quinta-feira, 5 de março de 2009

Os partidos não são clubes, mais do que amor à camisola, há a defesa de um projecto



A publicação que aqui coloco da intervenção do Rui Caetano no Congresso do PS suscita-me o seguinte comentário.
No meu tempo, já posso usar, por questões de idade, esta expressão, embora ela não se me cole ao meu espírito, aliás, há um velho careca e gordo, que, todas as manhãs, entra ao mesmo tempo que eu no elevador da escola onde trabalha, costumo vê-lo de soslaio ao espelho, mas, sinceramente, não sei quem é, falava-se, no meu tempo, no amor à camisola, aquela mística clubística que nos cegava e nos impedia de ver os erros do árbitro a favor do nosso clube. Costuma dizer-se que se muda de carro, de partido e de mulher mas não se muda de clube. Nasci do União e do Porto, e, quanto a isso, não mudo. Agora, quanto aos partidos, percebe-se a expressão metafórica do “amor à camisola”, acontece que o amor à camisola não faz parte das coisas lógicas, racionalmente explicáveis. Já a militância partidária tem a ver com a identificação com um projecto. No combate pela vitória desse projecto, temos o direito e o dever de exigir condições políticas. E quando vemos pessoas, às vezes sistematicamente as mesmas, ficarem com os lugares para os usar em proveito próprio, temos o direito e o dever de dizer basta.
Em todos os partidos, e no caso o PS, mais concretamente o PS-Madeira, há pessoas que lutam para integrarem os órgãos do partido – secretariados, comissões políticas, comissão regional, comissão política nacional – e, tal como entraram, saíram – mudos e calados. E no parlamento regional e nacional, o que é mais grave, a mesma coisa. E, mais grave ainda, vêem muitas vezes serem-lhes renovados o seu mandato, sem terem desenvolvido nenhum trabalho político, dado nenhum contributo para a causa socialista, neste caso. E vêem falar, indevidamente, de “amor à camisola”. Exige-se-lhes que se afastem. Um socialista tem o direito a exigir, quando tem algo para dar, quando já deu, e quando sabe que pode contribuir para o triunfo das ideias, quanto está ao serviço de uma causa, que é como quem diz ao serviço do Povo. Senão, não… vão mas é dar uma volta a ver se eu estou na esquina.
No caso do meu camarada Rui Caetano, a sua passagem pelos órgãos nacionais do partido, a nível nacional e regional, tem sido profícua e justificada. Outros não poderão dizer o mesmo.
No meu caso, que ninguém tenha a ousadia de me vir dar lições de “amor à camisola”, seja lá isso o que for – o meu desapego aos lugares às vezes tem sido um erro – e tem dado passagem a oportunistas que vão para lá para estarem literal e literariamente sentados: deles, não se sabe o que pensam, quais são as suas ideias, as suas concordâncias e discordâncias. Este, aliás, é um país e uma região de sentados, estão lá mas nada fazem. E é por isso que os partidos, a região e o País estão como estão.

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