e de Lassale) nem da acção dos cooperantes – virá naturalmente das contradições inerentes ao sistema. Tudo o que leva o sistema capitalista a afastar-se da acumulação encarniçada do capital e do seu corolário, a baixa tendencial da taxa de lucro, atrasa o seu fim e deve, pois, ser rejeitado. A posição é radical: ao contrário do que procuravam os primeiros socialistas, NÃO É PRECISO FAZER FUNCIONAR MELHOR A ECONOMIA CAPITALISTA; É PRECISO ERRADICÁ-LA, E COMPLETAMENTE. [NOTA PESSOAL: A SISTEMÁTICA RECUSA DA CGTP EM RECUSAR ASSINAR OS ACORDOS DE CONCERTAÇÃO SOCIAL INSERE-SE NESTA PERSPECTIVA ASSIM COMO A RECUSA SISTEMÁTICA DO PCP EM COOPERAÇÃO DE QUALQUER GÉNERO COM OS GOVERNOS DO PS, QUE ACUSAM SISTEMATICAMENTE DE PROMOVER A RECUPERAÇÃO CAPITALISTA].
BERNSTEIN: O QUE IMPORTA É O MOVIMENTO
- Todos os elementos socialistas existentes na sociedade devem ser integrados na evolução para o socialismo.
Para Bernstein, importa regressar às análises dos adeptos de Saint-Simon e Proudhon: “[Não fui eu que ressuscitei Proudhon, ] (“ele ressuscita Proudhon”, dizem os marxistas), a realidade das coisas faz reviver o autor de “La Capacite politique de la classe ouvrière”.
Esta oposição ganha corpo a partir da redacção do programa de Erfurt, em 1891.
A sua primeira parte, redigida por esse grande defensor da ortodoxia que foi Kautsky, define a doutrina.
A segunda parte propõe reformas imediatas. Bernstein será o seu redactor. Porque Bernstein é a reforma. Como o seu objectivo é fazer evoluir a sociedade capitalista, todos os elementos socialistas que nele [no Socialismo] possam ser integrados serão bem-vindos: O QUE IMPORTA É O MOVIMENTO.
CRÍTICAS DE BERNSTEIN A MARX
É por isso que Bernstein se empenha em criticar sistematicamente o pensamento económico de Marx. O ataque principal incide na análise da concentração à qual o capitalismo conduz. Para Marx, esta deve permitir que a indústria desempenhe um papel predominante no capitalismo. Em contrapartida, BERNSTEIN ANUNCIA QUE A BANCA E, EM MENOR ESCALA, O COMÉRCIO É QUE IRÃO DETER A MAIOR PARTE DO PODER ECONÓMICO. Quando à agricultura, parece não haver concentração, pelos menos ao ritmo a que Marx havia previsto. Tratando-se da análise das crises, as divergências são patentes. Para Marx, a concentração conduz à sobreprodução; Para Bernstein, o monopólio conduz sobretudo à subprodução, como virão a demonstrar todas as análises modernas desta forma de concorrência imperfeita. Por último, outro elemento, talvez hoje menos importante, mas não no contexto da época: Bernstein considera que a cooperativa é um elemento de defesa contra o socialismo de Estado.
A IMPOSIÇÃO DO MARXISMO DURANTE LONGAS DÉCADAS:
- Marx adversário do salário mínimo para não atrasar a queda do capitalismo – sempre a teoria do “quanto pior, melhor”.
No entanto, será o marxismo a levar a melhor. O seu poder messiânico é tal que abala tudo à sua passagem, e irá influenciar o pensamento da esquerda durante longas décadas. Mas haverá desvios. Assim, quanto Jules Guesde redige o programa do Congresso de Marselha em 1879, propõe a instauração daquilo que virá a ser o salário mínimo, porque, no pensamento de Marx, o salário mínimo constitui um travão à evolução natural do capitalismo, e consequentemente um elemento moderador a banir para não atrasar a advento da revolução anticapitalista.
O salário mínimo é precisamente o exemplo de uma acção socialista que visa modificar a repartição dos rendimento gerados pela produção. E é também uma maneira de influenciar a divisão entre os salários e os lucros. Esta alteração do capitalismo afasta-se da revolução, e a Internacional ficará desconfiada.
O marxismo impõe, portanto, os seus pontos de vista sem dificuldade. O seu domínio absoluto do socialismo francês (e, consequentemente, a exclusão do saint-simonismo, du proudhonismo e do anarquismo) começa de facto em 1880, logo após o Congresso de Marselha.
Até lá, predomina o pluralismo, mais devido àS realidades sociais do que ao papel na doutrina na identidade do movimento socialista. Isto coincide com o aumento de poder do «guesdismo» que a ortodoxia marxista encarna. Este predomínio determina, em parte, que cada um queira ter o seu atestado de marxismo. Até Jean Jaurès, que se opõe a Jules Guesde, faz questão de se apresentar como um marxista incontestável, apesar das suas notáveis análises críticas sobre o marxismo.
E apesar de a primeira vaga de críticas chegar, depois de Bernstein, na viragem do século, pela pena de Georges Sorel e de Charles Andler, e de ter surgido até uma segunda vaga liderada por Henri de Man e pelos socialistas liberais, amigos de Carlo Rosseli e do seu grupo de antifascistas italianos no seu exílio em Paris, nunca existiu verdadeiramente uma crítica profunda do marxismo no seio do socialismo francês.
Por isso, a influência marxista será duradoura. E irá afastar os socialistas do seu OBJECTIVO INICIAL: REORGANIZAR A PRODUÇÃO E FAVORECER A CRIAÇÃO E A INOVAÇÃO, desde que o progresso tecnológico beneficie toda a gente.
Quando os socialistas franceses se separam, no Congresso de Tours, dos comunistas, que se juntam então na III Internacional, separam também do conforto de uma verdadeira almofada ideológica. E a verdade é que se encontram ideologicamente desprovidos, desamparados, face ao extraordinário poder de sedução do pensamento marxista, à volta do qual a visão política e económica do mundo continua a estruturar-se. A versão leninista do fim do capitalismo não os atrai: eles recusam-na com clareza, e com certa coragem. E irão combatê-la antes mesmo de os seus excessos dramáticos serem conhecidos.
Mas, apear disso, A TRANSFORMAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO CAPITALISMO POR UMA ACÇÃO CONDUZIDA NO SEU PRÓPRIO SEIO CONTINUARÁ A GERAR DESCONFIANÇA. E ainda hoje esta desconfiança pesa muito na mente de alguns.
O QUE RESTA, ENTÃO?
Nos discursos, a revolução. Nos programas, algumas nacionalizações. NA PRÁTICA, UMA VIA, UMA ÚNICA: DEIXAR AO CAPITALISMO O ESSENCIAL DA ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO E DA REPARTIÇÃO DOS RENDIMENTOS E INTERVIR A JUSANTE, DEPOIS DE DISTRIBUÍDOS OS RENDIMENTOS PRIMÁRIOS, PARA TENTAR CORRIGIR PELOS IMPOSTOS, E NA MEDIDA DO POSSÍVEL, AS DESIGUALDADES QUE SE TORNARAM INSUPORTÁVEIS.
E foi assim que, à medida que a apropriação colectiva dos meios de produção se ia afigurando cada vez menos sustentável, o corpo ideológico se recentrou na distribuição. Para acabar, praticamente, por se confinar a ela ou por se contentar com ela.
Daí nascerá esse rumo, essa opinião anedótica, essa caricatura que pressentimos ser tão justa como falsa, que fará dos socialistas os inimigos absolutos da empresa. Aos olhos dos seus detractores, eles não passariam de bons e belos burocratas, monomaníacos do formulário administrativo, centralizadores zelosos dos canais de redistribuição e, afinal, incapazes de favorecer fosse de que maneira fosse a criação de actividades novas, a inovação e o risco.
Como estamos longe da ideia socialista! Da sua vontade de pôr o progresso ao serviço e ao alcance de todos. Do seu desejo instintivo de atacar as raízes dos problemas e de transformar a sociedade. Da sua confiança no homem e desse optimismo tão característico dos primeiros socialistas.
No entanto, é exactamente esta combinação de entusiasmo e de realismo que temos de recuperar. O socialista faz a opção, ética, de pôr o seu pensamento, a sua acção e, por vezes, a sua vida ao serviço da luta contra as desigualdades e o conjunto das formas de discriminação, sejam elas raciais, religiosas, sexuais, étnicas, etc.
Ele faz a opção, ou melhor, toma a decisão de lutar contra a subjugação do fraco pelo forte. Em cada um destes pontos ele entra – ou entrou – em conflito com o capitalismo. Mas a história das ideias e dos movimentos políticos mostra que os socialismos têm reduzido, a pouco e pouco, o seu campo de intervenção, até o tornarem diminuto. Se eles quiserem sair desta situação, se eles quiserem fazer recuar as paredes onde batem regularmente com a parede, terão de dispor-se a repensar sem dogmatismo, o que não significa sem convicção.
A bela fórmula de Carlo Rosselli
O Socialismo é quando «a liberdade chega à vida das pessoas mais pobres»
retirado com poucas alterações de
A CHAMA E A CINZA
O socialismo, a globalização e a Europa
Dominique Strauss-Khan
OU UTÓPICO, segundo a designação marxista
BERNSTEIN
ROBERT OWEN
CHARLES FOURIER
SAINT-SIMON
PROUDHON
Os meados do século XIX vêem os primeiros passos do socialismo, progressistas, contra as consequências do maquinismo nascente e o movimento tinha uma ambição que hoje lhe falta.
O NASCIMENTO DO SOCIALISMO NO SÉCULO XIX
Com a Revolução Industrial, vai nascer a palavra socialismo, entre 1830 e 1840, mais ou menos simultaneamente em França e em Inglaterra, segundo Elie Halévy.
1. Pierre Leroux, adepto das ideias de Saint-Simon, designa assim uma doutrina que submete inteiramente o indivíduo à sociedade.
2. De 1841, data o célebre panfleto de Roberto Owen, Waht Is Socialism?, o qual considera que a multiplicação das cooperativas criará uma outra organização económica e social, mas também moral, eventualmente em conflito com o estado.
Estas duas concepções, francesa e britânica, não são absolutamente antinómicas e vão dar lugar a um debate que ainda hoje se mantém.
A primeira é francesa e é mais teórica e radical. A segunda é britânica, é mais concreta e tem uma perspectiva mais antiestatal.
Elie Halévy define assim o socialismo francês então nascente:
«Doutrina económica (…) o socialismo moderno afirma que é possível substituir a livre iniciativa dos indivíduos pela acção concertada da colectividade na produção e na repartição das riquezas. O socialismo pretende resolver o paradoxo do mundo moderno: o pauperismo nasce do maquinismo [Revolução Industrial]».
Esta ideia formulada no início dos anos 30 do século XIX encerra já os germes das futuras evoluções do socialismo. Note-se que se refere já à produção e à formação dos rendimentos no seu processo (de produção) mas não explicita de forma clara a questão da redistribuição, ideia ainda não formulada.
Note-se que os franceses podem sentir-se tentados a procurar na Revolução Francesa as raízes do socialismo. Embora aconselhoe prudência, o autor de “Histoire du Socialisme Euuropéen”, chama a atenção para o seguinte:
Babeuf quer suprimir a propriedade individual;
Rosseau é o arauto do igualitarismo que irá inspirar a Constituição de 1793, colocando o direito de igualdade muito à frente do direito de propriedade;
Robespierre e Saint-Just advoga para as fábricas e o controlo de produção.
E se todos eles são engolidos pela revolução (francesa), ficarão o voluntarismo, o desejo de serem donos do destino, o triunfo da razão, os primórdios do nacionalismo no sentido patriótico do termo.
São, portanto, filhos da Revolução Francesa e das luzes, esses socialistas que irão escrever e pensar sobre o futuro de toda a Humanidade.
E IRÃO INSCREVER-SE NUMA DUPLA OPOSIÇÃO FUNDADORA:
1. na república ateniense;
2. na república dos comerciantes (que Adam Smith e os seus epígonos deixaram de celebrar).
E é bom evocar a herança do liberalismo político, do triunfo da cidadania activa e o progressivo aumento dos direitos do homem, de uma herança da qual a esquerda socialista e democrática europeia ainda hoje é o melhor porta-estandarte.
Todavia, a filiação é mais subtil, porque a Revolução Francesa de 1789 é uma revolução burguesa e não uma revolução operária. As questões agrárias têm nela uma grande importância.
É de outra, a Revolução Industrial, que irá nascer essencialmente o socialismo.
As duas grandes correntes do pensamento que irão alimentar os debates futuros vão definir-se em função da industrialização nascente:
1). De um lado, integram-se os optimistas e os pessimistas, sendo que os primeiros, os optimistas são os campeões da ordem natural, crentes num universo fantasmático (ou fantástico) em que a mão invisível de um senhor imperceptível e impenetrável regula as viragens bruscas do mundo (onde essa mão invisível na actual crise do petróleo?). Segundo estes optimistas (onde incluem Smith e Ricardo e mais tarde Bentham) toda a gente tem a ganhar - «a maior felicidade do maior número» (Bentham) e Jean-Baptiste Say; os minoritários ficam definitivamente ligados ao pessimismo, como Malthus e Sismondi.
2) No outro lado do espectro, os primeiros socialistas vão bater-se, décadas mais tarde, para evitar que o progresso tecnológico, em vez de melhorar a sorte da humanidade, não a escravize ainda mais.
Estes progressistas não estão em cruzada contra o progresso tecnológico – como hoje não devem ir em cruzada contra a globalização – declaram antes guerra às suas consequências incontroladas – recusam que um PROCESSO se substitua a um PROJECTO – ou seja, em defesa de um PROJECTO vão bater-se contra o PROCESSO.
Um problema idêntico se coloca aos socialistas madeirenses na questão da Autonomia: não se trata de estar contra o PROJECTO, mas sim contra o PROCESSO. Por vezes, estas duas linhas parecem não estar definitivamente claras.
Para eles, não se trata de resolver uma questão política mas de solucionar um problema económico. É o que explica (Halévy) que alguns dos primeiros socialistas, como Fourier, Saint-Simon e Owen, se mostrem em sintonia com os princípios exclusivamente políticos da Revolução Francesa.
O que está em causa é a organização da economia, sobretudo a produção e a repartição dos rendimentos que ela gera.
É por isso que a (a) questão económica (falava-se então da questão social) é a primeira das três grandes questões do socialismo. As outras não são de somenos importância: (b) a questão nacional será a da paz, e a (c) questão democrática será a do sufrágio universal. Para os socialistas, a questão económica será então a mais importante das três.
E nisso reside a diferença principal, no século XIX, entre os socialistas e os republicanos: a importância atribuída às questões económicas e sociais.
_____________
Não se pode falar do século XIX como um todo.
Na primeira metade, que decorre entre o Congresso de Viena e a revolução romântica, desenvolve-se no Reino Unido um cartismo proveniente em grande parte das reflexões de Owen; enquanto em França Pierre Leroux, Proudhon e Louis Blanc figuram entre os primeiros socialistas franceses.
Segunda metade: será preciso esperar quinze anos, após o fracasso das jornadas revolucionárias de 1848, para que se inicie a segunda etapa, que verá o marxismo a dominar quase sozinho sobre o pensamento económico e social de esquerda.
Esta etapa irá prolongar-se para além da Primeira Guerra Mundial até aos anos 30.
Na primeira metade do século XIX, Saint-Simon é, com Proudhon, uma fonte insubstituível. Do seu livro de 1814, redigido com Auguistin Thierry, “De la réorganization de la société européenne”, à revista dos irmãos Pereire, “Le Producteur et l’Organsateur”, a doutrina ganha forma.
Uma doutrina que confere ao Estado um papel importante e procura dotá-lo dos meios necessários para controlar a produção (da indústria, como se dizia então), para dar
«A CADA UM SEGUNDO A SUA CAPACIDADE, A CADA UM SEGUNDO O SEU TRABALHO».
A concentração industrial é considerada desejável, ainda que ela não seja colocada ao serviço de todos, ou seja, que os seus lucros não sejam repartidos de uma forma equitativa.
É nessa época que nasce a maior parte das ideias nas quais o Socialismo irá assentar durante dois séculos. É assim que Halévy observa: «O periódo que vai dos primeiros anos do século XIX até a Revolução de 1848 foi aquele em que o socialismo foi mais fecundo no domínio das ideias. Todas aquelas que ainda hoje constituem o essencial da doutrina datam dessa época».
Dois economistas irão exercer uma grande influência nesta doutrina: List e Rodbertus. Um é nacionalista, e ou outro é cosmopolita. Mas a questão levantada por ambos é a mesma: a da formação do rendimento e da sua repartição. E se os impostos são evocados, é apenas para dar resposta às necessidades do Estado, e não para serem redistribuídos, excepto, eventualmente, para financiar as cooperativas.
Assim, a análise concentra-se sobretudo no sistema produtivo. Cada um traça o seu próprio caminho para sair do capitalismo brutal e gerador de desigualdades.
Assim:
1. Para Saint-Simon, esse caminho é o Estado;
2. Para Louis-Blanc, o controlo das forças populares;
3. Para Owen, as cooperativas.
O OBJECTIVO, PORÉM, É CLARO E COMUM: é preciso intervir na forma como o trabalho e o capital são remunerados .
O que está em causa é o desequilíbrio na relação de forças entre os assalariados e os empregadores. Se o capitalismo é o salariado, o ataque visa precisamente o coração do sistema.
O «DESVIO» MARXISTA
Saint-Simon é francês, e procura a justiça;
Owen é inglês, e o seu pensamento é utilitarista;
Marx é alemão, e escreve sobre a liberdade. Mas ele também quer acção e, aliás, é sem dúvida a esse ponto que se deve o seu papel histórico, assim como à formidável síntese que ele opera entre o evolucionismo de Darwin, as contradições económicas de Sismondi e o progresso de List.
O poder desta síntese é tal que tende a afastar tudo o que não é perfeitamente com a doutrina. Tomemos o exemplo das cooperativas, que é muito revelador das posições assumidas por Marx.
Elas são muito populares em Inglaterra, onde se multiplicam, nomeadamente as de consumo, inspiradas nas Webb.
Em França, o socialista Bouchez propõe, em 1831, a organização de cooperativas de produção para que os operários repartam os lucros que de outro modo caberiam aos capitalistas. Embora, depois de 1861, acabe por recomendar este princípio nos congressos da Internacional, Marx não é partidário das cooperativas. Para ele, o único mérito das cooperativas de produção consiste em provarem que, mesmo no capitalismo, as empresas podem prescindir dos capitalistas. Aliás, é por isso que ele se mostrará favorável às sociedades por acções. Mas as cooperativas de consumo não lhe agradam nada, porque, na sua opinião, só servem para mascarar a lei implacável a que estão sujeitos os salários.
A TEORIA IMPLÍCITA DO “QUANTO PIOR MELHOR” DE MARX
Para Marx, o socialismo não advirá nem da acção do Estado (como pretendiam os discípulos de Saint-Simon e de Lassale) nem da acção dos cooperantes – virá naturalmente das contradições inerentes ao sistema. Tudo o que leva o sistema capitalista a afastar-se da acumulação encarniçada do capital e do seu corolário, a baixa tendencial da taxa de lucro, atrasa o seu fim e deve, pois, ser rejeitado. A posição é radical: ao contrário do que procuravam os primeiros socialistas, NÃO É PRECISO FAZER FUNCIONAR MELHOR A ECONOMIA CAPITALISTA; É PRECISO ERRADICÁ-LA, E COMPLETAMENTE. [NOTA PESSOAL: A SISTEMÁTICA RECUSA DA CGTP EM RECUSAR ASSINAR OS ACORDOS DE CONCERTAÇÃO SOCIAL INSERE-SE NESTA PERSPECTIVA ASSIM COMO A RECUSA SISTEMÁTICA DO PCP EM COOPERAÇÃO DE QUALQUER GÉNERO COM OS GOVERNOS DO PS, QUE ACUSAM SISTEMATICAMENTE DE PROMOVER A RECUPERAÇÃO CAPITALISTA].
BERNSTEIN: O QUE IMPORTA É O MOVIMENTO
- Todos os elementos socialistas existentes na sociedade devem ser integrados na evolução para o socialismo.
Para Bernstein, importa regressar às análises dos adeptos de Saint-Simon e Proudhon: “[Não fui eu que ressuscitei Proudhon, ] (“ele ressuscita Proudhon”, dizem os marxistas), a realidade das coisas faz reviver o autor de “La Capacite politique de la classe ouvrière”.
Esta oposição ganha corpo a partir da redacção do programa de Erfurt, em 1891.
A sua primeira parte, redigida por esse grande defensor da ortodoxia que foi Kautsky, define a doutrina.
A segunda parte propõe reformas imediatas. Bernstein será o seu redactor. Porque Bernstein é a reforma. Como o seu objectivo é fazer evoluir a sociedade capitalista, todos os elementos socialistas que nele [no Socialismo] possam ser integrados serão bem-vindos: O QUE IMPORTA É O MOVIMENTO.
CRÍTICAS DE BERNSTEIN A MARX
É por isso que Bernstein se empenha em criticar sistematicamente o pensamento económico de Marx. O ataque principal incide na análise da concentração à qual o capitalismo conduz. Para Marx, esta deve permitir que a indústria desempenhe um papel predominante no capitalismo. Em contrapartida, BERNSTEIN ANUNCIA QUE A BANCA E, EM MENOR ESCALA, O COMÉRCIO É QUE IRÃO DETER A MAIOR PARTE DO PODER ECONÓMICO. Quando à agricultura, parece não haver concentração, pelos menos ao ritmo a que Marx havia previsto. Tratando-se da análise das crises, as divergências são patentes. Para Marx, a concentração conduz à sobreprodução; Para Bernstein, o monopólio conduz sobretudo à subprodução, como virão a demonstrar todas as análises modernas desta forma de concorrência imperfeita. Por último, outro elemento, talvez hoje menos importante, mas não no contexto da época: Bernstein considera que a cooperativa é um elemento de defesa contra o socialismo de Estado.
A IMPOSIÇÃO DO MARXISMO DURANTE LONGAS DÉCADAS:
- Marx adversário do salário mínimo para não atrasar a queda do capitalismo – sempre a teoria do “quanto pior, melhor”.
No entanto, será o marxismo a levar a melhor. O seu poder messiânico é tal que abala tudo à sua passagem, e irá influenciar o pensamento da esquerda durante longas décadas. Mas haverá desvios. Assim, quanto Jules Guesde redige o programa do Congresso de Marselha em 1879, propõe a instauração daquilo que virá a ser o salário mínimo, porque, no pensamento de Marx, o salário mínimo constitui um travão à evolução natural do capitalismo, e consequentemente um elemento moderador a banir para não atrasar a advento da revolução anticapitalista.
O salário mínimo é precisamente o exemplo de uma acção socialista que visa modificar a repartição dos rendimento gerados pela produção. E é também uma maneira de influenciar a divisão entre os salários e os lucros. Esta alteração do capitalismo afasta-se da revolução, e a Internacional ficará desconfiada.
O marxismo impõe, portanto, os seus pontos de vista sem dificuldade. O seu domínio absoluto do socialismo francês (e, consequentemente, a exclusão do saint-simonismo, du proudhonismo e do anarquismo) começa de facto em 1880, logo após o Congresso de Marselha.
Até lá, predomina o pluralismo, mais devido àS realidades sociais do que ao papel na doutrina na identidade do movimento socialista. Isto coincide com o aumento de poder do «guesdismo» que a ortodoxia marxista encarna. Este predomínio determina, em parte, que cada um queira ter o seu atestado de marxismo. Até Jean Jaurès, que se opõe a Jules Guesde, faz questão de se apresentar como um marxista incontestável, apesar das suas notáveis análises críticas sobre o marxismo.
E apesar de a primeira vaga de críticas chegar, depois de Bernstein, na viragem do século, pela pena de Georges Sorel e de Charles Andler, e de ter surgido até uma segunda vaga liderada por Henri de Man e pelos socialistas liberais, amigos de Carlo Rosseli e do seu grupo de antifascistas italianos no seu exílio em Paris, nunca existiu verdadeiramente uma crítica profunda do marxismo no seio do socialismo francês.
Por isso, a influência marxista será duradoura. E irá afastar os socialistas do seu OBJECTIVO INICIAL: REORGANIZAR A PRODUÇÃO E FAVORECER A CRIAÇÃO E A INOVAÇÃO, desde que o progresso tecnológico beneficie toda a gente.
Quando os socialistas franceses se separam, no Congresso de Tours, dos comunistas, que se juntam então na III Internacional, separam também do conforto de uma verdadeira almofada ideológica. E a verdade é que se encontram ideologicamente desprovidos, desamparados, face ao extraordinário poder de sedução do pensamento marxista, à volta do qual a visão política e económica do mundo continua a estruturar-se. A versão leninista do fim do capitalismo não os atrai: eles recusam-na com clareza, e com certa coragem. E irão combatê-la antes mesmo de os seus excessos dramáticos serem conhecidos.
Mas, apear disso, A TRANSFORMAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO CAPITALISMO POR UMA ACÇÃO CONDUZIDA NO SEU PRÓPRIO SEIO CONTINUARÁ A GERAR DESCONFIANÇA. E ainda hoje esta desconfiança pesa muito na mente de alguns.
O QUE RESTA, ENTÃO?
Nos discursos, a revolução. Nos programas, algumas nacionalizações. NA PRÁTICA, UMA VIA, UMA ÚNICA: DEIXAR AO CAPITALISMO O ESSENCIAL DA ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO E DA REPARTIÇÃO DOS RENDIMENTOS E INTERVIR A JUSANTE, DEPOIS DE DISTRIBUÍDOS OS RENDIMENTOS PRIMÁRIOS, PARA TENTAR CORRIGIR PELOS IMPOSTOS, E NA MEDIDA DO POSSÍVEL, AS DESIGUALDADES QUE SE TORNARAM INSUPORTÁVEIS.
E foi assim que, à medida que a apropriação colectiva dos meios de produção se ia afigurando cada vez menos sustentável, o corpo ideológico se recentrou na distribuição. Para acabar, praticamente, por se confinar a ela ou por se contentar com ela.
Daí nascerá esse rumo, essa opinião anedótica, essa caricatura que pressentimos ser tão justa como falsa, que fará dos socialistas os inimigos absolutos da empresa. Aos olhos dos seus detractores, eles não passariam de bons e belos burocratas, monomaníacos do formulário administrativo, centralizadores zelosos dos canais de redistribuição e, afinal, incapazes de favorecer fosse de que maneira fosse a criação de actividades novas, a inovação e o risco.
Como estamos longe da ideia socialista! Da sua vontade de pôr o progresso ao serviço e ao alcance de todos. Do seu desejo instintivo de atacar as raízes dos problemas e de transformar a sociedade. Da sua confiança no homem e desse optimismo tão característico dos primeiros socialistas.
No entanto, é exactamente esta combinação de entusiasmo e de realismo que temos de recuperar. O socialista faz a opção, ética, de pôr o seu pensamento, a sua acção e, por vezes, a sua vida ao serviço da luta contra as desigualdades e o conjunto das formas de discriminação, sejam elas raciais, religiosas, sexuais, étnicas, etc.
Ele faz a opção, ou melhor, toma a decisão de lutar contra a subjugação do fraco pelo forte. Em cada um destes pontos ele entra – ou entrou – em conflito com o capitalismo. Mas a história das ideias e dos movimentos políticos mostra que os socialismos têm reduzido, a pouco e pouco, o seu campo de intervenção, até o tornarem diminuto. Se eles quiserem sair desta situação, se eles quiserem fazer recuar as paredes onde batem regularmente com a parede, terão de dispor-se a repensar sem dogmatismo, o que não significa sem convicção.
A bela fórmula de Carlo Rosselli
O Socialismo é quando «a liberdade chega à vida das pessoas mais pobres»
retirado com poucas alterações de
A CHAMA E A CINZA
O socialismo, a globalização e a Europa
Dominique Strauss-Khan
APROXIMAÇÃO DO FUNCHAL AO LUBANGO (SÁ DA BANDEIRA)
Esta ideia de aproximação do Funchal a Lubango, Sá da Bandeira, - que poderia passar por uma geminação - parece-me consistente e pertinente.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
ACORDO ORTOGRÁFICO
Sobre o Acordo Ortográfico, que já foi promulgado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, escreve Rui Tavares no Público:
Nem se vai dar por isso
Agora que o Acordo Ortográfico está ratificado, os seus adversários fazem dois tipos de profecias: que ninguém lhe obedecerá ou que a sua aplicação será uma calamidade. Não acredito em nenhuma das duas hipóteses e vou explicar porquê.
Quem tem de obedecer ao acordo em primeiro lugar são os próprios Estados que o assinaram.Agora que o Acordo Ortográfico está ratificado, os seus adversários fazem dois tipos de profecias: que ninguém lhe obedecerá ou que a sua aplicação será uma calamidade. Não acredito em nenhuma das duas hipóteses e vou explicar porquê.
Quem tem de obedecer ao acordo em primeiro lugar são os próprios Estados que o assinaram. Eu escrevo e continuarei a escrever da forma como quiser sem punição do Estado (na verdade, muitas vezes são os poderes privados que interferem: eu escrevo sempre "estado" com minúscula, e tanto este jornal como a minha editora costumam alterar para maiúscula). Mas reconheço legitimidade ao Estado [maiúscula introduzida pelo editor para confirmar declaração anterior] para escolher uma ortografia para os seus actos escritos, nomeadamente para que as leis estejam escritas de forma homogénea. O primeiro objecto do acordo será, nesse sentido, o Diário da República. O resto da sociedade só segue se quiser.
Dito isto, é natural que o acordo vá progressivamente entrando nos hábitos de escrita dos portugueses e outros lusófonos, e isto por uma razão que neste momento talvez provoque algum escândalo. Ele, de facto, simplifica-nos a vida.
No Brasil irão ocorrer duas mudanças fundamentais. A primeira é cair o trema em palavras como "seqüência" ou "lingüiça". É até compreensível a resistência a esta mudança. Ela facilita no momento da escrita, mas pode dificultar a leitura. Algumas pessoas, dizem os opositores, podem passar a dizer "sekencia", como se aquele "u" não fosse para pronunciar. Mas nós portugueses, que não usamos o trema, sabemos que esta confusão é rara: que me lembre, só na palavra "sequestro" há quem leia "secuestro" ou "sekestro". E não só esta confusão é rara como não vem daí mal ao mundo, no sentido em que ninguém deixa de se compreender por ela.
A segunda é cair o acento que os brasileiros usam em "idéia" ou "assembléia". Li uma entrevista de um poeta brasileiro (à revista Língua Portuguesa, que se edita naquele país) protestando contra o que neste caso seria uma "vitória" da pronúncia portuguesa. Segundo ele, os portugueses pronunciariam "idêia" e "assemblêia" com o "e" fechado, e a queda do acento consagraria isto, que nós sabemos que é um disparate. Os portugueses pronunciam o "e" aberto em ambas as palavras.
Estas misturadas dos oponentes do lado de lá do Atlântico ajudam-nos a entender melhor as misturadas que se fazem do lado de cá.
Em Portugal, a grande mudança é a queda das consoantes mudas. Já se falou muito sobre as suas desvantagens. Vejamos agora o outro lado da moeda. Frequentemente vejo escrito "contracto" (no sentido de "acordo" e não de "contraído", claro) com um "c" a mais. E não é raro encontrar a forma "conductor" ou até "traducção". Isso acontece porque, como as consoantes mudas não se lêem, acabamos por inventá-las no momento da escrita em palavras onde elas "poderiam" estar.
A partir de agora passa a haver uma regra simples. No momento de escrever, pense-se: eu pronuncio aquele "c"? Se sim, escrevo. Caso contrário, não escrevo (ou, em alternativa: se desejo continuar a escrevê-lo, devo pronunciá-lo). Esta regra vai facilitar a vida a muita gente no momento da escrita. E ela é, por si só, a grande mudança que o cidadão comum vai ter de fazer. Quando começar a ser utilizada, pouca gente quererá voltar atrás.
Sempre o disse: esta reforma ortográfica é relativamente modesta (quando comparada, por exemplo, com a que a língua alemã fez recentemente). Se estamos numa de palpites, deixo o meu: daqui a cinco anos ninguém se vai lembrar das razões de tanta resistência.
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ACORDO ORTOGRÁFICO
DISCURSO DO LÍDER PARLAMENTAR DO PS
CIDADÃOS NÃO ESTÃO PREOCUPADOS COM O REFERENDO
INTERVENÇÃO DO LÍDER PARLAMENTAR DO PS HOJE NO PARLAMENTO
(Extractos da intervenção)
O PSD-MADEIRA E O SEU PRESIDENTE JULGAM:
Que as famílias pagam a prestação da casa com a revisão constitucional?
Que os professores e os funcionários públicos mudam de escalão com a revisão constitucional;
Que os funcionários públicos vêem o seu tempo de serviço descongelado com a revisão constitucional?
Que os agricultores, pescadores e taxistas ficam com o gasóleo mais barato com a revisão constitucional?
Que o IRS e o IRC ficam mais em conta com a revisão constitucional?
Que na Bomba de gasolina aceitam pagamentos com uma página do projecto de revisão constitucional?
Que as famílias enchem o carrinho de supermercado com meia dúzia de folhas da proposta de revisão constitucional?
E que tal fazer as transferências milionárias do Orçamento da Região para pagar as concessionárias e os negócios ruinosos do Governo PSD com uma tranche da revisão constitucional?
Que tal o Governo do PSD-M financiar as pseudo-associações criadas e mantidas com os dinheiros públicos tudo pago com a revisão constitucional?
Que tal aliviar a monstruosa divida pública com uma tranche da revisão constitucional?
A revisão constitucional é para desviar as atenções dos problemas - atirando poeira para os olhos dos madeirenses!
Publicada por Victor Freitas em 17:11 0 comentários
OS CIDADÃOS NÃO ESTÃO PREOCUPADOS COM O REFERENDO
(Extractos da minha intervenção hoje no Parlamento)
O PSD pensa no referendo - os cidadão lutam para não caírem nas malhas do desemprego;
O PSD pensa no referendo - os cidadão estão preocupados com o custo de vida e o baixo poder de compra;
O PSD pensa no referendo - os cidadão apertam o cinto para pagar as contas;
O PSD pensa no referendo - os cidadão estão preocupados em pagar as altas taxas de juros no crédito à habitação;
O PSD pensa no referendo - os cidadão lutam estão preocupados em arranjar dinheiro para pagar os livros e materiais escolares dos seus filhos;
O PSD pensa no referendo - os cidadão lutam para não caírem nas malhas da pobreza;
O PSD PENSA EM DESVIAR AS ATENÇÕES DOS PROBLEMAS - OS CIDADÃO ENFRENTAM A CRISE!
Publicada por Victor Freitas em 17:05 0 comentários
JARDIM E O PSD-M ESTÃO CONTRA O AUMENTO DAS DEDUÇÕES NO CRÉDITO À HABITAÇÃO
(Extractos da minha intervenção hoje no Parlamento)
O PSD-M e o seu Governo já afirmaram que pelo PSD não aumentariam as deduções no crédito à habitação:
Pelo PSD-M o 1º e 2º escalão de IRS não teriam uma majoração de 50% - passando a deduzir 879 euros - o PSD-M está contra esta medida;
Pelo PSD-M os cidadãos detentores do 3º escalão de IRS não poderia deduzir 703 euros no crédito à habitação - o PSD-M está contra esta medida;
Pelo PSD-M os cidadãos detentores do 4º escalão de IRS não poderia deduzir 644 euros no crédito à habitação - o PSD-M está contra esta medida;
Publicada por Victor Freitas em 16:58 0 comentários
JARDIM E O PSD-M NÃO BAIXAM IMPOSTOS
(Extractos da intervenção)
O PSD-M já afirmou que perante as medidas sociais do Governo do PS, essas medidas não serão aplicadas na Madeira:
O PSD-M e o seu Governo não vão congelar o preço dos passes sociais - vão aumenta-los;
O PSD-M e o seu Governo já afirmaram que não irão reduzir em 50%, como fez o Governo PS, os passes para estudantes;
O PSD-M e o seu Governo já afirmaram que não irão aumentar o número de beneficiários da Acção Social Escolar, como fez o Governo PS;
O PSD-M e o seu Governo já afirmaram que não irão aumentar as comparticipações e a abrangência nas refeições escolares, nos manuais e no material escolar, como fez o Governo PS;
Publicada por Victor Freitas em 16:51 0 comentários
JARDIM NÃO BAIXA IMPOSTOS NA MADEIRA
(Extractos da intervenção)
"NA MADEIRA NÃO VOU BAIXAR IMPOSTOS" quem o diz é o Presidente do PSD-M.
Três notas:
Pela primeira vez assume que são os responsáveis pela excessiva carga fiscal na Madeira sobre as empresas e sobre as famílias;
Assumem que podem baixar impostos mas não irão fazê-lo;
Assumem que viver na Madeira é pagar mais impostos e ter menos regalias sociais;
Assumem assim perante os Madeirenses que:
O gasóleo é mais caro na Madeira - por vontade do PSD-M;
A gasolina é mais cara na Madeira - por vontade do PSD-M;
O gás é mais caro na Madeira - por vontade do PSD-M;
As empresas pagam mais IRC na Madeira - por vontade do PSD-M;
As famílias pagam mais IRS na Madeira - por vontade do PSD-M;
Os cidadãos e as famílias pagam mais Imposto sobre Imóveis(IMI) - por vontade do PSD-M;
O PSD-M afirma e reafirma que perante a situação económica e social as famílias e as empresas estão sozinhas, estão abandonadas à sua sorte. O PSD não ajuda as famílias e as empresas - o Governo PSD-M prejudica as empresas e as famílias com muita carga fiscal.
ATAQUE CERRADO CONJUNTO PPD/MPT A VÍTOR FREITAS, CARLOS PEREIRA E MIGUEL FONSECA
O Arco do Sistema, PPD/MPT, preparou, nos últimos dias, um ataque cerrado a Miguel Fonseca, Vítor Freitas e Carlos Pereira. Aguarda-se novos ataque desta dupla-base do sistema a Agostinho Soares, Rui Caetano, Claúdio Torres, Tino, Paulo Barata, e outros quejandos.
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o sistema laranja
segunda-feira, 21 de julho de 2008
MPT EMPURRA PARA LISBOA
Faltava ainda dizer esta: o MPT, tal como o seu amigo PPD, empurra a contagem do tempo de serviço dos professores madeirenses para Lisboa, ao contrário do que fizeram o PS/Madeira e o PS Açores, que querem e resolvem o problema nas TALOP'S - territórios autónomos de Lingua Oficial Portuguesa - o MPT, como se sabe, tal como o PPD Madeira, despreza a Autonomia. Será que também vai mandar para Lisboa o fim do exame de acesso ao 6º. escalão?
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o sistema laranja cai à gargalhada
MPT APRESENTA PARA A SEMANA PACOTE DE MEDIDAS SOCIAIS OU DE APOIO À ECONOMIA?
(Fazendo com as aves que põem os ovos nos ninhos dos outros)depois de ter copiado o PS na reivindicação do fim do exame do 6º. escalão dos professores e da medidas de apoio aos taxistas, será que o MPT vai copiá-lo nas medidas sociais e económicas?
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O ARCO DO SISTEMA PPD/MPT
PRECONCEITOS PARTIDÁRIOS - RESPOSTA AO MPT
Sobre o estatuto dos professores, respondo ao MPT:
1. Denunciei publicamente o congelamento das carreiras:
2. Denunciei numa reunião partidária antes das eleições regionais;
3. Denunciei no Diário de notícias
4. Fiz contactos com forças politicas para além do PS para que apresentassem um estatuto regional dos professores ainda isso não era falado...
5. Reafirmo que a responsabilidade do congelamento dos professore no Continente é do PS.
5. Quer o MPT mais? É simples, dispa os preconceitos e denuncie o PSD_Madeira e o seu Governo.
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O ARCO DO SISTEMA PPD/MPT
AFIRMAÇÃO CLARA, INEQUÍVOCA E PEREMPTÓRIA: O MPT FAZ O JOGO DO PPD
O MPT respondeu a este blog e a mim. Há sempre uma primeira vez e vejo que um partido responde a um cidadão neste caso. No PPD e no seu governo isso é frequente. Também nisso se igualam. Mas devo dizer que me sentia mal que o MPT não pudesse responder. Só que incorre numa incoerência e numa imprecisão:
Incoerência: o respeito pela opinião dos outros, implica que eu tenho o direito à minha opinião. Acontece que o direito à opinião deve basear-se em factos. E, sendo assim:
- O MPT incorre na tal incoerência: é que eu não insinuo, afirmo, declaro, digo, sustento, de uma forma clara, inequívoca, categórica, peremptória e baseada em factos. Aliás, não respeito opiniões que se baseiam no vago, no impreciso, na insinuação. Parto da última questão: o congelamento dos professores.
Quando o MPT diz que "não se opõe a uma solução no âmbito da ALM, relativamente à contagem do tempo de congelamento de carreiras da função pública e professores para efeitos de progressão na carreira" não está a fazer o jogo do PSD.
Mas quando diz que "para isso acontecer, é necessário um consenso entre os partidos com representação parlamentar, parceiros sociais e Representante da República, a exemplo do verificado nos Açores", está claramente a fazer o jogo do PPD - note-se, não estou a insinuar - estou a dizer com todas as letras - o MPT faz o jogo do PPD, na medida em que, logo a seguir, o MPT foge-lhe a prosa para a verdade
"O problema é que o PSD/M já disse claramente que não viabilizará essa proposta do PS-M, cabendo antes à Assembleia da República a resolução dessa matéria".
Não, não cabe à assembleia da República viabilizar o descongelamento da carreira dos professores (e dos funcionários públicos) madeirenses - cabe à Assembleia da Madeira e na assembleia da Madeira quem tem a maioria é o PPD, logo é o PPD que que tem a responsabilidade - não é o PS. E ao não reconhecer isso - que foi o PPD e é o PPD e não o PS/Madeira que que é responsável, o MPT não só faz o jogo do PPD como é co-responsável pelo congelamento dos professores da Madeira.
Não foi o Governo da República do PS nem a Assembleia da República que descongelaram a carreira dos professores nos Açores - foi o PS-Açores e o Governo Açoriano.
Logo, é o PSD que deve resolver o problema. Ao não reconhecer isso, o MPT faz objectiva e efectivamente o jogo do PSD
Já agora, para quê querer convencer o PS na Assembleia da Repúbica, porque não começar por convencer o PPD-Madeira?
Não, nem todas as opiniões são respeitáveis, se elas se basearem em falsos argumentos, em meras suposições, em especulações; estudo os factos, analiso as questões e dou opinião. E é com base em factos que reafirmo:
- O MPT-Madeira faz o jogo do PPD-Madeira e do seu Governo, o que é coerente, do ponto de vista político, visto que, na Assembleia da República, o MPT integra o grupo parlamentar do PSD.
P. S.
E sobre a eleição da vice-presidência da ALR, embora não tenha o direito de dizer ao PS que candidato apresentar, o MPT tem o direito de votar em quem quiser, mas, na prática, está a fazer o jogo do PSD. Aliás, o MPT e o PSD são os dois únicos partidos parlamenares que, neste caso da vice-presidência, devem ser acusados e denunciados por não estarem a cumprir o Estatuto Político-Administrativo da RAM e, indirectamente, a violar a Constituição, que obriga a cumprir os estatutos das Regiões Autónomas.
Obrigado ao MPT pela importância concedida e volte sempre. Se me apanhar em falso, dou a mão a palmatória. Senão...
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sexta-feira, 18 de julho de 2008
O JOGO DO DISFARÇA DE ISIDORO: PPD E MPT RESPONSÁVEIS PELO CONGELAMENTO DOS PROFESSORES
No seu papel de tampão das responsabilidades do PPD e do seu Governo, o MPD vem dizer o "jogo do empurra [entre o PSD e o PS] ... tem de ter um fim". Não, não há o jogo do empurra, há é o "jogo do disfarça" do MPT. Sejamos claros e demos o seu a seu dono: o responsável pelo congelamento dos professores e dos funcionários públicos no Continente tem um nome: o Governo da República do PS; o responsável pela contagem de tempo do período de congelamento na Região Autónoma dos Açores tem um nome: o Governo Socialista dos Açores; e o responsável pelo congelamento da carreira dos professores e dos funcionários públicos na Madeira tem um nome: Governo Regional do PSD. Mas tem também um encobridor: o MPT, pela sua política de tentar branquear as responsabilidades do Governo do PSD. Portanto, não venha Isidoro fazer o jogo da culpa a meias - se for a meias, é a dividir pelo PPD e pelo MPT. Porque o PS na Madeira não é governo - é governo nos Açores e na República. São realidades diferentes. E se o MPT está tão preocupado com os professores do Continente há um deputado do MPT na AR(integrado na bancada do PSD!), esse deputado que apresente a proposta lá. Agora, o que acontece é que o PSD e o MPT, fingindo-se preocupados com a carreira dos professores do Continente (eu também estou), impedem os professores da Madeira de ter o mesmo direito que os professores dos Açores.
Esse "jogo do disfarça-responsabilidades" do MPT tem de acabar! Quanto ao fim do exame para o 6º. escalão, o MPT faz plágio da proposta do PS. Mas o MPT é um fingidor, finge tão completamente, que chega a sentir que a gente acredita, naquilo que só ele sente, quando deveras mente("o poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a sentir que é dor a dor que deveras sente", Fernando Pessoa)
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quinta-feira, 17 de julho de 2008
JAIME GAMA: O PS-MADEIRA NEM DEVIA INDIGNAR-SE
Jaime Gama não merece ter a honra nem da nossa indignação, nem do nosso protesto, nem da nosso desprezo e nem sequer da nossa indiferença; nenhum sentimento da nossa parte deve ou pode ser desenvolvido pela inexistência - o que não existe - ou pela nosso desconhecimento - o que não sabemos que existe (porque até a indiferença se manifesta perante uma entidade existente à qual não ligamos): que sentimento me pode provocar a trágica situação de uma família nos confins do oriente, se infelizmente a não conheço, à família e à sua situação? É esta a minha maneira de estar na vida: nem ódio, nem amor, nem tristeza, nem desprezo, nem indiferença pelos seres que não existem ou deixaram de existir. Jaime Gama é um nome fictício de uma entidade abstracta. Para o PS-Madeira, Jaime Gama pura e simplesmente [já] não existe. Para quê perder cera com tal reles defundo?
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OS VALORES DA CIVILIZAÇÃO
A FRASE
Maria flor Pedroso: Acha que Alberto João Jardim é um democrata?
Jaime Gama: acho que é um combatente EM democracia.. Um combatente e [d]isso ninguém tem dúvida.
Jaime Gama: acho que é um combatente EM democracia.. Um combatente e [d]isso ninguém tem dúvida.
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O PS MADEIRA NÃO É CARNE PARA CANHÃO
quarta-feira, 16 de julho de 2008
MESA DA ALR CONTRIBUI PARA O DESPRESTÍGIO DO PARLAMENTO
Já não bastam os episódios que têm feito o parlamento ser notícia por más razões ao longo destes tempos que já vão longos de trinta anos - a mesa do parlamento, nas últimas sessões, têm contribuído para o desprestígo da Assembleia Regional, pela forma aleatória, casuística e mesmo arbitrária como tem dirigido os trabalhos parlamentares, com decisões incongruentes, onde impera a falta de equidade entre os diversos grupos na atribuição de tempos de intervenção e nem ao menos se estreve a respeitar os rígidos critérios do regimento. A tal ponto, ao que sabemos, que tem deixado assarapantada a própria liderança do partido da maioria, tal o desnorte evidenciado pela mesa. Perante o grave problema de falta de prestígio que atinge o primeiro órgão de governo próprio, convinha que a mesa do parlamento fizesse parte da solução e não fosse ela própria parte do problema. Pede-se ao Presidente do primeiro órgão da Autonomia que tenha mão nos seus pares, como primus inter pares.
A CPLP ATRAI CADA VEZ MAIS PAÍSES
O número de países a querer ser membros ou associados ou com o estatuto de observador na CPLP aumenta à medida que crescre a sua importância estratégica, na qual o elemento essencial é a Língua Portuguesa. E daí o valor estratégico do Acordo Ortográfico. O Diário de Notícias de Lisboa de hoje fala da crescente importância da Comunicade dos Países (ou dos Povos) de Língua Portuguesa.
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