sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Horácio vai continuar a ajudar, Alberto João Jardim

Portugal perdeu fisicamente o Comendador Horácio Roque.
Perdeu, porque a presença física de Horácio Roque, na vida nacional, era sempre uma voz independente, respeitada e inteligente na avaliação dos rumos do País, e era garantia de criatividade e de iniciativa constantes, num Portugal que tanto precisa de tudo isto, como de pão para a bôca.
Horácio Roque, no seu percurso de vida, com a honestidade absoluta que colocava em todos os seus actos e decisões, mas a par sempre guiado pela preocupação com a solidariedade e com a Justiça Social, desmentiu muitos preconceitos que são indistintamente alimentados contra os Empresários e que constituem uma tragédia nacional.
A sua Fundação que colocou ao serviço dos Portugueses, derramou e derrama uma significativa quantidade de apoios, nos mais diversos sectores de actividade.
Sem ser um Empresário empedernido, antes um Homem com profundos Valores e sentimentos, no entanto caracterizava-se por uma prudência assente no racional.
À medida que o “império” que legitimamente fundou, construiu e desenvolveu, ia crescendo com sucesso, nunca se deixou deslumbrar. Nunca se pôs socialmente em “bicos dos pés”, nem se deixou arrastar por aventureirismos financeiros que sabia serem irresponsáveis, inclusivamente pelas consequências nefastas que causariam aos Portugueses.
Tinha a noção de até onde poderia ir, sabia calendarizar os passos a dar, com uma extraordinária e invulgar sagacidade.
E quando o conceito de Amizade anda por aí tão depreciado, ao sabor de egoísmos e de conveniências, Ele, em quaisquer circunstâncias, foi sempre amigo do seu amigo, mas inteligentemente precavido contra oportunismos.
Conheci Horácio Roque logo nos primórdios dos anos oitenta, na África do Sul.
Porque, como poucos, sabia reagir eficazmente às adversidades, estava então já em grande plano de recuperação económico-financeira, apesar do que a situação em Angola bastante O lesara.
Nessa altura, a minha preocupação era a de interessar os nossos compatriotas no novo Portugal da Democracia, sobretudo na Madeira também da Autonomia Política.
Fazer ver que os tempos ruins do antes e post-25 de Abril eram passados, que já não havia motivos para as razões legítimas que tinham em relação à Pátria madrasta, que todos nós também precisávamos Deles.
Não Lhes fiz promessas. Insisti para que viessem ver, e decidissem.
Horácio Roque foi dos primeiros a entender tudo e a responder à chamada. Sentia-se-Lhe uma vontade enorme de ajudar no novo Portugal, na Madeira Nova, sentia-se-Lhe na alma, o ímpeto patriótico.
Depois, o tanto que Ele fez por Portugal!
O tanto que Ele fez pela Madeira!
Quantas vezes, sempre seguro nas suas decisões económicas e financeiras, ajudou a Região Autónoma a ultrapassar momentos bem complicados!
Manteve o BANIF com sede na Região Autónoma, pelo que é o Banco cujos impostos revertem para o Orçamento regional, o orçamento anual do Povo Madeirense.
Bem como recuperou, cá, Empresas importantes que, sem a sua intervenção, não sei o que teria sucedido. Para além dos novos investimentos que titulou, ou desencadeou, ou apoiou, numa confiança permanente no futuro da Madeira.
Manteve o “Século de Joanesburgo” como voz de Portugal na África do Sul, e até noutros países, onde quis que a minha colaboração semanal permitisse informar os meus pontos de vista. E continuá-la-ei, enquanto os respectivos responsáveis assim o quiserem.
Comecei estas linhas dizendo que Portugal “perdeu fisicamente” Horácio Roque.
Só fisicamente.
Porque todo o seu Património, a começar pelo Ético e o dos Valores, a acabar no material, está aí sólido para continuar a Sua presença entre nós.
Também só fisicamente perdi o Amigo. Porque onde Ele merecidamente está, vai arranjar maneira de me continuar a ajudar.
E segunda-feira, na Sé, vou rezar com Ele.

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