terça-feira, 1 de março de 2011

Calem-se

Li esta semana num semanário nacional a estranha notícia de que “os sinais de que a intervenção do FMI em Portugal pode estar iminente avolumaram-se esta semana e são cada vez mais as vozes que consideram inevitável um pedido de ajuda externa. A Oposição está convencida de que José Sócrates não sobreviverá a tal intervenção mas, ainda assim, o líder do PSD resiste a apresentar uma moção de censura ao Governo. Passos Coelho, que já disse que «o eventual recurso ao FMI não pode deixar de ter consequências políticas», acredita que, no momento em que tal acontecer, Sócrates deixará de ter condições para continuar a liderar o país, sobretudo porque perderá a credibilidade externa. E, argumenta fonte próxima do líder social-democrata, «essa quebra de confiança só se resolverá com eleições». Sem querer abrir o jogo, Passos Coelho acredita que há outras vias, cuja iniciativa não depende exclusivamente do PSD, que podem ditar a saída de Sócrates e a antecipação de eleições. Para já, as expectativas estão todas voltadas para o Conselho Europeu de 24 de Março”.
Basicamente o que é preciso dizer é que a vinda do FMI ou de qualquer outra forma de apoio externo, tem responsabilidades e responsáveis, que devem ser identificados, denunciados e julgados pelo povo. Uma das primeiras exigências que o povo teria que fazer, nas ruas, era essa exigência, a de ver divulgada a verdade incluindo a explicação para fortunas acumuladas ao longo destes anos. Como é que o povo depois julga? Pelo voto e, se necessário for, se a impunidade, nessas circunstâncias se mantiver, com recurso a outros meios que obviamente tem ao seu dispor. Uma coisa é certa: os causadores desta situação não podem sair por cima, como se nada fosse com eles. Depois constata-se que há pessoas, particularmente políticos e banqueiros, que deveriam ter mais respeito pelos cidadãos e seriedade nas suas declarações, pois em vez de andarem apenas a empolar a importância do FMI na pretensa normalização das contas públicas (já agora, e excluindo os bancos que encheram as panças vazias por uma crise da qual eles foram os principais causadores, que outros resultados palpáveis concretos tem acontecido na Irlanda e sobretudo na Grécia, pese a presença do FMI e do fundo europeu de resgate?!) andam a esconder o outro lado (há sempre o reverso da medalha…) e a enganar as pessoas acerca do real impacto nos cidadãos e nas empresas dessa presença do FMI ignorando os aspectos negativos, e que socialmente terão impactos dramáticos, para valorizarem apenas as questões que se relacionam com a imposição das normalidade na gestão das contas públicas.
Basicamente o que querem os apologistas do FMI? Que o governo socialista de Lisboa seja envergonhado (e será que isso dá garantia de ser derrotado nas urnas?) independentemente do facto do povo ser obrigado a sofrer ainda mais restrições e privações com a execução de rigorosos planos de recuperação das contas públicas que terão que ser feitos à custa da redução da despesa e de sacrifícios generalizados? Mas de que serve tudo isso? Será que os apologistas do FMI acham chique, particularmente no alimentar das suas caganças individualistas e sectariamente nojentas, que basta “endireitar” as contas públicas e tudo se resolve? E a pobreza crescente? E os mais de 800 mil desempregados em Portugal? E os mais de 16 mil desempregados na Madeira? E os milhares de jovens licenciados que não encontram saídas profissionais? E as falências e os níveis de endividamento das empresas? E o endividamento das famílias a atingir valores dramaticamente preocupantes? E o poder de compra que tem sido reduzido a quase nada graças ao aumento da carga fiscal? Vai o FMI parir empregos com um estalar de dedos ou reduzir impostos de um dia para outro? Mas afinal estamos a falar de quê? Das queixas dos banqueiros e da banca que são hoje as instituições mais desavergonhadas, e as que mais lucram com a desgraça alheia e com a crise que provocaram, motivadas pela ganância do lucro fácil para os seus exigentes accionistas? Por acaso os baços julgam que não lhes está reservado nada se isto cair no caos? O que me confunde e intriga – sobretudo quando julgo que estamos entre gente séria – é que os apologistas do FMI escondam, o outro lado desta história deliberadamente mal contada, para enganar as pessoas, as exigências de rigor indiscriminado, dos sacrifícios que inevitavelmente terão que ser aplicados. Por acaso alguém acredita que a Madeira, por exemplo, tal como todas as regiões, mas cada um que se preocupe com a sua, não vai sofrer com a entrada do FMI, que não passará por dificuldades graves com consequências difíceis de imaginar? Alguém duvida que o Estado social, demagogicamente agitado por tantos, estoira no dia em que o FMI entrar neste país? Alguém duvida que isso vai gerar um choque que colocará em causa muita coisa e não apenas os vícios e as habilidades que, essas sim, deveriam ser combatidas internamente, sem ajuda externa, e não são? Por acaso já se esqueceram que a entrada do FMI não se limitará ao Continente, nem às empresas públicas falidas, mas abrangerá todo o país e que o principal problema das regiões autónomas é financeiro e orçamental? E que indirecta ou directamente o sector privado vai sofrer com essa política de rigor e de restrição que inevitavelmente será imposta ao nosso país, pois o FMI rege-se por objectivos e por calendários, não por discursos políticos idiotas nem habilidades que apenas servem para manter uma estrutura administrativa empolada, factos que poderiam ter sido resolvidos sem ajuda externa, mas que persistem porque servem para alimentar muita coisa? Já reflectiram seriamente sobre tudo isso?
O FMI, ou seja lá quem ver por aí dentro está-se borrifando para a gritaria política ou para as reivindicações sejam de quem for, pois limitar-se-á a aplicar programas rigorosos de controlo das contas públicas, assentes, inevitavelmente, na redução drástica de despesas públicas, em mais cortes dos salários, de benefícios sociais e outros, no emagrecimento forçado da estrutura do aparelho de Estado (e que tem que ser uma realidade no País e na região, pois é insuportável continuar com este modelo), no questionamento ou mesmo cancelamento de parcerias público-privadas as quais, montadas e aproveitando-se da falta de meios financeiros do Estado mais não são que actos de roubalheira descarada do erário público e dos contribuintes, etc. E depois? Todos aqueles que queriam o FMI porque é chique, emigram para viverem à custa do que roubaram? Não, o que o povo tem que exigir, se o FMI um dia entrar por aí é que sejam realizadas auditorias, recuando no tempo o que for necessário, para que se apurem responsabilidades e se não identifiquem todos os esquema se protagonistas da corrupção que tem delapidado o país, graças à corrupção e ao gamanço que contou sempre com cumplicidades e conivências que não podem passar impunemente ao lado de uma crise que eles próprios, todos deles, sem excepção, também geraram.
Por isso, se querem tanto o FMI, que ele venha. Paguem-lhe até viagem e estadia. Mas com o FMI, vamos também ajustar contas com o passado, nem que seja à força. Porque o povo pode sofrer temporariamente de memória curta. Mas haverá sempre alguém que a avive. E depois, caso as respostas não sejam dadas e a verdade denunciada, então no tempo próprio, nos lugares adequados e com as formas necessárias, certamente que os cidadãos saberão dizer bem alto que não são reféns de politiquices e de gente mesquinha e que recusam ser pessoas do tipo “come-e-cala”, como a maioria dos políticos portugueses julgam que eles são.

http://ultraperiferias.blogspot.com

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