sábado, 11 de outubro de 2008

Luís Calisto, Director, escreve aos leitores do Diário de Notícias

132.º aniversário: a força dos Leitores
15 anos depois, temos na página das Cartas do Leitor o ponto de encontro dos Madeirenses, o fórum por onde passa a vida regional.

Data: 11-10-2008

Uma imponente festa no Reid's com larguíssimas centenas de convidados celebrou a arrojada viragem do DIÁRIO em Julho de 1993: passagem do preto à cor e a um logótipo 'revolucionário' de grande impacte no cabeçalho que se tornaria depressa numa marca divulgadíssima, a par de um grafismo marca 'Mário Garcia' no corpo do jornal. O grande aparato que as mudanças vanguardistas num jornal então com 117 anos de existência provocaram na Região deixou passar quase despercebida a entrada na equipa editorial do DIÁRIO de Notícias de um reforço assaz precioso: o Leitor. Foi nessa primeira edição a cores de 10 de Julho de 1993, há 15 anos, que surgiu uma secção intitulada 'Cartas do Leitor', para publicação diária.

Seguiu-se que o sentido cívico e o impulso de intervenção dos Leitores rapidamente moldaram essa secção à idiossincrasia do meio insular. Normalmente, as cartas dirigidas aos diversos órgãos de imprensa destinam-se a chamar a atenção do director para aspectos da linha editorial, para a necessidade de abordar diversos temas, para o grau de acutilância a aplicar, ou a endereçar ao jornalista uma opinião sobre o trabalho publicado. Mas, no caso, os Leitores depressa extravasaram o espírito tradicional de carta para abrirem um campo de participação social, de denúncia, debate, esclarecimento, ataque e defesa, luta de causas - preservação do ambiente, direitos da mulher e da criança, protecção dos animais - ou simples troca de informações. Assim, 15 anos depois, temos na página das Cartas do Leitor o ponto de encontro dos Madeirenses, o fórum por onde passa a vida regional, em todas as suas vicissitudes. Tudo em espírito de equipa com os profissionais que dão corpo ao jornal inteiro. Porque os Leitores que passaram da 'bancada' ao 'balneário' e ao 'terreno de jogo' percebem melhor o campo minado em que se desenvolve o jornalismo nesta terra. Têm sido públicas as tentativas para eliminar esse espaço de cidadania que são as Cartas. A que já se chamou divã psiquiátrico. Quintal dos ressabiados. Acusações próprias dos que querem manter tudo como está, a paz podre alicerçada no comodismo dos instalados nas suas quintas. Posição própria dos que estão habituados a acusar, enxovalhar, denegrir, humilhar para logo reagirem covardemente no papel de mártires quando surge a resposta devida - porque ela surge sempre, mais cedo ou mais tarde. O certo é que as Cartas do Leitor são hoje um cartão de visita quando o cidadão precisa de fazer valer os seus direitos na vida quotidiana. Todos sabem que, no campo da cidadania, há um lugar de denúncia e desabafo, o que ajuda a esvaziar arrogâncias, injustiças, abusos de poder, manias de impunidade, má educação. Não há mais a fatalidade de 'ouvir e calar'. Com os seus excessos e ímpetos, aspectos a corrigir, as Cartas aí estão na sala de convívio dos Madeirenses, a servir de tema de conversas e a provocar a agilização de procedimentos.

O Leitor é hoje mais do que o 12.º jogador desta equipa que dá corpo a um projecto jornalístico apostado na independência, o que faz espécie a muita gente. Tiques do passado levam espectros de distintos quadrantes a não entenderem por que raio passou a existir um jornal fora da alçada das 'uniões nacionais' e respectivas comissões distritais e concelhias. Os Leitores já se aperceberam do esquisito que é para determinadas 'brigadas do reumático' existir um jornal posicionado num plano eminentemente jornalístico, desenquadrado dos jogos políticos e perfeitamente alheio à coacção do velho 'por mim ou contra mim', 'por aquele ou contra aquele'. É inutilmente que, há mais de 30 anos, esses insistem em atrair o jornal para a arena política.

O DIÁRIO comemora o seu 132.º aniversário numa fase bem difícil, em que a sobrevivência passou a ser uma das prioridades do dia-a-dia. É mais do que conhecida a estratégia engendrada pelo Governo Regional numa onda galopante para a destruição do projecto nascido a 11 de Outubro de 1876. Nas décadas de oitenta e noventa, foram os cortes de publicidade e de assinaturas, os subsídios astronómicos à concorrência para fragilizar o DIÁRIO no mercado, os apelos aos anunciantes para que não fizessem publicidade nestas páginas. Nos últimos tempos, aproveitando as dificuldades globalizantes que afectam os jornais em papel, foi a passagem a gratuito do jornal pertença do governo, situação aberrante agravada com um 'dumping' inédito no capítulo da publicidade. Uma asfixia inqualificável aos jornais que lutam para sobreviver no mercado, com reflexos significativos na maior nau. Uma ameaça real para centenas de famílias, não o podemos negar. Acontece que o DIÁRIO tem mais de uma centena de milhares de leitores que se, por um lado, não permitiriam qualquer desvio na linha editorial do jornal, também estão ao lado dos profissionais da casa na luta por uma informação séria, isenta e militante do jornalismo. Mau grado os erros que cometemos, decerto involuntariamente, porque estamos distantes da perfeição, temos o 'reforço' assumido há 15 anos a integrar a 'turbina informativa' dos nossos meios - jornal, rádio e on- line.

Nesse Julho de 1993, o administrador garantiu na apresentação da nova imagem: "Vamos continuar a dar corpo ao que estipula o nosso estatuto editorial - uma informação objectiva, independente e responsável." A equipa continua com essa mensagem presente. E, nos festejos de 132 anos, parabéns aos profissionais da casa e aos nossos redactores da página ao lado, pela coragem de uns e de outros.

Lido aqui.

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