sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Rússia apoia Quebeque livre (onde também se fala de Fernando Rosas)

Lido no Público


António Vilarigues

Qual seria a reacção dos EUA se a Rússia instalasse um sistema ABM em Cuba ou no México?

1. Em reunião realizada no passado dia 3 de Setembro, na cidade de Montreal, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, manifestou o seu apoio a um Quebeque livre. O primeiro-ministro desta província independentista do Canadá, o liberal Jean Charest, agradeceu as palavras do seu homólogo da Rússia. Ambos recordaram, perante centenas de jornalistas de todo o mundo, a célebre frase pronunciada nessa mesma cidade a 24 de Julho de 1967 pelo então Presidente da República da França, Charles de Gaulle: "Vive le Québec libre!".
No decorrer das negociações entre as duas delegações ficou acordado que a Rússia instalaria no Quebeque um sistema antimísseis de longo alcance. O objectivo é proteger os aliados da Rússia na América do Norte e na América Latina contra os mísseis de longo alcance quer do Irão, quer da República Democrática Popular da Coreia (Norte). Foram reforçadas significativamente as ligações políticas, económicas, culturais e militares.
Em simultâneo, o subcomandante Marcos, líder do movimento independentista de Chiapas, no México, era recebido em Moscovo pelo presidente Dmitri Medvedev. Além de ter garantido o apoio às suas pretensões de independência, o subcomandante Marcos obteve a promessa de instalação, nesta província mexicana, de um poderoso radar que se articulará com o sistema antimíssil a instalar no Quebeque. Foram igualmente assinados importantes acordos económicos e militares.
Todos estes líderes políticos reafirmaram que estas decisões não atentam contra os interesses dos Estados Unidos.
Face a estes acontecimentos, George W. Bush convocou de emergência para a próxima segunda-feira, dia 8, uma cimeira com o presidente do México e com o primeiro-ministro do Canadá, respectivamente Felipe Calderón e Stephen Harper.
Em simultâneo, a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, apresentou um enérgico protesto dos EUA. Segundo afirmou, estes acordos, nomeadamente na sua parte militar, traduzem-se numa violação descarada e grosseira quer dos tratados SALT (Strategic Arms Limitation Talks) I e II, quer dos acordos ABM (Antiballistic Missile) assinados com a então URSS. Os Estados Unidos vão reunir-se com os seus aliados e darão a devida resposta a estas provocações, disse.
Entretanto, os Presidentes de Cuba, Raul Castro, e da Venezuela, Hugo Chávez, manifestaram-se disponíveis para mediar as partes em confronto.
É claro, caro leitor, que estamos perante um cenário político de ficção. Mas estaremos mesmo? Qual seria a reacção da administração norte-americana se a Rússia, com pretextos tão falaciosos como os dos EUA em relação à Polónia e à República Checa, instalasse um sistema ABM em Cuba, ou no México, ou na Jamaica, ou...?
2. É curioso como certos historiadores, quando falam de si próprios, transformam a história em estória.
Em 5 de Dezembro de 2006, escrevi nesta mesma coluna: "Por ocasião da morte de Álvaro Cunhal, p. ex., assisti, estupefacto, a um [ex-comunista] a afirmar perante as câmaras da televisão que tinha abandonado o PCP em 1969 por divergências sobre a situação na Checoslováquia. Só que a realidade foi outra. Expulso em 1964 [de facto foi em 1965], cinco anos antes, por questões que nada tiveram a ver com
a ideologia."
Anos antes tinha sido apresentada outra versão da estória num tempo de antena eleitoral. Agora, a propósito de 1968 na Checoslováquia, li uma terceira versão. Está visto que os vindouros terão dificuldades em destrinçar onde está a verdade e a inverdade...
Fernando Rosas, porque é dele que se trata, tem todo o direito de não contar a história toda. Não tem é o direito de contar estórias. Até por respeito para consigo próprio.
Uma nota final e declaração de interesses: para mim é claro que a URSS foi dissolvida em 31 de Dezembro de 1991. Que em seu lugar nasceram vários países. E que a Rússia é um país capitalista que não aceita o seu afastamento da nova partilha internacional do mundo. Especialista em Sistemas de Comunicação e Informação

Nenhum comentário: