Lido aqui.
Pe. Martins Júnior
Deus, políticos e mações
Data: 09-03-2009
Foi um marco notável, em vésperas do tempo quaresmal, aquele encontro no Porto onde o Prof. Dr. Anselmo Borges reuniu personalidades das mais diversas orientações ideo-religiosas para discutir o seu novo livro "Janela do (In)Finito", na sequência de um outro "Janela do (In)Visível" sobre novas perspectivas de aprofundamento do fenómeno religioso. Aliás, Anselmo Borges, catedrático de Filosofia na Universidade de Coimbra, tem o condão de sentar à mesma mesa as várias antinomias e respectivos fautores de sinal contrário, tal como anteriormente sucedera em idêntico encontro sobre a colectânea "Deus no século XXI", em que lado a lado contracenaram o bispo Manuel Clemente, a islâmica Dra. Faranaz Keshavjee (aquela que dizia o "meu Cristo muçulmano") e o Dr. Guilherme de Oliveira Martins, actual presidente do Tribunal de Contas.
Estes encontros e esta intuição do padre e professor Anselmo Borges têm hoje a mesma dimensão de Paulo Apóstolo que há dois mil anos rompeu as muralhas do então mundo judaico-cristão para alçar as ideias do Cristo até à acrópole do pensamento grego, quando se dirigiu aos filósofos epicuristas e estóicos em pleno areópago de Atenas.
Reportando-me ao debate-apresentação da "Janela do (In)Finito", foi surpreendente o friso dos convidados: Paulo Rangel, líder parlamentar do PSD na AR, Maria de Belém, deputada socialista e ex-ministra da Saúde, e António Reis, professor catedrático e Grão-Mestre da loja maçónica "Grande Oriente Lusitano".
Após a clarificação do fenómeno religioso que, segundo o autor, preexiste ontologicamente e existencialmente à própria concepção de Deus, as intervenções dos convidados ampliaram, cada qual com a sua ressonância, os caminhos que, da janela da vida, vão e vêm entre o finito e o infinito, entre o visível e o invisível.
Recorto especialmente, mas de forma sucinta, as duas orientações, a um tempo contraditórias e complementares, que estiveram sobre a mesa: para o Prof. António Reis, o primado da ética universal é suficiente para responder a toda a problemática do homem-em-situação. Para Paulo Rangel, é preciso ir mais além, é necessária a religião. Porque a ética, o direito, o tribunal não exigem o perdão. A religião, sim, implica o sentido do perdão. E deu um exemplo que pôs em silêncio toda a sala. "Sou insuspeito nesta matéria e por isso posso afirmá-lo claramente: quem deu um exemplo disto que acabo de dizer foi o Dr. Mário Soares quando defendeu no pós-25 de Abril não um ajuste-de-contas com o passado mas um abrir de portas para os horizontes do futuro em liberdade".
Uma fonte inesgotável de inspiração, um abraço entre as religiões, eis a obra do Prof. Anselmo Borges com as suas incógnitas, que são comuns a todos nós: "O Homem: criado à imagem de Deus ?... Darwin contra Deus, Deus contra Darwin?... A Religião ainda tem futuro?... Deus contra Deus?... Religião e religiões: para onde vamos?... Diálogo inter-religioso numa só direcção?..."
Vale a pena assomar à "Janela do (In)Finito" de um novo Paulo de Tarso chamado Anselmo Borges.
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