Embaixada inglesa envolvida no lóbi
por CARLOS RODRIGUES LIMA Hoje
Relatório de advogados ingleses, a que o DN teve acesso, refere expressamente acções de lóbi político para aprovar o projecto. A fronteira com o tráfico de influências é a questão-chave.
A aprovação do Freeport de Alcochete não passava só por questões técnico-ambientais, mas também por "lóbi político". A conclusão é dos advogados da Decherts, sociedade inglesa que investigou todos as alegações de Charles Smtih no DVD em que refere José Sócrates. A investigação inglesa cita uma nota escrita pelo gestor do Freeport Rick Dattani para o ex-presidente da administração Sean Collidge, de Novembro de 2001, em que é dito que "o lóbi político a favor do projecto melhorou em Lisboa após o seu [Sean Collidge] encontro com a embaixadora".
Na mesma nota, que consta do relatório final da Decherts a que o DN teve acesso, Dattani sugeriu a Sean Collidge uma lista de pessoas para a embaixadora Glynne Evans contactar, no sentido de "aplicar maior pressão sobre a comissão". Refere-se à comissão de estudo de impacte ambiental que estava a analisar o projecto. Entre os nomes sugeridos estavam: Rui Nobre Gonçalves, secretário de Estado, que "parece estar a favor do projecto", e Pedro Silva Pereira, também secretário de Estado de José Sócrates, que, segundo Dattani, estaria "contra o projecto e a pressionar a comissão para impor mais restrições".
Quanto a José Sócrates, o gestor da Freeport afirma que a empresa foi "aconselhada pela embaixada britânica a não contactar directamente o senhor Sócrates". Já a embaixadora britânica nunca o conseguiu fazer.
Noutra nota citada pelos advogados, Dattani - referindo-se a um alegado pedido de cerca de dois milhões de libras feito por advogados portugueses (tal como o DN já revelou), em Dezembro de 2001, 48 horas antes de um segundo chumbo ao projecto por José Sócrates - refere que "o pagamento não teria sido de utilidade e a decisão não teria sido revertida". "O ministro do Ambiente é considerado com um dos pilares do Governo PS e a essência de integridade", acrescentou. No memorando, aconselha a que se percebam as razões técnicas do chumbo e revertê-las.
A palavra lóbi é muito usada no relatório. Baseando-se em depoimentos, recordam que a Smith & Pedro fez chegar aos ingleses a informação de que "Portugal é um país onde é importante ter os contactos certos". Para o Freeport, os sócios Smith e Pedro estavam bem relacionados. "Em vários documentos da Freeport, Smith & Pedro são descritos como lobistas." E esta parece ser a chave do processo: a fronteira entre o lóbi e o crime de tráfico de influências.
Nenhum comentário:
Postar um comentário