O pacto das oligarquias
1. O PS-Madeira teve a mais pesada das derrotas de quantas houve após o vinte de Abril. O PS, ainda assim, já foi um grande partido na Madeira. Já foi poder em várias juntas e câmaras da nossa Região Autónoma, caso de Machico e Porto Santo, e esteve à beira de ganhar o poder autárquico em vários concelhos, como Funchal, Santa Cruz, Porto do Moniz e Ponta do Sol.
2. A partir de uma determinada altura, as duas lógicas que se digladiavam no interior PS uniram-se - definitivamente - para capturar o Partido e impedir qualquer projeto de poder sério e sólido, que pudesse colocar em perigo a hegemonia deste regime de único partido que nos governa há quase quatro décadas.
3. A oligarquia do aparelho dominou, por completo, todas as estruturas do partido e perseguiu todas os socialistas que pudessem colocar em perigo a sua hegemonia. Quando muito, serviu-se dessas pessoas como cérebros para elaborar documentação programática, reconhecida que é a sua incompetência política, tanto assim que nada fizeram com esses acervos programáticos.
4. À oligarquia do aparelho, junta-se a oligarquia económica, que exerce um poder de suserania sobre as direções cooptadas pelas duas oligarquias. Na prática, as várias direções, ou aceitam o poder suserano da oligarquia económica, exercido através da oligarquia aparelhística, ou têm grandes dificuldades em exercer a sua ação política.
5. Ambas as oligarquias têm ligações muito fortes em Lisboa. Qualquer candidato a deputado, na ALR ou na AR, tem de ter o beneplácito destas duas oligarquias. Quando tal não acontece, o que é inédito, há pressões nas duas direções, de Lisboa para o Funchal e do Funchal para Lisboa, tudo de uma forma capciosa, sobre a ação política desses agentes.
6. O resultado deste pacto não escrito mas pragmático entre as duas oligarquias tem sido não só nefasto para o PS como para toda a Esquerda e para a Democracia em geral na Madeira. Assumo que sou um alvo predileto dessas duas oligarquias. E, como eu, todas as figuras que, no PS, pudessem colocar em causa essa hegemonia pactuária. Esta é uma realidade da vida interna do PS mas transformou-se, pelos danos que tem causado à Democracia, um assunto que diz respeito a todos os democratas. Calar-se é pactuar também. E eu não pactuo nem pretendo vir a ser pactuante.
7. Nas últimas eleições, a maioria dos madeirenses, facto inédito da história da nossa Autonomia, que não tem sido devidamente relevado, votou na Oposição: 52%. Contudo, o Partido Socialista, sequestrado pelas duas oligarquias pactuárias, não foi além de pouco mais de 10%. E note-se que perdeu apenas um deputado, passando de 7 para 6 deputados, porque beneficiou com a queda do PSD. Senão, o descalabro teria sido ainda mais visível.
8. A desagregação do Partido Socialista e a perda da sua credibilidade como partido de alternativa, levou à pulverização do sistema partidário regional. Entretanto, o regime permanece. Já nestas eleições, a Plataforma Democrática, que propus aos dirigentes do partido, poderia tê-lo afastado.
9. Todavia, as duas oligarquias, que também integram o regime, opuseram-se e impuseram-se para que a Plataforma não fosse concretizada. A razão é simples: se a Plataforma singrasse, tal como o regime, as duas poderiam ter naufragado. Mas quem naufragou – para que elas pudessem continuar a singrar no seu percurso pactuante -, foi a PD.
10. Este pacto entre a oligarquia do aparelho e a reconhecida oligarquia económica transforma qualquer direção do PS em mera regência e qualquer presidente do partido em simples regente ou feitor. O pacto oligárquico, já foi, entretanto, novamente lavrado e renovado para o próximo Congresso. Portanto, está de saída o feitor cessante, já está indigitado o novo feitor: desta vez, uma perfeita aliança ratificada entre o Senhor de todos os pactos, há décadas, por parte da oligarquia económica, Emanuel Jardim Fernandes, com o rosto visível da oligarquia aparelhística, Vítor Freitas. O processo pactuário must go on! A alternativa democrática? Go down!
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