terça-feira, 12 de agosto de 2008

O USO DA PREPOSIÇÃO "DE" NO NOME DAS RUAS E LOCALIDADES



Transcrevo parte de um interessante documento lido em passos da calçada.

A QUESTÃO DA PREPOSIÇÃO DE



A preposição de ou a sua contracção com o artigo definido – do, da, dos, das – podem alterar radicalmente o significado de um topónimo. Esta preposição indica a posse, a qualidade, a situação topográfica, etc. Nos topónimos antigos, verifica-se uma correlação com pessoas (Rua dos Netos – inicialmente Rua do Neto ou seja de João Rodrigues Neto –, Lombo do Atouguia, Pico dos Frias, Achada do Gramacho), estabelecimentos ou instituições (Rua dos Moinhos, Rua da Alfândega, Serra de Água), factos notáveis (Rua da Queimada, Ribeira dos Acorridos e, depois, Ribeira dos Socorridos), acidentes ou circunstâncias especiais (Rua do Ribeirinho, Rua do Poço Novo, Pico do Funcho, Fonte da Areia, Moledos, Ribeira da Janela).



De facto, não significa o mesmo dizer Lombo Galego ou Lombo do Galego, Porto Moniz ou Porto do Moniz, Palheiro Ferreiro ou Palheiro do Ferreiro, Ponta de Sol ou Ponta do Sol, Pico de Barcelos ou Pico dos Barcelos. Em todos estes exemplos, a segunda forma é a correcta.



Por ser um caso irremediavelmente perdido, julgo que nem vale já a pena insistir na omissão da preposição nos nomes de ruas que, na sua quase totalidade, se escrevem sem o de (Vasconcelos, 1926: 368-369). Por exemplo: Rua Dr. Fernão de Ornelas, Rua Pedro José de Ornelas. Mas a supressão da preposição não se verifica, por exemplo, em Rua de João de Tavira, Rua do Esmeraldo (ou, melhor, Rua de João Esmeraldo), Rua de Santa Maria, Rua da Conceição ou nas já desaparecidas Rua de Álvaro Matoso, Rua de João da Castanheira e Rua de Pêro Eanes da cidade do Funchal (Aragão, 1987: 61; Costa, 1995: 220).



Ainda que, nalguns casos, os letreiros ostentem a preposição de, a tendência da linguagem oral e escrita, desde já há alguns anos, vai no sentido da sua eliminação, em consequência da progressiva propensão para a abreviação e do irresistível tecnicismo. Registe-se ainda que alguns instrumentos importantes para consulta de endereços, caso das listas telefónicas e do código postal, optaram pela supressão da preposição de, influenciando, por conseguinte, os mais incautos, principalmente na redacção de endereços. Desta prática, resultam designações desprovidas de nexo, como, por exemplo, Rua Bispo ou Beco Pintor, que se devem evitar.



As Câmaras Municipais têm também muitas responsabilidades nas alterações ou, melhor, deturpações da toponímia, designadamente pelo facto de os letreiros das vias públicas influenciarem os cidadãos na reprodução dos respectivos nomes. Um letreiro deficientemente escrito induz, logicamente, no erro.

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