Luanda porto de abrigo
Cavaco Silva chega hoje a Luanda numa visita oficial ao nosso país e para participar na cimeira da CPLP. Os amigos são sempre bem-vindos. Os angolanos vão mostrar ao Chefe de Estado português que está entre amigos, nesta que durante alguns dias vai ser a casa da grande família dos povos que falam português.
Angola é um grande país de África mas a sua dimensão ganha ainda mais expressão por ser membro de uma comunidade de povos que têm laços culturais fortes e uma História comum. Ao contrário de outros, que não tiveram a felicidade de viver o 25 de Abril de 1974, não temos contas a ajustar nem nada que nos faça dar mais importância ao passado do que aos exaltantes desafios do presente.
A presença de Cavaco Silva em Angola só tem aspectos positivos. Não há sombras nem pecados passados que possam interferir no sucesso que a sua viagem presidencial seguramente vai ter. O Lobito espera o Presidente português com expectativa, porque além de vermos nele um sábio em questões económicas e financeiras, a delegação empresarial que o acompanha pode ajudar a nossa maior cidade portuária a regressar ao seu antigo esplendor industrial.
Benguela também espera ansiosa por Cavaco Silva, o representante de um povo que fez a “Revolução dos Cravos” e que se colocou ao nosso lado na luta pela independência, reforçando o movimento de libertação nacional. E ele próprio, mais tarde, durante a guerra pela soberania nacional, foi o parceiro amigo que nos ajudou a conquistar a paz.
Os empresários do Lubango querem trocar experiências e estabelecer parcerias com os seus colegas portugueses, sobretudo na área do Turismo. Portugal é hoje uma potência europeia nessa área e a província da Huíla tem condições únicas para ser um destino turístico privilegiado em África. Quando o Presidente Cavaco Silva chegar à cidade das alturas da Chela, vai seguramente patrocinar parcerias criativas entre os empresários portugueses e os seus colegas do Sul de Angola. A língua portuguesa é um traço de união entre os nossos povos mas essa ligação tão funda, tem de servir para concretizarmos projectos económicos comuns e para vencermos dificuldades sociais que afectam a Humanidade.
Hoje, quando Cavaco Silva desembarcar em Luanda, vai ver que a velha cidade fundada por Paulo Dias de Novais é como o nosso povo: resiste a tudo e não se dá por vencida. Para nós que a amamos, até as suas ruínas têm beleza. As feridas causas pela pressão de milhões de pessoas que aqui se refugiaram em condições precárias para salvarem as suas vidas, enchem-nos de orgulho, apesar de nos causarem incómodos. Mesmo que se afunde lentamente na baía, nós vamos continuar a vê-la como a mais bela cidade do mundo.
Luanda, sempre de braços abertos aos viajantes e aos que precisam de agasalho, é bela e é ímpar, exactamente porque não sendo a terra prometida, tem para todos cuidados de mãe, ainda que esteja de mãos nuas e com as vísceras expostas. Queremos mostrar ao Presidente Cavaco Silva e à sua comitiva que Luanda, uma das mais antigas cidades de África, nunca foi tão bela como agora, porto de abrigo de milhões de angolanos escorraçados das suas aldeias, das suas lavras, das suas cidades, por uma guerra brutal e impiedosa. Esta é a cidade deles, dos que ficaram sem terra, sem casas e sem família. Esta é a nossa cidade, dos que amam a verdadeira liberdade.
Hoje, tenho a certeza, todos os luandenses querem que Luanda seja a cidade do Presidente Cavaco Silva e da sua comitiva. Não lhe limpamos as feridas porque queremos que todos vejam quanto nos custou lutar pela dignidade e pela soberania nacional. Mas estão à mostra suficientes sinais que mostram porque tanto amamos a nossa grande capital.
Portugal e Angola têm no 25 de Abril de 1974 o dia de todos os abraços. Desde esse momento único na História dos nossos povos, só temos razões para reforçar as nossas relações e cultivar a nossa amizade.
Num momento em que o mundo atravessa uma crise sistémica tão grave, Cavaco Silva e José Eduardo dos Santos podem dar um contributo inestimável para a solução dos grandes problemas que nos afligem mas também para os problemas com que a humanidade se confronta. Não é a primeira vez que líderes e países distantes das luzes da ribalta são capazes de encontrar soluções que mudam o curso dos acontecimentos e tornam o mundo melhor.
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